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Fotografia: John Abbot
Publicado a: 12/04/2023

Um trompetista que não tem tido mãos e medir e que está de regresso ao nosso país.

Dave Douglas: “Joey Baron ainda me surpreende a cada momento”

Fotografia: John Abbot
Publicado a: 12/04/2023

É muito certamente uma questão de conjuntura, um sinal dos tempos, mas é igualmente uma das mais interessantes e relevantes facetas do jazz moderno ou, pelo menos, de alguns dos seus principais protagonistas – a repartição de energias por múltiplos projectos paralelos, muitas vezes apontando em direcções quase opostas. A pulverização dos circuitos clássicos de jazz, o crescimento de festivais a nível internacional e até os desenvolvimentos das tecnologias facilitaram essa via “esquizofrénica” aos músicos modernos. Tome-se o exemplo de Dave Douglas, sem dúvida um “hard working man” permanentemente envolvido em múltiplas frentes de criativo ataque.

No ano em que assinala exactamente quatro décadas volvidas sobre a sua primeira participação num disco, o trompetista e compositor continua a recusar-se a tirar o pé do acelerador e mantém uma carregada agenda de edições – o ano passado viu saírem dois trabalhos do quinteto que lidera, um terceiro a solo e um quarto em colaboração com Bill Laswell e Hideo Hamaki – e uma ainda mais preenchida agenda de apresentações ao vivo: até ao final deste mês que já vai a meio fará ainda uma dúzia de concertos, incluindo um par deles com o projecto Sound Prints que mantém com Joe Lovano e uma dezena com o seu companheiro de décadas Joey Baron, baterista com uma história igualmente rica com quem dividirá o palco em quatro datas nacionais – Espinho (14 de Abril, Auditório de Espinho), Braga (15, gnration), Lisboa (16, Culturgest) e Coimbra (17, Salão Brazil). 

Dave Douglas é um dos mais desafiantes protagonistas do jazz moderno, alguém que inteligentemente soube assimilar a tradição e encontrar o seu lugar na história sem se demitir do trabalho sempre difícil e complexo de procurar novos caminhos para o futuro. Esta é a curta entrevista que nos concedeu antes deste périplo nacional.



Lembra-se de quando se cruzou pela primeira vez com Joey Baron? Encontrei ambos nos créditos de uma compilação de gravações ao vivo feitas na Knitting Factory e lançadas em 1991, mas cada um de vocês estava a tocar em conjuntos diferentes…

Eu tive a primeira oportunidade de tocar com Joey Baron no conjunto de Tim Berne, no Roulette, em 1990.




Joey é alguns anos mais velho que você, mas ambos chegaram a Nova Iorque mais ou menos na mesma época, nos anos 80. Na altura, o que é que a cidade tinha que a tornava capaz de atrair todos estes diferentes talentos?

Como sempre, a energia criativa em Nova Iorque é completamente cativante. O que me atraiu foi perceber que as pessoas estavam a tocar e a misturar todo o tipo de música nova. Era uma cena onde havia muitas pessoas com estilos muito diferentes, todas a tentar coisas diferentes. O Joey era um deles!

Vocês trabalharam juntos recentemente no projecto Dizzy Gillespie Zero Gravity e também no contexto da banda Sound Prints que você e Joe Lovano lideram, certo? Pode falar um pouco sobre cada um destes projectos?

Joey Baron tocou em vários dos meus projectos em sexteto: In Our Lifetime (1994) para Booker Little, Stargazer (1996) para Wayne Shorter, Soul on Soul (1999) para Mary Lou Williams, e, mais recentemente, Dizzy Atmosphere: Dizzy Gillespie at Zero Gravity, lançado na Greenleaf Music. Ele tem sido um membro crucial desta banda juntamente com Uri Caine, James Genus, Chris Speed, Josh Roseman, Greg Tardy, Fabian Almazan, Matt Stevens, Carmen Rothwell, e Dave Adewumi. Incrível elenco de personalidades. Tenho muito orgulho de ter sido capaz de trazer Joey para essa aventura.

A Sound Prints começou há cerca de 10 anos e tanto o Joe Lovano como eu sabíamos que precisávamos de ter o Joey Baron na banda! A sua flexibilidade e a sua capacidade de criar faíscas na banda têm sido inestimáveis!

E quanto aos espectáculos que ambos vão fazer em Portugal como duo? Já se decidiram por uma abordagem específica a essas datas em termos de repertório? Suponho que a vossa longa história juntos conta como um grande ensaio e que agora cheguem ao palco sem muito planeamento?

Espontaneidade! Descobrimos à medida que avançamos. Tudo está ao nosso alcance: músicas, improvisação, som, interacção, e acima de tudo a atmosfera do público.

Joey ainda é capaz de o surpreender quando tocam juntos ou já se conhecem demasiado bem para isso?



Oh absolutamente e constantemente: o Joey ainda me surpreende a cada momento!

Segundo Discogs, o seu nome apareceu pela primeira vez num álbum há exactamente 40 anos: tocou em algumas faixas de um disco do guitarrista japonês Makoto Okai… Ainda se lembra da sensação de quando estava a entrar nesta indústria pela primeira vez?



Lembro-me bem de mergulhar os meus pés pela primeira vez na cena musical profissional e até hoje devo confessar que ainda me sinto como um principiante.

Esse site lista mais 230 discos em que participou. Essa é uma discografia bastante vasta, mas suponho que não esteja nem perto de estar completa. Você mantém registos?



Na Greenleaf Music nós tentamos manter o registo destas coisas. Mas para mim, pessoalmente, cada um dos meus próprios álbuns é como uma criança que eu alimentei e em que dei o máximo. Cada um deles é querido e eu nunca esquecerei nenhum deles. 
 


O que podemos esperar ouvir mais de si este ano?

Há um novo álbum na Greenleaf Music intitulado If There Are Mountains – peças para voz e banda que co-criei com o pianista Elan Mehler. Escolhi fazer peças a partir de Haiku e eles são muito bonitos – cantados por Dominique Eade. Há mais informações no site da Greenleaf Music.

Eu estava a ler uma entrevista que deu à Jazzwise no ano passado em que mencionou como a The Smithsonian Collection of Classic Jazz que o seu pai possuía foi tão importante para o guiar nesta direcção musical. Posso entender como uma pequena colecção com curadoria cuidada como essa pode inspirar uma pessoa jovem. Hoje, acha que ter acesso instantâneo a basicamente toda a música jamais gravada torna mais fácil ou mais complicado encontrar uma direcção?

Eu não sei a resposta para isso e é uma questão sobre a qual pensei e que discuti com várias pessoas muitas vezes ao longo dos anos. Tudo o que eu sei é que vamos descobrir porque já não há volta a dar.

Finalmente: alguma coisa específica que você gosta de fazer sempre que vem a Portugal?

Eu só tive uma oportunidade de ir à praia em Portugal e espero um dia ter oportunidade de repetir a experiência. 


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