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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 27/02/2021

Para os amantes de música electrónica e videojogos.

DJ Spielberg: “Carregada/Calibrada mostra um novo caminho na minha evolução pessoal como produtor”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 27/02/2021

Numa rua relativamente sossegada, paralela à Avenida Almirante Reis, um portão escuro de inox esconde várias cenas artísticas que convergem, conectadas pela atenção à música electrónica e experimental, mas não só, em uma comunidade dinâmica de criatividade contagiante. Três pancadas no portão e aguardamos. À entrada, mostramos o nosso cartão de sócio anual e finalmente entramos no Desterro. Uma música mais calma ocupa o andar de cima, onde podemos pedir bebidas, mas também comprar alguns discos da ZABRA, da No, She Doesn’t ou da Rotten Fresh, para nomear algumas das editoras que orbitam este espaço. Algumas salas escondem-se por trás do bar. Vindo da cave, há um tremor de frequências mais graves que se sente, que rouba atenção e se exalta por cima do burburinho do bar. Umas escadas em caracol são o acesso principal para a pista de dança mais underground de Lisboa.

É esse espaço que Hugo Barão desvenda com o novo videojogo online. Sob o pseudónimo DJ Spielberg, o produtor regressa aos lançamentos a solo e apresenta o primeiro trabalho de 2021 da sua No, She Doesn’t, selo que já não editava desde a compilação NSD004, de Maio de 2020.

Carregada/Calibrada, editado ontem, é o novo EP do produtor que também assina como azul-revolto e é um dos lançamentos que mais destoa no catálogo da editora portuguesa, e dizemo-lo como um aspecto positivo do projecto. Enquanto em trabalhos anteriores o house mais lounge era o ponto de encontro para a editora, o EP de Hugo é ar fresco – embora soterrado e possante –, dando novas possibilidades no horizonte da mesma. Entre o gabber, breakbeat, jungle, electro e techno, há uma reinvenção da pista de dança que paira no imaginário No, She Doesn’t, que antes se podia ver num Lux e agora é mais abrangente, chegando até à cave do Desterro.

DJ Spielberg tem sido um dos músicos da editora na linha da frente no que toca a experimentar nas vertentes mais obscuras e poderosas que esta música electrónica tem para dar. É também aí que este NSD005 promete ser um dos lançamentos chave para o percurso desta editora.

Enquanto o confinamento nos distancia, para reavivar a memória da rave: abram o jogo para visitar (ainda que virtualmente) o Desterro; oiçam Carregada, Calibrada, também já disponível em vinil.



Criar um jogo de raiz é tanto a maneira mais criativa como provavelmente a mais trabalhosa de promover um disco. Conta-nos como e porque te surgiu a ideia de o fazer e porque tomaste o Desterro como base para os habitantes do mesmo.

Durante o primeiro confinamento, em Março de 2020, comecei a esboçar o projecto de criar algo em 3D. Inicialmente pelas saudades do dancefloor, dos amigos e, posteriormente, com o objectivo de dar algo a oferecer a quem segue a No She Doesn’t. Além disso, no jogo, estão representados os restantes colectivos: o Desterro são os associados e artistas que o frequentam e não o espaço físico em si.

Na impossibilidade de realizar uma festa de lançamento, pela questão da pandemia, acabámos por conseguir celebrar mais um lançamento de uma forma diferente. A ideia de que a NSD não se trata apenas de música também nos atrai e queremos surpreender a cada lançamento que fazemos, não só na música que lançamos mas em toda a experiência imersiva que o pode envolver. 

Gabber, electro, breaks e jungle. Tudo nomes que apenas indicam que esta é uma grande mistura de estilos e técnicas num disco só. Outrora vimos a No, She Doesn’t virada para variações de house, sem fugir muito dessa estética. Porque fez sentido Carregada/Calibrada sair pela vossa editora e de que maneira crês que enriquece o vosso catálogo?

Em Carregada/Calibrada não há fillers, todas as tracks podem funcionar como boas ferramentas para a pista, espero. 😈 

Apesar de haver uma delimitação marcada de género musical nos lançamentos da NSD, Carregada/Calibrada mostra um novo caminho na evolução pessoal como produtor mas também o que pretendemos no colectivo, sempre mantendo-nos fiéis à estética da NSD. Pretendemos que os nossos trabalhos sejam lançados pela nossa editora para dar continuidade ao nosso projecto, sejam de DJ Baywatch, DJ Legwarmer ou DJ Spielberg. 

Em torno destas sonoridades que exploras com este EP, fica a dúvida de como partiste para a realização do mesmo. Foi todo produzido em tempo de pandemia? Como foi a gestão do processo criativo de Carregada/Calibrada?

O EP foi produzido ao longo deste último ano e influenciado também pela vontade de voltar à pista de dança, que cresce cada vez mais. A vida nocturna faz parte do meu/nosso quotidiano e tenho sentido falta dessa alienação em relação à rotina do dia-a-dia. Fui produzindo no pouco tempo que me resta depois do trabalho e tem sido terapêutico. O que tenho ouvido ultimamente também me influencia no que produzo, apesar de achar que este EP tem uma assinatura mais própria.

Sentes que a divisão entre os teus pseudónimos (ou heterónimos?) artísticos está a ficar mais ténue ou mais demarcada? O que os diferencia?

Mais demarcada sem dúvida e ambos os projectos (DJ Spielberg e azul-revolto) continuam a mudar. A produção para azul-revolto é introspectiva e mística; em DJ Spielberg há sempre um feeling de celebração colectiva.

Há duas questões em particular que me questiono ao olhar para a vossa discografia: 1º, há planos para avançar para um longa-duração?; 2º, há vários e diversos produtores sob a vossa alçada ou com quem colaboram, tencionam vir a trabalhar em conjunto em alguma colaboração ou vêm a vossa produção como inevitavelmente solitária e individual?

Temos recebido bastantes demos com nervo, é bastante provável que saia um longa-duração no futuro. Há colaborações em andamento e se tudo correr bem serão lançadas já na próxima release

Na crew ou com artistas convidados contamos sempre uns com os outros no processo de criação e produção dos lançamentos. Temos uma atitude crítica em relação aos trabalhos e colaboramos de uma forma sinérgica com objectivo de enriquecer e superar-nos em relação aos lançamentos anteriores (e divertirmo-nos nesse processo).


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