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Fotografia: Luís Pissarro
Publicado a: 02/10/2023

Tão histórico quanto caricato.

Echo & The Bunnymen na Aula Magna: Lisboa, I’m ready for my close-up

Fotografia: Luís Pissarro
Publicado a: 02/10/2023

O espelho. Arma de confronto. Eternamente jovens — o desejo permanente. A realidade reflectida raramente corresponde. Imortalizado no cinema como dispositivo de fuga, “misantropia enloquecida” como em tempos alguém tão bem caracterizou a última cena de A Dama de Xangai. Em memória viva a frase de Rita Hayworth — “I don’t want to die”. Na última cena de O Crepúsculo dos Deuses — “Mr. Demille, I’m ready for my close-up” e a inevitabilidade de um fim na voz de Gloria Swanson. Todos o adivinhávamos, menos a(os) própria(os).

O cenário preparado para a descida de escadas de Echo & The Bunnymen. A sumptuosidade da Aula Magna, a legião de fãs incondicionais da banda de Liverpool que praticamente esgotava a sala e os fotógrafos perfilados na primeira fila, afastada, tão característica nestes concertos. Jamais saberemos o que atormenta a cabeça de Ian McCulloch, vocalista e figura carismática do grupo. Talvez Mat, o infatigável roadie constantemente a seu lado, o possa decifrar. Mas cremos que nem ele. Apostaríamos no fundo do copo. Aí repousam as amarguras individuais e de um tempo que decididamente já foi. Exercício sempre arriscado, desenhar uma tour e esperar que o fulgor dos momentos primordiais continue a fazer sentido. Raramente assim é. “Celebrating 40 Years of Magical Songs” amplifica magnitude histórica. Uma encruzilhada entre o passado e o presente real. A merda de um impasse. Os temas mais conhecidos em contraponto com os que dariam uma certa legitimidade clandestina ao respectivo percurso. Talvez o caminho pudesse ter sido outro. Em palavras ajuizadas de pessoa bem curtida nestas andanças, o Zeca dos Vinis: “As bandas têm sempre duas mãos — a que prefere a autoestrada e a outra, dos caminhos secundários. Escolhendo uma, não há retorno.” E presos ficaram a canções como “The Killing Moon“, tocada no final, e “Lips Like Sugar“, como encore. Sempre as mais aplaudidas, as que dão vontade a uns quantos de se levantarem das cadeiras para, em gestos contidos, ensaiarem uns passos de dança. A noite começara com “Going Up“, “Rescue“, “All That Jazz“, “Flowers“. Pelo meio “Nothing Lasts Forever” a atenceder a versão de “Walk On The Wild Side“. A contradição contida neste momento. Gestos erráticos de Ian McCulloch, luzes empobrecedoras e um som de qualidade pior que sofrível derretem um quadro já pouco nítido desde o início. Alguns apontamentos caricatos, com Mat, o roadie, a emular em palco o “Travolta Confuso“, na dúvida entre pousar o copo na mesinha ou entrega-lo em mão. A sequência bizarra da toalha, sem se perceber o que Ian McCulloch dizia, nunca foi audível durante toda a noite, nem muito menos o que pretendia. Acabou com um pontapé frouxo e a toalha, ironia do destino, atirada para cadeira vazia, nas doutorais.


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