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Fotografia: Bygeorginalaura
Publicado a: 14/07/2022

Prestes a voltar a actuar num dos grandes festivais de música da ilha.

DroPe: “Sempre senti uma ligação muito forte entre o desporto e a música”

Fotografia: Bygeorginalaura
Publicado a: 14/07/2022

O panorama musical a nível nacional vai, aqui e ali, tendo focos de interesse na Madeira com o surgimento de artistas como, por exemplo, Elisa Silva que, em 2020, venceu o Festival da Canção. Ainda assim, e num arquipélago onde a maioria dos artistas inicia o seu percurso pelo seu lado mais clássico, há um pequeno grupo de jovens artista que entusiasmam a acompanhar linguagens modernas e urbanas. O rapper e produtor DroPe é um deles, tendo procurado apoio junto de alguns conterrâneos e amigos que agora integram o seu último projecto, Um Para Um. 

Rodeado de locais, o jovem insular que frequentou o curso de produção de hip hop na ETIC lançou o primeiro longa-duração no início de Julho depois de mostrar os singles “Horas Extra”, “Pontos” e “Mero Acaso”. Mais maduro do que no seu EP de estreia, Catarse (2019), o novo trabalho reflecte sobre uma fase da vida adolescente de DroPe em que estava ligado ao basquetebol e às relações, e reúne colaborações com SILV4, Carolina Coutinho e Tiago Sena Silva, tendo em Jon Costa a única colaboração do continente.

A 16 de Julho, o álbum será apresentado ao vivo no Summer Opening, festival que arranca já amanhã no Funchal. 



És da Madeira e tens 24 anos, como é que começou o teu interesse pela música?

[DroPe] Andava no secundário e ouvia sobretudo hip hop, o que na Madeira não era tão comum quanto isso. Nem havia bares nem discotecas que passassem isso, e era sobretudo hip hop americano. Nem tínhamos acesso a hip hop português, ou pelo menos não havia esse ênfase que há hoje na música nacional. 

Estamos a falar de 2009, mais um ano, menos um ano… E acabávamos a ouvir Lil Wayne, Jay-Z, Kanye West, tudo muito comercial. Depois também tinha um primo que vivia em França e me mostrava algum hip hop francês — que eu não percebia — muito pesado. 

Em simultâneo, eu gostava muito de escrever e achava que o hip hop era um género que me permitia escrever músicas muito mais arrojadas. Com tudo isto lancei a minha primeira música em 2016, uma versão da “Red Dot Music“, do Mac Miller, na base das mixtapes. Mais tarde cheguei a gravar com beats da net, mas a malta só falava sobre o beat e isso ferio o meu orgulho [risos]. Então, decidi que, a partir dali, ia utilizar beats meus e se alguém fizesse algum tipo de elogio teria que estar relacionado com o meu trabalho.

E tu, DRX, como é que começaste a trabalhar com o DroPe?

[DRX] Eu encontrei o DroPe através de um amigo em comum, que também é rapper, o SILV4. Já o seguia desde a “Sinais”, mas só quando eles fizeram um som juntos é que entrámos em contacto. 

[DroPe] É um som com uma vibe mais comercial mas que até bateu na Madeira. 

[DRX] Quando ouvi o som deles quis logo trabalhar com ele e enviei-lhe vários beats para ele ouvir. Isso resultou na “Clarabóia”.

[DroPe] Foi uma faixa solta que surgiu. Eu queria escrever e, apesar de gostar da minha produção, a dele estava noutro nível. Todos os meus beats são produzidos no FL Studio, que ainda hoje uso, com uma [ferramenta] MIDI, e tudo à base de samples e loops, mas sempre modificados. Mas no futuro gostava de utilizar outros instrumentos, que desse, uma sonoridade completamente diferente.

Mas tu tens um curso de produção, não é?

[DroPe] Sim, em 2019 entrei para o curso de produção de hip hop da ETIC e conheci muita gente do meio e também [ganhei] muita motivação. Cheguei a levar alguns props do TNT, que era nosso professor, mesmo em exercícios feitos para as aulas. Mas o melhor do curso é mesmo estar com gente do meio e o quão acessíveis são.

A melhor parte do curso, já agora, foi a “visita de estudo” ao estúdio do Charlie Beats. Ele é um mentor e ensinou-nos mesmo muita coisa sobre produção. Mas os efeitos foram mesmo muitos e fizeram com que eu olhasse para a produção de forma muito diferente e menos mecanizada já que eu fazia quase sempre as coisas da mesma forma. Tornou-me muito mais versátil.

E como é que funcionou a produção no caso do teu último projecto, o Um para Um?

[DroPe] Eu comecei um projecto diferente com dois singles, “Movimento” e “Digital”, em que encontrei uma espécie de bloqueio. É um projecto que há-de sair mais tarde e com produção minha, mas, no entretanto, o Daniel [Rodrigues, também conhecido por DRX] entra em cena para um álbum em conjunto – o Um para Um, que foi iniciado assim que começou o COVID e foi feito sobretudo à distância. O SILV4, com quem já tinha colaborado, também entra neste projeto e tenho ainda participações do Jon Costa e do Tiago Sena Silva e da Carolina Coutinho [do single “Horas Extra”], que são alguns nomes talentosos e menos conhecidos no meio.

Ainda na produção, a masterização e mistura foi feita pelo João Pedro Borges [irmão do músico João Borsch], que adiciona sempre uns detalhes essenciais, quase uma espécie de pós-produção. E, tirando o Jon Costa, são todos madeirenses.

