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Fotografia: Ryosuke Tanzawa
Publicado a: 12/01/2022

Do luto à paternidade.

Earl Sweatshirt abre o jogo com a Mixmag a dias do lançamento de SICK!

Fotografia: Ryosuke Tanzawa
Publicado a: 12/01/2022

A semana arrancou com a Mixmag a oferecer total destaque a uma entrevista com Earl Sweatshirt, ele que na próxima sexta-feira, dia 14 de Janeiro, lança o álbum SICK! pela sua Tan Cressida.

“Free Thebe: Earl Sweatshirt Is Coming Into His Own” é o título dado à peça redigida por Dhruva Balram para a publicação britânica e faz alusão à fase final da juventude do rapper sediado em Los Angeles, recambiado pela mãe para uma escola-retiro na Samoa após ter lançado a mixtape de estreia Earl, para muitos um dos melhores projectos que viram a luz do dia em 2010. Afastado dos amigos e da música durante quase dois anos, Earl regressaria a casa a dias de se tornar adulto e com uma legião de fãs sedentos por novidades e “novelas”, muitas vezes interpretando erradamente os acontecimentos da vida do então jovem artista, ao ponto de culparem a sua mãe de lhe sabotar a carreira.

De 2012 até ao presente, Earl tem vindo a apagar os fogos que ainda restam desse arranque fulminante, afastando a ideia de MC macabro e misógino ao passar a abraçar temas como a depressão e a dependência de substâncias ou, mais recentemente, trazendo a sua mãe para um debate à vista do mundo inteiro, como que a dar-nos uma prova mais palpável da saudável relação que ambos mantêm. Demasiados dramas para a cabeça de um jovem que era visto como uma espécie de enviado divino do sagrado reino do hip hip e que ainda estava apenas a aprender a dar os primeiros passos no meio. Uma das consequências mais desastrosas desse turbilhão de emoções foi o seu crescente afastamento dos Odd Future — “Eu estraguei tudo”, confessa num dos primeiros parágrafos da entrevista publicada pela Mixmag.

Mas nem tudo foram rosas dentro do grupo liderado por Tyler, The Creator, que a certo ponto era visto por Earl como um irmão mais velho. Apesar de reconhecer que o seu nome se poderia ter tornado ainda maior do que é graças às ferramentas que estavam à sua disposição no seio do colectivo, foi também a partir de dentro dos Odd Future que alguma da pressão que sentiu se gerou. “A natureza ensina que tudo aquilo que atinge o pico demasiado depressa acaba por cair com a mesma rapidez. As pessoas tentaram fazer com que eu atingisse o pico muito rapidamente. Tentaram fazer comigo aquela cena do Nas e o Tyler alimentou isso [numa entrevista com o Peter Rosenberg] ao dizer ‘o Earl é melhor que o Illmatic.'”

Antes que estas declarações virem veneno e originem novas teorias em torno da amizade entre dois dos maiores revolucionários do hip hop da última década, Earl deixa tudo em pratos limpos: “Eu falo com o mano, não estamos inteiramente desconectados. Não existiu beef”. E lembra ainda uma das últimas fotografias que tiraram juntos e que rapidamente se tornou viral mal surgiu nas redes sociais: “Fomos sair. Fizemos algumas merdas do Tyler, tomámos brunch e fomos ao parque.”

Outro nome que vem à tona a meio desta longa conversa é o de Alchemist, beatmaker veterano da Costa Oeste norte-americana que nos últimos anos tem estabelecido uma parceria muito interessante com Earl, da qual já surgiram faixas como “E. Coli” ou “Loose Change” e que nos faz sonhar com o que seria um épico encontro em disco por parte de duas lendas de gerações distintas. Enquanto tal não acontece, Alc vai cedendo instrumentais ao amigo, tal como volta a acontecer em SICK!. E não faltam palavras de apreço para com o produtor na entrevista para a Mixmag: “O Al é uma grande pessoa e é alguém que genuinamente se preocupa comigo. Isso torna a gravação ainda melhor porque posso ser eu mesmo. (…) Ele empurrou as coisas para a frente mais do que eu, até porque já estou cansado de lixar tudo a toda a gente.”

Antes de SICK! ter sequer sido equacionado, Thebe Kgositsile tinha planos para dar vida a um outro álbum, intitulado The People Could Fly, numa alusão a um conto popular norte-americano que falava sobre um grupo de escravos que se soltava com recurso a magia. Entretanto, a pandemia de COVID-19 atingiu o globo e “as pessoas já não podiam voar mais. As pessoas ficaram doentes”. Desse primeiro esboço para um longa-duração, “Old Friend” e “Tabula Rasa” (um dos três singles já avançados, junto de “2010” e “Titanic”) foram as únicas duas faixas a transitar para o alinhamento deste SICK! — as restantes podem até nunca vir a ver a luz do dia, pelo menos na sua forma original, até porque se perdeu o computador onde estava arquivado para o material que existia para The People Could Fly derivado a uma “muito má decisão” tomada pelo artista, ele que foi pai pela primeira vez no decorrer de todo este processo.


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