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Publicado a: 11/06/2017

Death Grips no NOS Primavera Sound: Bem-vindos a um novo mundo disfuncional

Publicado a: 11/06/2017

[TEXTO] Rui Correia [FOTO] NOS

O palco ‘.’ continuou a oferecer brindes de disrupção sonora como não acontece noutros espaços deste festivsl (ainda se lembram dos Sleaford Mods?). A música violenta de Death Grips destilou sensações de mal-estar que foram abraçadas por um público que vê neles um grupo profético contra a falsidade da sociedade.

Acreditamos piamente que habitaram no palco 3 seres alienígenas: Zach Hill, o baterista-monstro imparável que nunca soube abrandar (é difícil não recordá-lo ainda dos tempos da banda math-rock Hella); MC Ride de goela esticada ao máximo como um verdadeiro frontman de hardcore que puxa por rimas ininteligíveis, muitas vezes, que fazem tremer a concepção de rap; e Andy Morin, engenheiro de som da banda, tornado membro ao vivo e responsável pelos sintetizadores e programação. No fundo, o condutor que equilibrou todas as fases do ruído desestabilizador que saiu das colunas.

As fundações do NOS Primavera Sound abanaram e os terrenos fronteiriços ao palco foram decalcados pelo noise-hop, uma extensão perversa de rock industrial tornado em hip-hop levado ao extremo (o Kanye West estabeleceu-o no mainstream aquando do álbum Yeezus, claramente influenciado na arte dos Death Grips). As reacções frenéticas que se fizeram sentir pela grande maioria do público presente saíram intensificadas pela sua estreia adiada em solo nacional (já tinham cancelado um concerto no NOS Primavera Sound em 2012) e foram uma declaração de inconformismo traduzido em headbanging, abertura de clareiras para mosh, crowdsurf e infelizmente também em convulsões (já a meio do set, em “Giving Good People Bad Ideas”, saiu disparado um grupo de pessoas do meio da confusão, transportando um rapaz num estado de saúde debilitado). Não restam dúvidas que um grande grupo de pessoas veio com um único propósito a este festival: presenciar e repetir letras espicaçadas de um acto isolado no marasmo de canções convencionais que completa uma grande fatia deste e muitos outros festivais mainstream.

A música de Death Grips soa à banda-sonora de uma revolução por acontecer, não em palco, não na televisão, mas em meios online, por meio de ciberataques de destruição massivos, comandados a partir de quartos obscuros, orquestrados por uma sociedade oculta com sede de mudança global. Vislumbrámos, durante uma hora, o caótico início de uma nova era influenciada por música anti-sistema paga para actuar. Contradições de um mundo que só vê números.

 


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