E o que é que nos podes contar sobre este teu novo projecto?

[DroPe] Eu joguei basquetebol alguns anos no CAB Madeira e sempre senti uma ligação muito forte entre o desporto e a música. Ouvia hip hop antes dos jogos para me motivar e gostava muito de seguir essa ideia, então fugimos sobretudo para batidas mais pesadas e próximas do boom bap e mesmo um toque trap. Há exceções, claro, na “Horas Extra” e na “Colisão”, com o SILV4, que são temas mais virados para o r&b. Então, o projecto acabou por ser um retrato da minha vida na altura, em que não era só basquetebol e onde também havia espaço para relações e temas do género, que pedem batidas mais calmas. Por tudo isto o projeto chama-se Um para Um.

Depois do Um para Um, contudo, vou-me virar para outros estilos e reanimar o projecto que já tem dois singles. Esse trabalho vai ter muito mais colaborações, como o João Borsch, que já entra da “Digital”, e explorar outras sonoridades afastadas do hip hop.



É que tu lançaste recentemente o Um para Um e estás-me agora a falar do teu próximo projecto, que estava em stand.by há algum tempo, mas já tinhas um EP de estreia. 

[DroPe] Sim, o Catarse, foi feito durante o curso de produção de hip hop da ETIC. Noto muito que algumas partes podiam ser melhoradas, mas não deixo de estar muito orgulhoso desse projecto. São seis temas relacionados com a ansiedade e a saúde mental e saiu em Maio de 2019. Por acaso é uma pena, porque deveriam ser sete faixas mas o Spotify, por razões de direitos, não me deixou colocar lá o “Estrela” que tem um sample da Cesária Évora e, só por acaso, é a faixa que mais gosto do projecto. Mas ela está no YouTube para quem a quiser ouvir. De qualquer forma, sinto que se fizesse isto agora faria muito melhor, o que é bom porque mostra-me o quanto evoluí. 

E que oportunidades temos de ouvirmos o teu trabalho ao vivo num futuro próximo?

[DroPe] Este tem sido um ano muito mais agitado graças à evolução da pandemia, e ainda bem. Já fiz algumas coisas na Madeira e tenho dado concertos por lá em discotecas. Também já dei alguns concertos cá no Copenhagen [que entretanto encerrou] e noutros sítios, mas este ano ainda vem aí muita coisa. Temos o maior festival da Madeira, o Summer Opening, onde actuo já no dia 16, [no mesmo dia que a Nenny, o Jimmy P, o Julinho KSD e os Wet Bed Gang]. É a minha segunda vez no festival, já lá estive em 2019 e foi incrível. Foi a minha primeira experiência num festival e deu para ter um cheirinho do que se vive nos bastidores e mesmo para falar com alguns artistas e tirar umas dicas.

Neste concerto do Summer Opening vou contar ainda com vários convidados. Posso dizer que o João Borsch vai estar presente e o SILV4 também. Vou ainda tocar ao vivo com banda num modelo híbrido em que também levo um DJ.

E como é que foi para ti, que produzes sobretudo em MIDI, fazer arranjos para as tuas músicas noutro tipo de instrumentos?

[DroPe] Queria levar sobretudo bateria e baixo, porque acho que ao vivo tudo resulta muito melhor se levares uma banda, mas só vou conseguir levar o João Borsch na bateria. E, sendo sincero, não creio que haja necessidade de grandes arranjos. A ideia dos instrumentos é dar mais power à música em cima do palco, até porque quando falo em banda não estou a falar no formato clássico, é mesmo porque vai envolver muito mais pessoas em cima do palco como backvocals, por exemplo. Nesse sentido até vai ser uma estreia, porque nunca toquei com mais ninguém – costumo ser sempre só eu e o DJ. Mas aqui a ideia é outra e quero mesmo que as pessoas sintam o meu som e saltem e dancem e todas as essas coisas. 

Já que estamos a falar da Madeira, e para encerrar, onde é que é mais fácil para ti fazer música, aqui no continente ou na Madeira?

[DroPe] Claramente aqui. Posso-te dizer que estou há um ano de volta à Madeira mas vou voltar para cá. Lisboa tem um lugar especial no meu coração e sinto que é mais fácil criar aqui sinergias. Foi aqui que eu comecei a ouvir hip hop tuga de verdade e à seria, mas nem tinha cá estúdio no início e só gravava quando ia à Madeira. 

Vim para cá tirar o curso de Ciência Política no ISCSP, entretanto tirei uma pós-graduação e assim que acabei o curso fui directo para a ETIC, tanto que nunca apanhei a situação de aulas à distância e assim. Mas isto para dizer que, com a ETIC, veio a possibilidade de reservar um estúdio sem o pagar e de gravar cá as minhas músicas até com muito mais qualidade do que na Madeira. Isso tornou a Madeira num sítio que utilizo muito mais para relaxar hoje em dia.  

Também reparei que tens muito pouco sotaque aqui na nossa conversa e nos teus temas isso não se nota mesmo nada. É algo propositado, ou é mesmo natural a tua ausência de sotaque?

[DroPe] Posso-te dizer que nunca fiz nenhum esforço para esconder o meu sotaque e ele até se pronuncia mais quando falo depressa ou quando me irrito [risos]. A família da minha mãe, a certa altura, emigrou para França e acho que por isso nunca tive um sotaque muito vincado, até porque ela não tem mesmo. 


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