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Texto: Vítor Rua
Fotografia: Geraldo Ferreira
Publicado a: 13/12/2024

Uma viagem impossível de recusar.

Dimensões Sonoras de LANA GASPARØTTI: O Cosmos entre Jazz e Electrónica

Texto: Vítor Rua
Fotografia: Geraldo Ferreira
Publicado a: 13/12/2024

“O mar guarda em cada onda o segredo do universo, e na sua música, encontramos as respostas que nunca soubemos perguntar.”

Elias Novoa, poeta dos oceanos e do vento



[Harmonia que flutua: uma introdução à vida e obra de LANA GASPARØTTI]

LANA GASPARØTTI desenha no silêncio uma melodia que não é uma, mas muitas camadas de um tempo que se estende para além do visível. Nos teclados, suas mãos tecem harmonias e linhas melódicas, como fios de luz entrelaçados, baixos que serpenteiam entre as notas e a sua voz, uma voz que nasce no espaço aberto, onde o som é livre e indomado. Esta é a sua arte, uma composição que cresce de dentro para fora, orgânica e experimental, e que, quando a noite desce, se transforma em palco.

No palco, LANA não está só. João Segurado, no baixo eléctrico, é o coração que pulsa ao seu lado, uma frequência grave que dialoga com a leveza das melodias, enquanto Sebastião Bergmann na bateria é o tempo que não se perde, mas se expande. Juntos, os três são uma constelação, movendo-se entre o jazz, o hip hop, o drum and bass, a electrónica, o disco — não como géneros, mas como estrelas que orbitam ao redor de um núcleo comum, um núcleo que é pura energia criativa.

Cada concerto de LANA é uma explosão, onde o acústico e o digital se fundem em tempo real, onde as texturas sonoras são lançadas como partículas num feixe de luz. LANA canta, toca, lança samples que são ecos de outras dimensões. João e Sebastião, companheiros de longa data, são o corpo que segura esta viagem, músicos com os quais LANA já percorreu outros caminhos, e que, agora, seguem com ela neste novo universo.

E assim, a sonoridade de LANA GASPARØTTI é única, é múltipla, é uma vibração que faz de cada concerto uma experiência que vive entre o experimentalismo do jazz e a energia cinética da IDM. Aqui, o futuro é feito de som, e o som é o que liga todas as coisas, como uma linha invisível que só pode ser ouvida.

[Um Ensaio Poético-Musicológico sobre a Mancomunação de Sons em Tempo Real]

LANA GASPARØTTI, uma artista que é filha de duas margens — a algarvia e a croata — traz consigo o perfume salgado de Lagos e o rigor de uma formação clássica. O piano clássico foi a primeira língua em que traduziu o mundo, mas, logo cedo, o jazz a chamou, não como uma resposta, mas como uma pergunta aberta, como um espaço infinito de improvisação e descoberta. Com uma licenciatura em piano jazz, LANA GASPARØTTI começou a sua travessia por bandas e géneros, explorando o que significa criar música num mundo sem fronteiras sonoras. Aqui, as suas mãos encontram o hip hop, o drum and bass, a electrónica — todos dentro da mesma constelação que ela desenha no céu de suas influências.

É no início de 2020, num mundo em transição, que LANA assume o leme da sua própria nave e inicia um projecto autoral onde a fusão não é simplesmente uma sobreposição de estilos, mas uma alquimia. Jazz como fundação, mas logo desintegrado, desdobrado em batidas fragmentadas de hip hop, envolvido pela aceleração rítmica do drum and bass e electrificado pelo pulso constante da electrónica. Foi também neste ano que venceu o prémio “Melhor Concerto Super Emergente” no Festival Emergente, um evento que marcou a sua presença no palco lisboeta do Cineteatro Capitólio, um templo onde o som encontra o silêncio.

Com o lançamento dos singles “Something in My Way” e “Mar” em 2023, LANA não apenas estabeleceu a sua voz no panorama musical contemporâneo, mas também moldou paisagens visuais, pois “Mar” veio acompanhado de um videoclipe que revelou o sentido estético que permeia toda a sua obra. Em 2024, ela lançou o álbum Dimensions — um título que reflecte não apenas a amplitude sonora, mas a profundidade de sua exploração. Cada faixa é uma dimensão, cada uma com sua própria gravidade, tempo e atmosfera. Não há apenas uma mistura de géneros, há um entrelaçamento, como se cada som ecoasse em várias direções ao mesmo tempo.

O espectáculo ao vivo de LANA é uma obra contínua, onde o improviso dialoga com a programação, o acústico com o electrónico. Ao vivo, ela é tanto pianista quanto engenheira de som, combinando sintetizadores e teclados em tempo real, criando universos inteiros com a fluidez de quem sabe que a música, tal como o espaço, está em constante expansão. Aqui, o jazz deixa de ser uma forma pré-definida e torna-se uma força cósmica, orbitando ao redor das batidas, desintegrando-se nas texturas electrónicas que LANA GASPARØTTI manipula com precisão e sensibilidade.

A sua música é mais do que um reflexo do que já foi feito; é uma proposta de futuro, onde a divisão entre o humano e a máquina se dissolve e o som torna-se a única matéria que importa.



[O Oceano Sonoro de LANA GASPARØTTI]

LANA GASPARØTTI navegou por mares de som, levando consigo a tradição clássica, o improviso jazzístico e a vanguarda electrónica. A sua jornada é um mapa sonoro, onde cada porto, cada banda, cada colaboração, acrescentou uma nova profundidade às suas composições. A partir de Lagos, no Algarve, lançou-se ao mundo, criando uma música que não respeita fronteiras nem géneros, mas que respira a liberdade de quem sabe que a arte é uma expansão constante.

O vídeo de “Mar” é um reflexo desse percurso. A canção nasce como uma onda tranquila, movida pelo poder gravitacional do piano e da voz de LANA, mas, à medida que avança, as marés sonoras ganham força, misturando-se com batidas electrónicas, como se o mar encontrasse uma nova forma de dançar. É mais do que uma simples canção — é um retrato da sua essência artística, onde cada nota carrega a vastidão de uma paisagem líquida e infinita.

Olhando para a obra de LANA GASPARØTTI, encontramos uma artista que desafia convenções, que cria em tempo real e que nos convida a viajar entre o acústico e o digital, o conhecido e o inesperado. A sua música é um convite para perdermos o pé e mergulharmos num oceano sonoro sem fim, onde as marés de jazz, hip hop, drum and bass e electrónica nos transportam para um lugar onde o som é vida, e a vida é som.

Escutar LANA é sentir essa imersão, e depois de “Mar”, é impossível não querer continuar a viagem, navegando nas dimensões de som que ela constrói, sempre com uma nova onda prestes a chegar.


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