pub

Fotografia: Adriano Ferreira Borges/Semibreve
Publicado a: 03/11/2022

Na despedida do exploratório festival bracarense.

Drumming GP + Burnt Friedman no Semibreve’22: uma densa floresta rítmica

Fotografia: Adriano Ferreira Borges/Semibreve
Publicado a: 03/11/2022

O melhor concerto da edição 2022 do Semibreve – que terminou no último domingo, em Braga – foi também o último. O Drumming GP, em versão “portátil” de trio, acompanhou Burnt Friedman numa exótica viagem que parece ter percorrido múltiplas latitudes: de Java, África ou Japão à América minimalista e daí aos confins do espaço sideral.

Friedman teve a seu cargo as densas bases electrónicas, tecendo ao vivo uma teia de pulsares de tons sobretudo graves que funcionou como a ligação elástica entre as polirritmias que o trio de percussionistas habilmente entrelaçou em hipnóticas peças.

O kit de Miquel Bernat, director do Drumming GP, era o mais complexo, com diversos címbalos, woodblocks e outras fontes de cromatismo percussivo variado que, pela forma como estava a ser captado pelos microfones, sugeria por vezes que por ali estaria algum drum pad electrónico, tal a variedade de sons obtidos, por um lado, e a sua rigorosa e quase digital definição sonora, por outro. Ao meio, um kit com bowls asiáticos, aquele que mais nos fazia pensar no gamelão javanês, exuberantemente tocado por André Dias. E ao lado de Friedman, João Miguel Braga Simões em congas afinadas. 

Dos três conjuntos de instrumentos percussivos – tocados com as mãos, baquetas com e sem bolas de feltro ou até com arco no caso dos vibrantes címbalos – nasciam, sempre enquadrados com as bases electrónicas de Burnt Friedman, complexos polirritmos que ora nos remetiam para as experiências minimalistas de alguém como Steve Reich ora lembravam as derivas de inventivo exotismo de gente como Robert Musci e Giovanni Venosta.

Fossem quais fossem as coordenadas que o quarteto ali explorou, a verdade é que a música empolgou o público que praticamente esgotou o Theatro Circo na hora de dizer adeus a mais uma triunfal edição deste sempre diferente e desafiante programa de música electrónica e exploratória. O Drumming GP e Burnt Friedman têm generosas discografias, mas um registo cuidado da experiência que ali pudemos presenciar seria, certamente, adição de valor em qualquer um dos casos. Melhor ponto final para o Semibreve não teria sido possível.


pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos