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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 01/08/2022

O cantor e produtor actua esta semana no MEO Sudoeste.

Deejay Telio: “Eu gosto de ser curto no que toca à música”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 01/08/2022

Entre cachupas, o Rimas e Batidas encontrou-se com Deejay Telio num dos mais badalados restaurantes da especialidade em Lisboa, o Fox Coffee, para falar sobre o novo EP do artista nascido em Angola. Ao que parece e contra as expectativas, o zodíaco chinês pouco lhe interessa e é mesmo do Brasil que vem grande parte da inspiração para Olho de Tigre.

Numa curta análise faixa-a-faixa, o artista explicou-nos o que se passava na sua cabeça enquanto pensava cada um dos temas e ensina-nos que os beats não se fazem a olho — nem que seja de tigre –, antes com os ouvidos apurados e voltados para os gostos próprios, independentemente da duração de cada canção.



A última e primeira vez que falei contigo foi a propósito do teu espectáculo digital, que transmitiste em directo já na recta final do ano passado, a Deejay Telio Experience. Como é que isso correu?

Correu bem e o pessoal reagiu de forma muito fixe e esteve atento. Os números foram fixes e o pessoal parece mesmo ter curtido do conceito.

Entretanto lançaste um EP e participaste num banger, o “Europa”.

O “Europa” foi [feito] uma vez que estava no estúdio do Mizzy Miles e ele estava mostrar-me umas vibes. Eu não estava a sentir nenhum deles e pedi-lhe para me mostrar os beats para o projecto dele mesmo. Só que sempre que eu ouvia um que gostava ele dizia “este é para este, este é para aquele”… já estavam os beats todos alugados e quando ouvi o do “Europa” não disse nada… Achei que também já tinha dono, mas ele lá me perguntou, “não gostas deste? Este ainda não tem ninguém”. “Claro que gosto!”. Começámos a vibar [canta a sua parte de “Europa”] e gravámos logo o refrão.

E o Gson e o Teto: como é que entram na equação?

Isso depois foi o Mizzy que foi atrás das colaborações — com a minha aprovação, claro. Foi a única coisa que lhe pedi. Primeiro foi o Gson e ele depois conseguiu chegar ao Teto. Ele estava por cá em tour, lá conseguiu o contacto dele e acabou por acontecer este ganda banger.

O teu novo EP chama-se Olho de Tigre e está claramente associado à temática do ano novo chinês, já que este é o ano do tigre. Mas também já te ouvi dizer que não ligas muito ao tema. Afinal, de onde é que vem mesmo o título do álbum?

Não tem mesmo nada a ver, foi um nome criado na inocência. Tudo começou no Brasil quando eu e o Ericson fomos lá trabalhar e conectar com artistas. Passávamos muito tempo com o Rennan [da Penha] a trabalhar e ele chamava-me muito “Telio Tigre”. Do nada, o nome colou e lá a malta chamava-me assim. Já cá, em Portugal, andávamos a pensar num nome para o disco e não saía nada, mas aquele “Telio Tigre” tinha deixado marcas em mim. Então, surgiu a ideia do tigre, mas ficou por ali. Tigre era uma cena bué vaga, mas antes de tudo isto tinham-nos oferecido umas pulseiras daquelas com cristais de energia, que eram feitas com uma pedra chamada olho de tigre. Nós nem nos lembrámos na altura, mas de certa forma parece que estava tudo alinhado e tudo a apontar para ali: Olho de Tigre. Na verdade, só depois de termos a ideia do olho de tigre é que viemos a saber que este era o ano do tigre, portanto nem é por aí.

Tu és muito activo e estás sempre a lançar sons. Tens até essa reputação de meteres muitas coisas cá fora, mas o teu último álbum é de há dois anos. Foste lançando singles e agora trouxeste-nos um EP só com cinco faixas. O que é que se passou?

Eu só não quis mesmo ter uma cena com muita música. Não queria muitas faixas e tinha dito isso já desde o início em que, no máximo, queria sete. Mas depois… passou para seis e, eventualmente, ficaram só cinco. 

Sinceramente, eu até fazia um projecto só com três faixas se eu estivesse só a sentir as três, mas senti cinco. E, atenção, porque eu gravei algumas 17 faixas. Gravo sempre pelo menos o dobro para depois poder ter um certo conforto em escolher e não o fazer sob pressão. Mas, ya, esta acabou por ser uma cena mais curta e objectiva.

Notei uma coisa curiosa no disco que é: ainda que sejam poucas faixas, soam todas muito diferentes umas das outras. A primeira — o “Teto de Estrelas” — soou-me um pouco clubbing, mais house…

Fui mais numa de conduzir à noite. Eu adoro conduzir à noite e o “Teto de Estrelas” foi nesse sentido. É aquela cena de pegares no carro, estares a ir para casa à meia-noite, super tranquilo, sem ninguém na estrada. O próprio beat puxa por esse lado, para estares tranquilo, na tua e na boa, a bazar.

O “Bon Appétit” já foi uma cena mais diferente do que eu habitualmente faço. Puxo sempre para o lado do club e cenas do género e raramente falo assim de damas. Este tema foi uma coisa mais soft.

Já o “Cara que Engana” com o Julinho era uma coisa que tinha de acontecer. Eu tinha de fazer uma vibe com ele. Não foi muito pelo que é que havíamos de falar. Já tínhamos combinado fazer uma vibe e foi uma questão de avançar. 

