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Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 14/05/2021

Saber amar.

David & Miguel no Teatro Tivoli BBVA: um singelo cruzamento entre palavras e sentimentos

Fotografia: Manuel Abelho
Publicado a: 14/05/2021

Ainda não eram oito da noite e já o DJ António Bandeiras aquecia o Teatro Tivoli BBVA. David & Miguel, a dupla romântica de personagens encarnadas por David Bruno e Mike El Nite, preparava-se para dar o primeiro concerto do seu primeiro álbum: Palavras Cruzadas. O aquecimento fazia-se com mel, amor e dor, a mesma matéria das canções deste disco que chegariam a palco poucos minutos depois.

Foi ainda com muita gente a acomodar-se na sala que os músicos começaram a dispor-se em palco, um a um. Depois de Bandeiras foi a vez de Marco Duarte assumir a sua posição, começando-se de imediato a ouvir os memoráveis riffs de “Passadiços Do Paiva”, tema que abre Palavras Cruzadas, e que abriu também o concerto, com a grandiosidade que se pretende. Chegou depois Miguel, e de seguida David. Estava completa a dupla, a banda estava posicionada e começou-se a matar a sede.

Antes de seguir pela música, é impossível falar ou escrever sobre este concerto sem relatar o seu contexto. Este foi o primeiro espectáculo do ano para muita gente e essa vontade de regresso, essa sensação de ter a normalidade ali tão perto, ajudou a que assim que se ouviu o primeiro segundo de som se sentisse uma espécie de onda de alívio e leveza que atravessou toda a sala. Tudo isto sentia-se não só do lado do público, mas também no palco a alegria era óbvia, quer nas caras de cada um, quer nas frases de alívio por finalmente se estar a apresentar um trabalho claramente muito querido para a dupla, e que já estava pronto há tempo demais.

Mas voltemos à música. Palavras Cruzadas é uma travessia romântica pelo país, uma viagem coberta por mel que vem do mundo inteiro. Depois da guitarra chorosa – e como chorou a guitarra de Marco Duarte nessa noite – de “Passadiços do Paiva” veio “Sónia”, que é já o indiscutível segundo hit do álbum, a seguir a “Inatel”. Até há poucos meses não seria fácil imaginar uma plateia inteira a gritar o nome “Sónia” a plenos pulmões, mas é Maio de 2021, e aqui fez todo o sentido. E dávamos, finalmente, entrada em “Inatel”, desafio maior para rabos irrequietos obrigados a ficar nas cadeiras. Hit monumental inspirado em críticas do Booking, o tema foi atirado logo à terceira, seguindo-se assim o alinhamento do disco.



Depois, o sofredor Miguel e o galã frio David seguiram viagem até ao segmento do concerto “com bolinha vermelha”, como assegurava o primeiro: entrámos nos “Dias de Varão”, dedicado por David às “casas de Alterne de Vilar Formoso”; escorregámos no veludo das paredes até “H2ON”, a primeira música que David Bruno escreveu sobre a grande Lisboa. Sem arrependimentos, disse-nos David. E ainda bem.

Pausa para o “Momento Marquito”. Viram-se todas as luzes para o guitarrista e a guitarra chora mais um bocadinho de mel. Do “Amor Pago”, ainda na temática bolinha vermelha, vamos para a “Rosa”, que fecha o disco, trazendo um momento de performance maior: em palco, Miguel sofria, Bandeiras transformava a rosa que sempre transporta nesta Rosa que tanto fez Miguel sofrer e David, impávido, calçado com umas botas texanas que comprou à mulher de um recluso e com aquela pose que garante: “eu avisei que ela te ia fazer sofrer”. Fecho épico do alinhamento de Palavras Cruzadas, mas o concerto ainda não tinha acabado. No fim, voltámos ao início, ao tema que fez nascer esta colaboração: “Interveniente Acidental”, a colaboração definitiva de Mike El Nite e David Bruno, que aí ainda não eram oficialmente David e Miguel (a não ser nos respectivos cartões de cidadão, claro).

No encore, e perante um disco com apenas oito músicas, aconteceram duas repetições: “Sónia” e “Inatel”, temas que souberam bem ouvir de novo para quem chegou a horas ao concerto, e que terá sabido ainda melhor aos muitos que não se habituaram ainda aos horários mais antecipados.

No final, a alegria do início. Os rabos levantaram-se da cadeira, pediu-se nudez ao DJ e a organização das saídas quase se desorganizava. Quase. Eram nove da noite e o concerto chegava ao fim, ainda a tempo do jantar. Final quente para um concerto que esteve sempre aceso, e que implora pela continuação da dupla David & Miguel. Um duo que traz um prazer puro a palco, com aquele tom genuíno de quem parece estar a começar, mas com a produção e a confiança de quem sabe muito bem o que faz, e o que quer fazer. Foi a primeira paragem desta caravana do amor. Os horizontes são largos.


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