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Fotografia: Luigi Beverelli
Publicado a: 02/04/2020

O pianista era o patriarca de uma das famílias mais célebres do jazz.

Ellis Marsalis morre aos 85 anos

Fotografia: Luigi Beverelli
Publicado a: 02/04/2020
Morreu Ellis Marsalis, nome grande do jazz de Nova Orleães e pai de ícones tão iguais ou superiores como Wynton, Branford, Delfeayo e Jason Marsalis. O músico tinha 85 anos e foi vítima da COVID-19, doença que não pára de ceifar vidas a nível global. Em comunicado, a governadora da sua cidade natal descreveu Ellis como “uma lenda, o protótipo daquilo a que nos referimos quando falamos do jazz de Nova Orleães”. Pianista jazz e professor de música, Ellis Louis Marsalis Jr. nasceu em Nova Orleães, Louisiana, no dia 14 de Novembro de 1934. Começou a tocar clarinete com apenas 11 anos, na Xavier University. A vontade de abraçar o rhythm and blues, estilo muito popular na altura, levou-o a aprender saxofone, mas rapidamente trocaria o instrumento metalizado pelas teclas do piano com que se notabilizou. Nos anos 50 e 60, trabalhou com nomes como Ed Blackwell, Cannonball Adderley, Nat Adderley e Al Hirt. Em 1974, integrou a equipa do Centro de Artes Criativas de Nova Orleães (NOCCA), onde leccionou nos doze anos que se seguiram, influenciando a carreira de inúmeros músicos, incluindo o pianista Harry Connick Jr, o saxofonista Donald Harrison, e o trompetista Terence Blanchard, músico de renome que integrou a Lionel Hampton Orchestra e o grupo Art Blakey and the Jazz Messengers. A este rol somam-se as aulas aos seus próprios filhos, que construiriam carreiras sólidas no universo jazz. Ashley Henry, um dos nomes da vertente contemporânea do género, autor do magnífico Beautiful Vinyl Hunter e pianista de digressão de Christine and the Queens, chegou a tocar com Jason Marsalis e Terence Blanchard. Entende-se aqui as ramificações da árvore pedagógica semeada por Ellis. Com uma extensa quantidade de material gravado, dividido entre liderança de banda e trabalho em plano secundário para outros artistas — alguns deles autênticos monstros da esfera da improvisação —Ellis Marsalis foi uma importantíssima bússola para as carreiras musicais de Wynton (trompetista, o primeiro artista jazz de sempre a ganhar um prémio Pulitzer), Branford (saxofonista, cujo currículo vai de Miles Davis e Dizzy Gillepsie a Sting e Public Enemy, tendo colocado a sua melodia no clássico “Fight the Power”), Jason (baterista, membro do Marcus Roberts Trio) e Delfeayo (trombonista que, entre outros, colecciona trabalhos com o trompetista Irvin Mayfield). Em declarações após a sua morte, Branford afirmou: “o meu pai era um gigantesco músico e um professor, mas sobretudo um grande pai. Ele deu tudo o que tinha para nos tornar no melhor que podíamos ser. O meu amigo e professor de Direito de Havard, David Wilkins, acabou de me enviar a seguinte mensagem: ‘todos nós nos podemos maravilhar com a pura audácia de um homem que acreditava que poderia ensinar os seus meninos negros a serem excelentes num mundo que negava essa mesma possibilidade, redefinindo o conceito de excelência para sempre’”, cita. Na sua página de Facebook, Wynton Marsalis também partilhou sentidas palavras. “Ele era a minha estrela polar e a única opinião que realmente importava era a dele, porque cresci a ver o quanto ele lutava e se sacrificava para representar e ensinar valores humanos vitais que flutuavam muito acima da segregação e preconceito sufocantes que definiam a sua juventude”, sublinha. Um ícone em vários quadrantes, portanto. Descanse em paz.

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