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Publicado a: 12/04/2016

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[TEXTO] Amorim Abiassi Ferreira

Denzel Curry tem 21 anos e vem da Flórida. Conhecido pelo álbum Nostalgic 64, com faixas como “Parents” e “Threatz“, o nome dele tem corrido a Internet após o seu concerto no SXSW ter sido interrompido. Ao ver o seu set cortado, ele decidiu saltar para o meio do público, soltar freestyles e partir em corrida pela cidade seguido pelos fãs. Temos um vídeo exclusivo deste episódio incrível filmado por Miguel Leite, co-fundador da Tradiio.



No segundo disco de Denzel Curry, Imperial, o rapper mostra-se mais agressivo e selvagem. As letras continuam a não desapontar, misturando um retrato vivo da zona em que cresceu com todas as referências culturais que fizeram parte da sua infância. Com participações de nomes de peso como Joey Bada$$ ou Rick Ross, este álbum, lançado gratuitamente, mistura trap e hip hop nas suas vertentes mais pesadas e viscerais, um óptimo acrescento a qualquer dia que precise de uma boa dose de adrenalina.


 


 

“This is the wrath of Aquarius / I am the black metal terrorist, ain’t no comparison / Humanitarian, bitch I’m a veteran / Better than anyone comprehend”.

O disco de Denzel entra em cena com a quinta engrenada e prego a fundo. Todas as faixas da primeira parte são assaltos intensos que não largam o osso até ao último momento: “ULT”, o grande titã desta secção, tem synths flutuantes numa música que ganha agressividade com um baixo 808 saturado, a voz de Curry e um dos melhores refrões do projecto. Aqui, dois dos pontos mais fortes de Imperial estão em evidência: pulmão de capacidade acrescida e mensagem entregue com o maxilar cerrado. Em “Sick & Tired”, uma cama com um piano repete-se sem fim, enquanto uma voz infectada de desespero nos fala em emboscadas e o hook melodicamente entoa: “Who’s that peeking in my windows? / Baby, please pass the extendo”. O álbum reduz a velocidade a partir da sexta música, criando condições para que o rapper nos mostre um pouco mais de flexibilidade. “Pure Enough”, tem uma mensagem introspectiva e influência de cloud rap na produção. “If Tomorrow’s Not Here”, é das faixas mais surpreendentes escapando à linha coerente do disco: acordes soltos de guitarra, um cowbell que marca o tempo e o refrão soulful, pela voz de Twelve’Len. Se o álbum começa como um tijolo atirado do último andar então a saída é feita por uma carpete felpuda.

O rapper que foi conhecido por herdar a influência dos anos 90’s de Memphis e ter sido um membro do colectivo Raider Klan, parece ter deixado para trás todas as bandeiras que não fossem a dele. O flow de Denzel Curry tem uma precisão avançada, aproveitando todo o volume dos pulmões para nunca deixar as rimas triplas meterem-se no caminho da entoação. A fraqueza desta técnica, usada em excesso, encontra-se no risco de monotonia em projectos de maior duração, que até hoje ele tem evitado. Denzel Curry parece determinado a manter a independência, e talvez isso seja o que vai fazer os projectos dele soarem sempre a algo diferente e intenso.


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