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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 28/11/2019

O mais recente EP de Anthoney Hart tem o carimbo da Padre Himalaya.

East Man sobre Eastern Code: “A abordagem que eu tinha em mente era muito similar à que se usava no início do grime”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 28/11/2019

Foi no passado dia 15 de Novembro que East Man carimbou o seu primeiro EP pela Padre Himalaya. Eastern Code está disponível em vinil de 12” e contém quatro faixas orientadas pela metodologia associada à entrada do grime em cena e combinada com influências vindas do techno ou do dancehall.

A operar sob os campos da música electrónica, Anthoney Hart é um verdadeiro historiador da cena underground londrina. Natural de Hastings, zona situada a sul da capital britânica, o seu percurso enquanto artista tem sido trilhado de mão dada com o importante papel que desempenha para a comunidade, tendo estado envolvido no surgimento de algumas rádios pirata ainda na década de 90, veículos de informação preciosos na fase de surgimento de sub-culturas como o grime ou o drum’n’bass. Actualmente é convidado regular da NTS Radio, espaço onde recentemente foi figura de destaque: o veterano JME escolheu um par de batidas suas como base para uma sessão de rimas ao vivo. Depois de ter criado música sob diferentes pseudónimos, que agora aponta como “incoerente”, o produtor passou a focar-se apenas nos projectos em que assina como Basic Rhythm e East Man, ambos resultados da presente década. Passou por editoras de forte culto entre a cena electrónica mais alternativa, como a Type Recordings ou a Planet Mu, e criou ainda o seu próprio selo no ano passado, a Hi Tek Sounds. O Rimas e Batidas esteve à conversa com Anthoney Hart sobre o seu novo trabalho, que tem o carimbo da Padre Himalaya, editora criada por João Silvestre, produtor que tem desenhado uma nova ligação entre Lisboa e Londres.

Tenho estado a percorrer o teu trajecto nos últimos dias, mesmo em projectos como o Basic Rhythm. O que é que te fez começar do zero, agora sob o pseudónimo East Man?

Tenho trabalhado sobre diferentes nomes ao longo dos anos. Comecei como DJ numa rádio pirata no final dos 90s mas o meu trabalho foi um pouco incoerente, tentei diferentes géneros, estilos, etc. Eventualmente formaram-se dois projectos sólidos, cada um deles com o seu próprio estilo e som, distintos, e então eu decidi começar de novo e apresentar estes dois projectos — Basic Rhythm e East Man, duas entidades completamente distintas. Foi uma forma de começar do zero, deixando todos os trabalhos anteriores para trás e começando com uma identidade muito sólida para ambos os projectos que se seguiram.

Quais foram as tuas influências para este projecto enquanto East Man?

East Man é o destilar de algumas influências nucleares que eu tenho vindo a ter em atenção ao longo dos anos, até que finalmente se juntaram de forma coesa neste projecto. A influência mais óbvia é o grime primordial, quando era mais selvagem e experimental, menos conformado a um esquema como acontece hoje. Há também uma grande influência do techno, de artistas como Sleeparchive e Pan Sonic, bem como do drum’n’bass, especificamente na sua fase final dos 90s, e uma grande influência do dancehall, maioritariamente o que surgiu no período entre o final dos 90s e inícios de 2000. Há ainda uma tentativa de representar a voz da classe trabalhadora, a sua identidade, de alguma forma, de falar sobre raças e estratos sociais. É o representar daquele lado de Londres e do Reino Unido em que tudo está a ser dominado pelas classes médias, especialmente no campo das artes.

O teu álbum de estreia chegou-nos em 2018 por intermédio da Planet Mu. Como se deu a ligação a essa label de culto e o que significou para ti veres o teu trabalho ao lado de nomes como Burial, Jlin, µ-Ziq, RP Boo ou Benga?

