pub

Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 07/11/2020

Realeza electrónica.

DJ Nigga Fox no Lux Frágil: polirritmias para gente sentada

Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 07/11/2020

Dançar sentado nunca foi tão difícil, mas se os tempos pedem isso temos de aceitar. E, parecendo que não, poder ver concertos no Lux é uma benção na recta final de 2020. Particularmente positivo é, também, voltar a ver DJ Nigga Fox e a sua polirritmia matemática num formato menos comum.

Embora se tenha apresentado “vestido” para DJ set (serão saudades?) – com o filtrar de frequências mais graves para puxar pelo nosso movimento corporal sincopado e para intensificar o início do compasso seguinte –, Rogério Brandão distinguiu-se neste live act pela maneira como construiu uma narrativa com a sua música para uma plateia sentada, e que não necessitou do mesmo entusiasmo que precisaria numa pista de dança, em que puxou pela velocidade mais frenética que caracteriza alguma da sua música. Nas mãos, um computador ligado a uma mesa de mistura e uma Maschine foram suficientes para desmascarar a actuação de Nigga Fox, que foi controlando o espectro sonoro nos efeitos e lançando samples e loops para as apetecíveis Funktion-One da sala.

Na passada quinta-feira, dia 5 de Novembro, as transições foram lentas e apegadas, como se paradoxalmente coabitassem a dinâmica intensa do seu som e a repetição exaustiva dum riff para espremer todas as gotas de energia de cada batida. Já que falamos em coabitar: nesta música, o four-to-the-floor dos kicks, adicionados aos samples em tercinas e ainda com percussões sincopadas pelo meio, podem descrever a sua complexidade rítmica. Todos estes elementos fazem parte duma equação polirrítmica à qual este produtor, tornado matemático, dá vida com sintetizadores e samples em loop. Parece complexo? É porque talvez seja mesmo.

Porém, a música não tem muitas camadas, e também não precisa. O instrumental simplifica mas os loops minimalistas deste príncipe, mergulhados em reverb, surgem por vezes com harmonias mais curiosas, demonstrações daquilo que o torna um dos elementos mais fascinantes da sua turma e da sua geração; pela forma como manobra ideias de batida, de house, de kuduro, de electrónica, de funaná e parte para fora das fronteiras daquilo que poderiam ser as suas limitações para a criação de uma mistura única. E os pads deslizantes que vão do dissonante mais tenso ao harmónico mais emocional também apresentam Nigga Fox.

A falta de respeito de uma audiência faladora e ruidosa não impediu o membro da Príncipe Discos de dançar a sua própria música, que além doutras finalidades, pertence muito a este ambiente nocturno, mas caloroso; feliz, mas não irreflectido. Tudo isto à volta de um som que merece contemplação, para além da festa. Sim, é Outono, mas aquecemos dentro do Lux.

pub

Últimos da categoria: Reportagem

RBTV

Últimos artigos