Apareceu um beat que agradava aos dois…

Estava lá no estúdio com o Mr. Marley a fazer umas vibes e ele acabou o beat, fizemos um refrão e estavam lá uns tropas meus no estúdio. Perguntei-lhes, “quem combina nessa vibe?” e a resposta foi logo: “Julinho!”. Liguei-lhe no dia seguinte na hora e no dia seguinte ele apareceu no estúdio e acabámos a vibe. Era mais uma cena que tinha mesmo que acontecer. 

O “Emodi” já é mesmo a puxar para o club. Pensei que tinha que ter ali “padrada” para a gente rebentar com tudo. Foi nesse sentido, era para fazer um estrondo.

E ainda tens o “Barra da Tijuca” com o David Carreira. Como é que aparece o David Carreira no meio deste grupo todo, já que ele é capaz de ser um nome que normalmente não associaríamos ao teu Pelo título do tema, também tenho que perguntar se há aqui alguma relação especial com a tua estadia no Brasil.

Foi feita cá.



Pena, dava uma história melhor se tivesse sido feita lá…

[Risos] Exacto! Mas foi mesmo cá. A ideia, por acaso, trouxe de lá. Quando gravámos o tema já tinha o beat há seis meses. Esteve ali a marinar, a marinar… no móvel e no computador, mas não se fazia nada. Nessas brincadeiras do “Telio Tigre”, Telio isto, Telio aquilo, a voltar para a tuga comecei a ter ideias: tinha que fazer um som que se chamasse “Barra da Tijuca”. Já em Portugal começámos a executar e eu tinha a mesma cena com ele que tinha com o Julinho. Eu e o David já nos tínhamos convidado mutuamente para participações, mas era sempre “para a próxima entras tu no meu”, “não, tu no meu”. ‘Tás a perceber? Foi um bocado isso.

Era devido.

Tinha que ser, já estava na hora. Criámos a vibe na hora e fizemos acontecer também.

E o EP foi sobretudo produzido por ti, já percebi.

Sim, menos o “Cara que engana”, que é do Marley. 

Há um tema que eu gostava de abordar e que não é propriamente uma particularidade do teu EP, mas que é uma moda em que ele encaixa perfeitamente: a duração das músicas. Estes temas têm uma duração de três minutos e poucos segundos. Há uma mais curta, que nem chega aos três minutos. Nós sabemos que as músicas estão a ficar mais curtas, a música foi apresentando uma tendência para ir decrescendo em duração. Eu tenho uma teoria sobre o que faz com que isto aconteça, mas gostava de ouvir a tua opinião como um artista que é muito forte sobretudo no meio digital.

Eu só posso falar por mim. Eu gosto de ser curto no que toca à música. Por mais que o tema seja mesmo muito bom, eu não vou querer encher chouriços. Se já ouviste um granda pré-refrão, um granda refrão, ainda levaste ali com uns versos, pré-refrão novamente, mais um refrão… a música vai acabar. Tu já não vais tirar muito mais dali. Até porque depois chega a uma parte em que eu, sozinho, vou-me achar repetitivo.

Por isso, se eu vejo que o tema já vai ali nos 2min e 40s, 2min e 50s… se bater nos 3 vou só deixar o beat acabar. Basicamente é isso, mas ainda tens músicas minhas mais curtas. Há temas meus mais antigos que andam à volta dos 2min e 15s [“Festa de Kizomba”, por exemplo, tem 2m e 3s, ou “Há Condições” tem 2m e 17s, dos álbuns Karanganhada 2 e X Hits, respectivamente].

Mas, geralmente, é verdade, os meus temas duram sempre entre 2min e 40s ou 3 min. Só se for com uma participação. Assim já vamos aos 3min e 20, por aí. Como entra mais uma pessoa, estica logo o tempo automaticamente. 

E na tua cabeça não tens a voz das redes sociais e dos TikToks?

Não, não… essa conversa de “a música tem que…”. A música não tem que nada. A música tem que te agradar a ti que estás a fazer. E tu vais pensar, “esta eu acho que se sair o people vai curtir”, mas as pessoas vão receber o que tu lhes entregas. E eu acho que quem exigia esses 3 ou 4 minutos não era quem consumia, eram as discográficas talvez por causa das rádios e assim. Mas agora não existe nada disso. 

E porque é que nunca te associaste a uma label maior. Não vês vantagens?

Realmente, se houvesse vantagens já estaríamos metidos numa coisa dessas. Mas, felizmente, começámos a traçar o nosso caminho com muitos erros. Faz parte, com os erros aprendemos muito e, hoje em dia, graças a Deus, estamos assim: a errar na mesma e a aprender. Mas agora andamos assim, é só SAF, SAF, SAF e SAF. Com parcerias, claro, mas na linha da frente só SAF.

Já estamos no Verão, vêm os grandes palcos dos festivais e imagino que estejas bem posicionado nesse campo. Onde é que vais tocar?

Vamos ter o MEO Sudoeste, mas de resto é o circuito tradicional das festas e romarias das câmaras municipais. 

E vais estrear este material novo ou já o fizeste?

O único que eu vou cantando é o “Cara Que Engana”, porque já tinha saído em single há mais tempo. O resto ainda não adoptámos para o show, mas espero no Sudoeste já começar a executar algumas coisas novas.

E vais apresentar-te como sempre com banda?

Sim, claro.

A última vez que falámos contei-te isto, mas conto outra vez para não te esqueceres: a primeira vez que vi um concerto teu, eu não estava a par do teu trabalho. Reconhecia o teu nome, mas não conhecia as tuas músicas. E qual não é o meu espanto quando eu vejo um tal de Deejay Telio entrar em palco acompanhado de uma ganda banda a partir tudo. Afinal não eras nenhum DJ!

[Risos] É essa a cena. A ironia que atrai a quem não conhece.


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