pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 02/09/2022

Fogo latino.

Danny Krivit inaugura as Mr Bongo Edit Series

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 02/09/2022

É a 21 de Outubro que a Mr Bongo lança Mr Bongo Edits Volume 1, um 12″ que apresenta um par de temas de tonalidades latinas cuidadosamente retocados pelo veterano Daniel Krivit.

Bill Brewster e Frank Broughton, no livro Last Night a DJ Saved My Life, ilustravam na perfeição uma história que se revela afinal um longo processo de micro-mutações e fluidos gestos de génio e nunca uma sequência de esforços isolados e invenções nascidas de geração espontânea. A música de dança tal como a conhecemos hoje – e principalmente as tipologias mais dirigidas ao centro da pista, como o house – não nasceu, antes foi nascendo, fruto da necessidade do DJ gerir da melhor maneira não apenas os recursos musicais disponíveis, mas igualmente a atenção do público que, no centro do clube, procurava incessantemente o estímulo rítmico ideal.

Como em tantas outras coisas, Nova Iorque foi o palco para muitos destes avanços revolucionários. Na primeira metade dos anos 70, quando a descoberta da vocação orquestral do funk e da soul forneceu o impulso que levou ao nascimento do disco sound, os DJs começaram a experimentar, usando a cabine como laboratório de ensaio e o público na pista como as suas cobaias. O facto de na época a maior parte dos lançamentos ser ainda em vinil de 7 polegadas representava alguns problemas: o som era muito baixo e os temas demasiado curtos para permitirem ao DJ encarar cada disco como uma etapa de uma viagem mais alargada. Por isso mesmo, e de forma diferente, pessoas como Walter Gibbons ou Tom Moulton começaram a pensar em soluções para o problema. Gibbons, por um lado, aprendeu a usar dois leitores de cassetes e a mesa de mistura para ganhar amplitude de movimentos e poder estender, ao vivo, as partes das canções que melhor eco recebiam por parte dos dançarinos. Por outro lado, Tom Moulton, descobriu, por acidente, o maxi de 12 polegadas ao prensar um edit que tinha feito no único formato disponível no momento no estúdio de masterização: um acetato de 12 polegadas! Tal facto permitiu-lhe constatar que o som geral ficava mais alto e os baixos mais profundos, maximizando assim o impacto dos seus trabalhos junto da pista.



Foi com estas duas coordenadas que Danny Krivit começou a trabalhar. E o facto de ter passado pelo mítico clube The Roxy, onde ouviu gente como Grandmixer DST (o autor do scratch no clássico “Rockit” de Herbie Hancock) a fazer com duas cópias do mesmo disco aquilo que ele sonhava ser capaz de criar com fita magnética, tesoura e fita-cola, inspirou-o a criar os seus próprios edits. Assim nasceu “Feelin’ James”, o seu primeiro edit a sério, baseado no break de “Funky Drummer” de James Brown e informado pela nascente cultura hip hop.

Um edit diferenciava-se de um remix, antes de mais nada, por causa do seu cariz ilegal, uma vez que o DJ que procurava melhorar um tema para usar nos seus sets o fazia sem ter acesso autorizado aos masters de determinado artista, transferindo ao invés disso o disco que queria editar para um gravador de bobines e cortando fisicamente a fita para retirar as partes que não interessavam – geralmente vocais – e para repetir as que funcionavam melhor – na maior parte das vezes breakdowns, quando o tema se despia até à base rítmica.

A melhor amostra dessa estratégia criativa adoptada por Danny Krivit talvez se encontre em Edits By Mr. K., uma antologia lançada pela Strut há já quase duas décadas e que reunia as suas intervenções sobre uma série de clássicos que se estendiam desde finais dos anos 60 até aos últimos anos da década seguinte. Em nomes como Diana Ross, Cymande, Betty Wright, LTD, Lenny Williams ou Sly and The Family Stone, Krivit encontrava à sua disposição uma série de momentos-chave do desenvolvimento da música negra e a matéria prima necessária para a sua procura incessante do segredo propulsor das pistas de dança. A maneira como prolongava fisicamente os momentos de maior explosão rítmica, com cortes de precisão imaculada, ajudou a definir um template para o House.

Foi com base nesse legado que a editora inglesa lhe estendeu o convite para inaugurar as suas Mr Bongo Edits. O primeiro volume chega para o próximo mês e vai ser comercializado tanto no formato digital como no físico (em vinil, claro). Por lá vamos encontrar duas novas versões conduzidas por Krivit: a primeira é para “Hotel Alyssa-Sousse, Tunisia”, da lenda do jazz afro-cubano Sabu Martinez, enquanto a segunda recupera “Lupita”, do não menos proeminente Nico Gomez.


pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos