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Fotografia: Gabriela Schmdt
Publicado a: 15/07/2021

As várias faces do amor em Te Amo Lá Fora.

Duda Beat: “Gosto de fazer a música que eu gostaria de ouvir”

Fotografia: Gabriela Schmdt
Publicado a: 15/07/2021

Logo após o lançamento de Sinto Muito, em 2018, os versos sinceros e a mistura brasileiríssima de pop e brega cravaram o nome de Duda Beat como a rainha da sofrência pop. E não é para menos. Duda esbanja originalidade em tudo o que faz e coloca todo mundo pra dançar fácil, fácil, até mesmo se você não for o maior fã do estilo. 

Três anos depois do lançamento do aclamado Sinto Muito, a cantora pernambucana acaba de lançar o seu novo álbum Te Amo Lá Fora. O disco foi feito novamente em parceria com Lux & Tróia, dupla responsável pela produção do projeto. Ambos participaram em todas as gravações e composições do álbum, criado durante a pandemia de COVID-19.

Nesta primeira entrevista para o Rimas e Batidas, Duda conta suas inspirações, como tem sido lidar com a saudade dos palcos e muito mais. Confira! 



Oi, Duda, como você está? Estou super feliz de estar falando com você. Tenho tanta coisa pra perguntar [risos]. Mas vou começar pela clássica: quem é a Duda? 

Eu tô bem, e você? Agradeço pela oportunidade! Que pergunta difícil. Eu sou tantas coisas, né? [risos]. Sou uma mulher muito sonhadora, que corre atrás das coisas que quer, que acredita. Sou uma pessoa que sempre tenta andar lado a lado com a minha verdade, que eu entendo importante, sabe? Falo o que eu penso e faço a música que quero! É muito sobre isso… A gente (eu e meus produtores, minha equipe) não abrimos muitas concessões, por exemplo, na hora de fazer uma música, porque a gente entende que aquilo é um pedaço nosso! É um pedaço da minha vida, da minha história… Sou uma pessoa que gosta de fazer a música que eu gostaria de ouvir. É muito honesto, sabe? É realmente uma parte de mim assim. Eu sou uma mulher muito honesta, muito verdadeira, que faz o que acredita e que acredita muito nas coisas que coloca no mundo.

Isso é muito perceptível, tanto pelas músicas quanto pelos seus posicionamentos. O que tem acontecido na sua vida e na sua carreira desde o lançamento do Sinto Muito até agora, exatamente 3 anos depois?

A gente tinha lançado o Sinto Muito, exatamente há 3 anos atrás, no dia 27 de abril de 2018. Foi um ano muito importante pra mim, foi o ano em que eu entreguei o meu trabalho de conclusão de curso em Ciência Política e ao mesmo tempo lancei um álbum, no qual eu conto uma parte da minha vida. Eu estava colocando uma parte da minha vida ali no mundo, expondo as minhas dores de certa forma com o Sinto Muito. Nesse meio tempo a gente veio fazendo show do álbum, lancei outro single, fiz feat com artistas que eu admiro muito e tava indo tudo bem. Pouco tempo antes de eu começar a fazer o Te Amo Lá Fora eu estava em ritmo de show. A gente tinha acabado de passar a época de carnaval de 2020 e eu já tinha programado uma ida para uma casa que eu aluguei na Serra do Rio de Janeiro para poder fazer as músicas do álbum. Aí fomos, meus produtores, algumas pessoas da banda e eu, para fazer essa imersão e escrever o disco novo. Enquanto a gente tava lá, explodiram os casos de COVID-19, começou a pandemia e a gente ficou sabendo lá. Ou seja, eu já estava isolada com essa galera um pouco antes e aí acabou de certa forma impactando muito na criação do disco novo. Foi uma forma diferente de fazer o disco. Se você pega Te Amo Lá Fora você pode ver que ele não é um disco tão feliz, apesar de eu ainda continuar cantando histórias de amor (e eu acredito que vou falar disso por muito tempo por que é o que eu vivo e é sobre o que eu sei falar), mas ele acaba vindo com esse lado mais melancólico e dark. Ninguém está feliz, ninguém estava feliz, nem eu nem ninguém, então ele tem essa capa escura, tem um pouco de filme de terror, mas foi um álbum também muito profundo e emocional. Em cada faixa, estou mostrando o amor de uma forma diferente e mostrando também esse lado sombrio, sabe? Apesar de nesse disco ter uma faixa pro Tomás [marido de Duda] que chama “Decisão de Te Amar”, que é uma parte do amor feliz, mas é isso [risos]. Eu quis mostrar nesse disco que o amor tem várias facetas e a gente pode explorar todas elas. Eu sinto que ele nasce com uma potência muito grande de falar, de descobrir as profundezas do que eu tinha pra falar. Eu estou muito feliz com esse álbum. Confesso a você que, por muitas vezes, pensei se deveria ter lançado nesse momento de muita tristeza, muitas pessoas perdendo parentes, perdendo pessoas que amam, mas ao mesmo tempo tinha muito na minha cabeça e pensei: vai ser importante colocar ele no mundo, eu vou de certa forma levar alegria pra essas pessoas em casa que vão ouvir e degustar esse álbum.

Acompanhamos muitos artistas em dúvida sobre lançar ou não um disco nesse período. E você optou por fazer isso. Pelo caminhar das coisas no Brasil, a pandemia está longe de acabar, infelizmente. Como você chegou nessa decisão e como foi o processo criativo do Te Amo Lá Fora

Foi uma decisão muito difícil. Eu queria muito ter esperado pra lançar esse álbum num momento onde a gente pudesse ter show, sabe? E agora é uma forma diferente de lançamento, extremamente nova para mim porque eu sou uma artista de palco! Gosto de trabalhar minha música no palco, olhando para os meus fãs, todo mundo cantando junto, podendo ver qual música a galera gostou mais… Então pra mim foi uma forma diferente de lançar, mas eu também estava sentindo que não dava mais para esperar, sabe? Já tinha 3 anos de diferença entre um e outro. Você me perguntou como eu sou e eu sou um pouco apegada em algumas coisas que eu coloco na minha cabeça, tipo: o meu objetivo era sempre lançar álbuns de dois em dois anos. Acho que dois anos é um tempo muito bom pra você trabalhar um álbum e esse segundo álbum ele veio três anos depois. Eu sinto que foi o momento certo. É uma mistura de coisas assim, mas, pra mim particularmente, foi uma decisão difícil porque foi uma maneira nova de lançar um álbum mas ao mesmo tempo eu sentia que não dava mais pra esperar. Quando a gente começa a trabalhar no álbum por muito tempo, a gente começa inventar demais. Às vezes a música já está pronta e você fica voltando e voltando. Agradeço aos céus por ter vocês que, enfim, estão propagando o meu álbum pro mundo! O papel de vocês da mídia está sendo fundamental, não só pra mim, mas para outros artistas também, pois nos ajuda muito a falar sobre isso, a colocar no mundo o que a gente tem a dizer e explorar isso!

Imagina, é um trabalho incrível, mais uma vez! E como você está se sentindo agora, depois do lançamento? Está orgulhosa? 

Eu estou muito orgulhosa e muito feliz porque o Te Amo Lá Fora saiu exatamente do jeito que a gente queria. Os feats que eu trouxe no álbum são pessoas que eu sou muito fã, de consumir mesmo, de estar junto e de acompanhar. Estou muito feliz com a repercussão. O álbum já tem, em todas as plataformas, sei lá quantos milhões, mais de 20 milhões de plays! Isso pra mim é uma alegria muito muito muito grande, porque o segundo álbum é difícil pra qualquer artista, ainda mais quando o primeiro repercutiu tão bem, né? Eu estou muito feliz de ver que as pessoas estão gostando, de ver os meus fãs interagindo com as músicas, falando sobre isso na Internet. Meu próximo passo é trabalhar cada música a cada mês, sabe? Fazer os clipes dentro dos protocolos de segurança, claro, dentro de como a gente conseguir gravar, mas é isso, fazer os clipes e trabalhando esse álbum ao longo do ano. Estou bem feliz! 

Quando vi que o Trevo estava dentre as participações do álbum, achei o máximo! Na última semana até saiu o clipe de “Nem Um Pouquinho”, né? Acompanho o trabalho dele solo e no Underismo e a parceria de vocês ficou sensacional! Como isso aconteceu? 

Eu acho que eu não te falei, mas eu tenho duas back vocals, a Camila e a Luiza, que, na verdade, são irmãs pra mim! Conheço há mais de 10 anos e elas me apresentaram o Trevo. A gente estava em turnê e o momento da van era o momento do Underismo e do disco solo do Trevo (Nada De Novo Sob O Sol, 2018), aí a gente mergulhou nessa onda! Eu fiquei completamente apaixonada por ele [risos]. Em 2019, fui fazer um show em Salvador, tinha show da Pabllo Vittar junto e convidei os meninos do Underismo pra subir no palco e cantar “Preto Chave”, uma das músicas deles que eu amo! Foi a primeira vez que eu conheci o Trevo pessoalmente e aí me apaixonei mais ainda pela pessoa dele, pela forma como ele vê o mundo. Eu já tinha a “Nem Um Pouquinho” desde 2017, só que ela era só um trap. Um dia, no final de 2019, eu falei: “Tomás, vai pro Lucas e começa trabalhar na ‘Nem Um Pouquinho’, acho que a gente já pode adiantar”. Ele falou “ok” e aí, 4h depois, eu cheguei na casa do Lucas e a música tinha virado “pagotrap” (mistura de pagode com trap) e eu pirei! Falei: “cara, é isso! Tem que ser isso, tem que ser o Trevo! Tem tudo a ver, ele vai escrever uma parada foda nessa parte e eu tenho certeza que vai ser demais!”. Aí eu liguei pra ele e ele ficou achou o máximo. Mandamos a base, ele escreveu e mandou de volta. Foi um encontro muito muito muito legal. O que ele escreveu tem tudo a ver com a letra que eu tinha feito e ele é isso, é compositor junto comigo, ele é meu parceiro e é um amigo que eu quero ter pra vida toda!

Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira até aqui?

Nossa, muito difícil! Foram vários! [risos]. Foram muitos momentos que me trouxeram até aqui, desde a primeira grande artista, que foi a Pabllo Vittar, que veio falar comigo no Instagram, até a Ivete Sangalo me colocar no palco dela, até cantar no carnaval de Salvador, até a minha música estar na novela das 21h do Brasil, até eu conhecer Caetano Veloso e Djavan e eles elogiarem a minha composição, ganhar o Prêmio Multishow 2019 de revelação do ano, lançar o álbum… mas eu acho que de tudo isso, os lançamentos são muito especiais. Colocar um filho no mundo é muito especial. Esses momentos são os que ficam marcados na minha memória, porque imagina: você está há um ano trabalhando no disco, coloca no mundo e fala: agora todo mundo vai poder ouvir isso! Os momentos com os meus ídolos são muito memoráveis também, sabe, ter a Cila do Coco no meu disco, o Trevo… você também tocou num ponto que foi muito crucial de importância pra mim, de saber que eu estava fazendo as coisas do jeito certo! Foi quando lancei o Sinto Muito e no primeiro mês comecei a receber muitas mensagens no meu inbox falando o quanto ele tinha ajudado as pessoas. Aí eu meio que entendi: cara, mais do que números e qualquer outra coisa, isso pra mim é o verdadeiro significado de arte. É quando você consegue mudar a vida de alguém que está ouvindo, quando as suas palavras confortam alguém, geram identificação nas outras pessoas, as pessoas pensarem: “poxa, eu também já sofri igual ela sofreu e eu não estou me sentindo mais sozinha agora”. Isso pra mim é fundamental!

Por falar em sofrimento, quando comentei com minhas amigas que ia falar com você, ficamos relembrando os seus shows, sempre muito animados, muito dançantes! Ai que saudade! Como você está conseguindo lidar com isso, Duda? [risos]

Ai, meu Deus, nem me fale! [risos] Olha, é muita saudade! Muita! Está sendo difícil pra mim. Confesso que durante a pandemia, muitas vezes fiquei muito triste, de dar até uma chorada e pensar sobre isso, sabe? Sobre o quanto me faz falta… Eu sempre falo isso, eu sou uma pessoa que ama fazer show. Aparte da minha profissão que eu mais gosto é fazer show, interagir, conversar, olhar para as pessoas, ver todo mundo cantando junto… Pra mim está sendo muito difícil. Inclusive, eu tenho até marcado alguns ensaios porque, como a gente está na pandemia, eu acabei fazendo só as publicidades, os clipes e as músicas dentro de casa. Eu faço aula de canto uma vez por semana online com a minha professora, mas assim, cantar, cantar mesmo, pegar o microfone, não está acontecendo e eu sinto muita falta. O Tomás, que é meu marido e meu produtor, falou: “pelo menos uma vez por semana, eu, você e Luiza podemos cantar! Eu acho que isso vai dar uma alegria pra gente, que está faltando”. Está doendo muito, mas eu também estou com muita fé de que quando os shows voltarem vai ser muito lindo, porque já estou ansiosa aqui pensando em como vai ser o show do disco novo, imagina? Acabei de lançar um disco, estou assim à flor da pele! É um misto de ansiedade pra mostrar o que a gente está pensando e também uma tristeza por não estar fazendo isso.

Eu imagino! É interessante observar como as reações das pessoas são tão diferentes diante dessa situação que estamos vivendo. Alguns artistas passaram por picos de produtividade e criatividade, enquanto outros não conseguiram manter o mesmo ritmo de antes e passaram a se cobrar muito mais. Como foi isso para você? 

Totalmente! Teve alguns momentos que eu entreguei o disco que eu ficava me cobrando: “ai, eu poderia estar escrevendo músicas” e ao mesmo tempo eu falava assim: “não, cara! Respeita! Respeita a pausa do mundo também! Você não precisa estar entregando tudo a todo momento, tá tudo bem. Você entregou um disco. Quando vier inspiração, é isso mesmo” e depois disso escrever mais três músicas [risos]. Eu tive momentos de dificuldades, de ficar pensando que eu poderia estar sendo mais produtiva. Só que não… e o que você falou tem haver muito com isso. Não tem que se cobrar! 

Eu concordo com você. Como dizem, obrigação só de viver, né? Você, sendo formada em Ciência Política, sempre se posicionou de forma muito transparente, sem medo. O que você tá achando da pressão na internet em cima dos artistas que não se posicionam diante do (des)governo no Brasil em plena pandemia? Você acha possível separar arte de política? 

Eu acho que não. Na verdade, quando você se posiciona e você coloca o seu pensamento pro mundo, isso acaba facilitando para o fã entender o que ele está consumindo. Isso é uma coisa que eu penso muito. Por exemplo, quando eu gosto de um artista, eu gosto de entender o que ele pensa, o que ele fala, qual é o posicionamento dele… então, assim, eu tiro muito por base a minha experiência, como eu gostaria de consumir um artista. Eu acho que é muito importante você falar falar o que pensa. O que eu acho que tem pegado é o artista que está em cima do muro, sabe? Porque quando o cara se posiciona e você não concorda com o posicionamento dele, é uma coisa. Mas quando você não entende e não sabe, acaba gerando uma revolta mesmo. Eu acho muito importante se posicionar, ainda mais no momento que a gente está vivendo! O governo não tem o menor respeito à vida de ninguém. Qualquer pauta sobre minorias ele sempre foi contra, sempre falou sobre isso abertamente. Eu, como artista que não concorda com esse governo, o que eu puder falar eu vou falar, porque é isso que eu acredito. No início da nossa conversa eu até te falei, eu sou uma pessoa muito da verdade. Tem um pedaço da minha história com os meus fãs, na minha comunicação eu sempre tento ser muito aberta e direta com eles e sobre isso não podia ser diferente! Todos nós somos seres políticos, querendo ou não, o que eu estou fazendo com você é política. É muito difícil quando você vê uma pessoa que não fala o que pensa e usa de subterfúgios, tipo “ai, amor para todos!”. Sim, amor para todos, mas a gente precisa falar o que está pegando! Nós éramos um país que era exemplo em vacinação mundial e a gente está do jeito que está, somos um país que estava fora do mapa da fome e voltamos. Isso precisa ser dito porque vai além de qualquer coisa. Eu acredito muito nisso. A comunicação tem que ser transparente e não tenho vergonha de me assumir contra esse governo por que não concordo nem 1% com ele.


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