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Fotografia: Marta Santos Visuals
Publicado a: 18/06/2020

Enquanto as discotecas não abrem, a festa faz-se na Internet.

Diana Oliveira: “A produção chega como uma necessidade de expressão”

Fotografia: Marta Santos Visuals
Publicado a: 18/06/2020

No princípio deste mês, a Discotexas apresentou Goal, o trabalho de estreia de Diana Oliveira. A criativa, “que contribuiu para a disseminação de influências mais underground entre os amantes da cultura da música electrónica” enquanto parte do colectivo RDZ, afirma-se como produtora com três faixas voltadas para o club.

Marcado pela sua experiência enquanto DJ, o trabalho de Diana vai encontrar conforto no techno e em breakbeats nocturnos, focados na pista de dança, seja no four-to-the-floor dinâmico de “Shut Off”, nas texturas mais sedosas de “Goal” ou na mais hipnótica e dub-influenced “Stuck In My Head”. Esta variedade demonstra um aparente ecletismo nas diferentes influências, ambientes e pistas de dança para que Oliveira se volta, lembrando – no que toca a lançamentos deste ano – Abismo de Savant Fair ou até Sons Pa Curtir de DJ Paulo, por exemplo; e também alguma da estética encaixaria perfeitamente na Discos Paraíso.

A presença da voz da produtora dá mais foco ao seu lado pessoal e emocional, remetendo para alguns temas de house, como o icónico (e quase cliché) “Winona” de DJ Boring. Mas aqui é explorada de maneira mais criativa no último tema do EP, como se parte do instrumental se tratasse.

Em conversa com o Rimas e Batidas, o membro mais recente da família Discotexas falou-nos sobre o seu percurso enquanto DJ e produtora, a realização de Goal e a maior representatividade feminina no contexto da música electrónica.



Vens do jornalismo, mas não és uma novata nos caminhos da música. Fala-nos um pouco do teu percurso enquanto DJ, produtora e também do teu trabalho com a RDZ.

O meu percurso começa um pouco antes da entrada na faculdade, na altura vivia ainda em Braga com a família e todos os fins-de-semana entrava num comboio em direcção ao Porto, cidade onde criei grandes amizades, trabalhei e, mais tarde, quando chegada a altura de escolher qual faculdade entrar, não houve dúvidas que seria ali o meu novo capítulo.

A minha admiração pela figura do DJ foi aumentando na altura em que trabalhava no Act. As noites como as React ou noites como as de DJ Vibe foram-se tornando um fascínio cada vez maior, não só pela música, mas também pela energia vivida entre público e DJ.

Comecei a pesquisar sobre os artistas, a comprar música e a aprender com amigos, é nesta altura que entra também a RDZ na minha vida. A RDZ foi o meu primeiro apoio, ajudou-me muito no meu crescimento, juntei-me a um colectivo com vários artistas, que também estavam numa fase de crescimento, onde criei oportunidades para poder mostrar o meu trabalho e desenvolver o meu percurso. 

Tudo isto acontecia ao mesmo tempo que estudava Comunicação Social. Jornalismo era o percurso que achava que tinha escolhido para mim. Trabalhei e estudei querendo sempre assegurar o tal “plano B” – há quem diga que sem um canudo não és nada, o que não importa muito quando o teu foco e paixão começam a convergir para outro lado. Com uma agenda bem composta, manter o trabalho como jornalista começou a tornar-se incomportável, foi aí a minha separação do jornalismo e o início da minha carreira.

A produção chega mais tarde, há cerca de três/quatro anos, como uma necessidade de expressão. Com avanços e algumas paragens, tem sido um processo contínuo de aprendizagem, que requer tempo e dedicação que nem sempre foi possível manter. O apoio e troca de conhecimentos com alguns colegas fizeram-me sem dúvida crescer e evoluir até ao ponto em que os feedbacks que recebia me deram o input que precisava para começar a mostrar a cada vez mais pessoas as minhas músicas e a testá-las ao vivo.

O que está por trás desta tua estreia, deste EP?

Este EP retrata toda a viagem a que te propões desde o momento que estabeleces um objectivo na tua vida, seja ele pessoal ou profissional, sabes que entras numa montanha russa de sentimentos até tudo encontrar o caminho certo. Eu propus-me a conseguir lançar os meus próprios temas, foquei-me nisso e estou muito feliz que mais esta etapa tenha sido conseguida.

Onde foste buscar estes samples de voz? Vêm de algum lugar especial ou foi só digging certeiro e eficaz, sem nenhum conceito pensado?

Os samples são meus, é a minha voz e são histórias pessoais, passadas para o papel, posteriormente usadas para dar expressão às músicas. Espero que agora também elas possam dar expressão a histórias de outros e que muitos se conseguiam rever nelas. 

Imagino que esteja a ser difícil conceber este disco e lançá-lo numa altura em que não dá para dançá-lo em parte nenhuma, não?

Todo o processo já estava agendado antes de sequer se imaginar esta pandemia. Quando tudo começou a fechar, chegámos a ponderar atrasar o processo, mas porque não também avançar? As pessoas estão em casa, mas continuam a ouvir música e, se calhar, de uma forma até mais atenta, muitas já as dançaram através dos streamings, da rádio e esperemos que brevemente nos clubes.

Que material usaste para a produção de Goal? Foi tudo à base de DAW, ou usaste algum hardware?

Sim, o processo foi todo feito através do Ableton Live, alguns plugins e a gravação da minha voz.

Como se dá a tua ligação à Discotexas?

O Luís [Moullinex] e o Bruno [Xinobi] foram dois dos artistas a quem foram mostradas as minhas faixas e o feedback foi muito positivo. A partir daí foi o desenrolar de conversas e todo o processo normal, onde me foi dada a oportunidade de lançar o meu primeiro EP pela Discotexas, o que me deixou muito feliz por me poder juntar com o meu primeiro lançamento a um leque de artistas incríveis.

Tens algum trabalho pensado para os próximos tempos?

Sim, já tenho mais alguns projectos acabados, mas ainda sem datas de lançamento. Agora quero aproveitar este meu primeiro Goal.

E quanto a colaborações? Tens algumas já agendadas? E parcerias de sonho, com quem gostarias de trabalhar?

Nada agendado, mas algo que está a ser pensado também. Sem dúvida que as parcerias podem ser mais valias em todos os sentidos, mas especialmente na troca de conhecimentos e evolução que te podem trazer.

Como vês o panorama da música electrónica actual? Tens sentido uma maior representatividade das mulheres neste meio?

Antes desta pandemia sentia um grande crescimento, agora depois de quase três meses confinados em casa e com regras de distanciamento, receio que isto possa afectar o movimento, que vive exactamente do oposto do que é o “distanciamento social”. Torna-se complicado prever o que pode vir a acontecer, resta-nos aguardar que tudo volte de alguma forma ao dito normal e que esteja para breve a abertura daquilo que alimenta este movimento, que são os eventos e os clubes. 

Em relação à representatividade das mulheres, continua a ser menor que a dos homens, é certo, mas por outro lado sente-se um maior crescimento e com cada vez mais força, desde o lançamento de novos eventos, a labels ou clubes com mulheres a liderar. 


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