Para te ser sincero, o único que eu ouço dessa lista que mencionaste é o RP Boo. Na verdade ele até remisturou uma das faixas do meu último EP enquanto Basic Rhythm. A ideia de enviar algumas músicas para a Planet Mu foi-me inicialmente sugerida pelo Four Tet. Ele disse que eu devia passar temas de Basic Rhythm para o Mike. Na altura em que eu cheguei ao contacto com o Mike, no entanto, tinha acabado de editar o segundo LP de Basic Rhythm na Type Recordings mas estava também a começar a trabalhar naquilo que se viria a tornar no primeiro LP de East Man e o Mike ficou interessado na ideia. Começámos a trabalhar primeiramente nisso. Obviamente eu fiquei entusiasmado por editar pela Planet Mu, até porque eu sou adepto de alguns dos discos que eles têm editado ao longo dos anos, como as cenas dos Vex’D.

Recentemente lançaste o teu novo EP pela Padre Himalaya, uma editora que estabelece a ponte entre a cena electrónica portuguesa e britânica. Já seguias o trabalho deles? Como é que acabaram por unir esforços neste trabalho?

Na verdade eu nunca tinha ouvido falar deles até o João me ter enviado um e-mail a propor editar alguma coisa pela label. Mas ele pareceu-me tão determinado e, acima de tudo, boa pessoa, algo que é muito importante quando tu vais trabalhar com uma editora. Estou entusiasmado com a ligação a Portugal e espero que isso me permita actuar aí, a certo ponto. Há muita música boa a surgir daí neste momento, como as cenas da Príncipe — P.Adrix, Niagara ou DJ Nigga Fox, por exemplo. Adorava levar o meu som até Portugal.

Chamaste Eastern Code ao EP. O que está por detrás deste título?

É um tributo. “Eastern Code” é o título de uma canção do Augustus Pablo. Também representa o vernáculo, o calão e o dialecto que as pessoas da zona este de Londres utilizam para comunicar. Mas o EP é também um acenar ao sul de Londres, com o lado A a representar a zona este e o lado B a representar a zona sul. A faixa “Bandit Country” adopta a alcunha local que se dá a Bermondsey, no sul de Londres.

De que forma esculpiste estes temas?

Eu tendo a não falar desse lado da produção. Para te ser honesto, acho isso aborrecido de se falar e de ler. Mas trabalho sempre num DAW, com VST’s combinados com samples e gravações de microfone.

Mal ouvi o Eastern Code ficou-me logo esta ideia na cabeça, de que se trata de algo muito rudimentar. Aquela sensação de que gravaste apenas o estritamente necessário para cada faixa, sem outras tretas, como melodias sem nexo na equação ou demasiada percussão, que pode levar o ouvinte a pensar que estiveste amarrado àqueles temas durante meses. Ainda assim não abdicas da veia experimental, apenas mantens a coisa no seu lado mais minimal. Foi uma abordagem propositada?

Sim. A abordagem que eu tinha em mente era muito similar à que se usava no início do grime, que podes ouvir em instrumentais como “Pulse X”, de Youngstar, ou “Straight”, de Mondie. São batidas simples que vão directamente ao assunto. Quando eu comecei a produzir as faixas para East Man eu senti que havia demasiada informação nelas e quando chegou a altura de adicionar os MCs aquilo parecia demasiado populado. Então comecei a despir as camadas desnecessárias. Agora apenas adiciono aquilo que é necessário, não mais do que isso. Quando comecei com o projecto brincava ao referir-me a ele enquanto Hi Tek, porque é muito técnico e o som tem uma definição muito clara, além das minhas influências do techno. Foi dessa forma que dei nome à minha própria label, a Hi Tek Recordings.

Apesar das claras ligações ao grime, achei difícil catalogar as malhas que apresentas aqui. Como é que tu defines a sonoridade deste Eastern Code?

Penso nele como um EP de grime mas não tenho medo de mostrar as minhas influências. Por isso acho que notas nele alguns dos aspectos do techno e do dancehall.

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