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Fotografia: João Duarte
Publicado a: 10/09/2024

O jazz não está morto.

Dose dupla (mas irrepetível) de STAU (João Mortágua e Diogo Alexandre) em Coimbra

Fotografia: João Duarte
Publicado a: 10/09/2024

O free jazz e a música improvisada podem não agradar os ouvidos no primeiro contato. Sempre é necessário dar uma segunda chance para que tudo seja assimilado. Não é algo tão palatável a todo momento. As reações dependerão de acordo com o estado de espírito de cada um no momento que está a ouvir. Por isso, recomenda-se que na primeira vez essa experiência seja numa casa de concerto, para que o julgamento de algo gravado tire toda a beleza e (também) o caos que esse tipo de música proporciona. 

Algumas dessas impressões foram compartilhadas por jornalistas e agentes culturais que estiveram presentes no último talk da primeira edição do Cu.Co.: Encontro de Jornalismo Cultural em Coimbra, que colocou “o jazz no centro” e que aconteceu, precisamente, no Jazz ao Centro Clube. Após uma conversa rica sobre os caminhos que o jazz tem tomado em Coimbra e o que de fato seria jazz, os presentes foram convidados para apreciarem um concerto acústico do STAU, um projeto experimental do saxofonista e compositor João Mortágua e do baterista  Diogo Alexandre.

Ao longo de uma hora, a dupla mostrou as diversas possibilidades que o improviso proporciona. Os temas não tinham um guia definitivo. Alguns momentos eram mais efusivos, e outros densos. Não quer dizer que esses dois períodos se contrapunham. Ambos criavam um tipo de incômodo para forçar a mente a ativar o seu processo cognitivo, mantendo a atenção para o que estava sendo emitido. Havia entrosamento nas peças, mas estava perceptível que não havia nada programado. Com seus jogos de pratos, Diogo criava uma atmosfera para que Mortágua o acompanhasse ao sax, seja tocando da forma comum ou usando apenas a boquilha, as paletas ou complementando com outros instrumentos — gaita, caxixi, baquetas. O contrário também acontecia. Não havia regras.

Sendo uma das primeiras apresentações da dupla, STAU mostra-se promissora no que propõe. Foi possível confirmar essa visão, que poderia até ser precipitada, horas depois (já pela madrugada) quando os vimos pela segunda vez em um dos bares da Praça da República — o Liquidâmbar. Pode-se dizer que a estética permanecia no alicerce, porém, os direcionamentos eram totalmente diferentes. Dessa vez, talvez por causa do ambiente, que a esta altura estava com uma quantidade interessante de jovens, o andamento foi um pouco mais energético. Do que foi ouvido às 6 da tarde só restaram pequenos resquícios. Como se tivessem escrito tudo do zero, criaram algo diferenciado. A bateria estava com menos elementos graves e teve ainda o acrescento de pequenos tamborins. O saxofone teve um pouco mais de protagonismo comparativamente à sessão anterior.

Por não ser uma música tão palatável e dançante, o free jazz te faz refletir, observar cada nuance. Esses dois momentos foram necessários para alinhar o que mentalmente poderia estar desalinhado — mesmo que isso não seja o propósito primário. Talvez Mortágua e Diogo não entendam agora o quão necessário é esse tipo de projeto. Mas já estão fazendo uma grande diferença na vida de quem os ouve ao menos uma única vez. Absolutamente o jazz não está morto.  

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