É inegável que o TikTok tem vindo a revelar lacunas na memória musical coletiva, abrindo espaço para o ressurgimento de temas esquecidos. As novas gerações redescobrem artistas com o hit mais recente das redes sociais — como a canção apaixonante dos The Sundays, “Summertime” —, enquanto a mesma plataforma impulsiona novos nomes da pop, como Lil Nas X e Olivia Rodrigo, além de dar palco renovado a géneros como o indie rock ou o jazz.
Foi nesse contexto que, a 4 de agosto de 2023, o saxofonista Dana McWayne e o baterista Alden McWayne, dois irmãos de Eugene, Oregon, lançaram o disco Quiet Music For Young People, cujo título já parecia antecipar o impacto que teria. Entre as faixas, “Dragonfly” destacou-se de forma inesperada: um instrumental longo, delicado e sem letra que rapidamente se tornou a música mais ouvida do álbum graças ao riff climático (coloquem no minuto 4:30 saberão do que estou a falar). Mas tudo isto não foi por acaso. Alden, o irmão mais novo, conhecido pelo seu alter ego Gucci Pineapple, já tinha conquistado o TikTok com os seus vídeos humorísticos e espontâneos. Essa visibilidade permitiu que o projeto, que começou com versões de MF DOOM, Earl Sweatshirt ou Kanye West gravadas no quarto com amigos, crescesse até se tornar um fenómeno adorado pela geração Z. Pouco depois do lançamento do disco, “Dragonfly” espalhou-se pelo TikTok a uma velocidade vertiginosa. De vídeos estéticos feitos por influencers a memes, tornou-se banda sonora onipresente da plataforma. O jazz, assim, voltava a conquistar corações jovens. No ano seguinte, lançaram o segundo álbum, Coyote, You’re My Star (2024), e este ano surpreenderam-nos com a nova sonoridade do jazz DIY.
Para chegar a Speedo (2025), Dana and Alden viajaram até Lisboa para visitar o amigo e produtor Charif Megarbane — figura central da editora alemã Habibi Funk, responsável pela divulgação de música do Médio Oriente a nível global — e também músico, atualmente a viver no coração da capital portuguesa. Apesar da estadia breve, a capacidade de Dana e Alden absorverem emoções, memórias e atmosferas é ensurdecedora e imersiva. Faixas como “Lisbon In Rain” ou “Fisherman’s Dream” são verdadeiros quadros sonoros da cidade. Mas o disco não se limita a Lisboa — os irmãos convidam-nos a conhecer Eugene, Oregon, o lugar onde cresceram, rodeados por pastos verdes, quintas e o mar. Nesta entrevista à distância, falamos sobre tudo isso — a música, a infância, o jazz, o impacto do TikTok na indústria musical — e também sobre a experiência deles enquanto visitantes de Lisboa.
Estive a ver que exploraram bastante Lisboa e os arredores. O que é que visitaram?
[Dana] Fomos ao Estoril. Gravámos o álbum no estúdio do Rui de Havana, que é um engenheiro de som incrível e tem um estúdio numa cave. À noite, esse é o sítio onde ele costuma estar, então seguimos com ele até Estoril e conhecemos os amigos dele. Toda a gente era super simpática, adorei o ambiente. E foi uma loucura para nós. Em Nova Iorque não temos este tipo de associações culturais, não podes simplesmente montar uma discoteca por tua conta, isso leva anos de aprovação da câmara. Lá só temos bares. Por isso, encontrar estes espaços que funcionam como discotecas em casas ou apartamentos foi algo muito novo para nós. E eu adorei isso.
[Alden] Quando ficámos na casa do Charif Megarbane, estávamos perto de uma colina onde há um bar chamado Simos Quiosque, com uma vista incrível sobre a cidade. Têm bebidas ótimas e estavam a tocar samba brasileira. Ao final do dia, juntava-se sempre imensa gente a fumar cigarros enrolados, a beber e a curtir a música. Fomos lá cinco vezes, simplesmente não conseguíamos evitar. O miradouro chama-se Monte Agudo.
Qual foi o maior contraste que sentiram entre Nova Iorque e Lisboa?
[Alden] Nova Iorque é super barulhenta e caótica, enquanto Lisboa pareceu-nos muito tranquila e pacífica, quase como o oposto. Lembro-me de estar a passear uma noite em Lisboa e ver gatos por todo o lado, num silêncio impressionante. Foi um grande contraste com o corre-corre constante da nossa cidade.
[Dana] De certeza que para quem vive em Lisboa não pareça assim tão calmo, mas para nós, vindo de Nova Iorque, que pode ser super intensa, foi como uma travagem. Tudo parecia mais lento, mais sereno, acabando por ser o cenário perfeito para gravar o álbum, porque conseguimos relaxar de uma forma que não conseguimos sempre. E eu adorei as longas pausas para almoço. Comi bife com ovos e batatas fritas. E bacalhau também!
[Alden] Uma das minhas partes preferidas foi que metade do álbum foi gravado na casa do Sharif e a outra metade no estúdio do Rui. Começávamos a gravar logo de manhã e trabalhávamos intensamente durante horas. Depois parávamos para ir a cafés de bairro, onde o menu tinha duas ou três opções. Ao fim de alguns dias, os donos dos cafés já nos reconheciam. Nos EUA, as pessoas estão muito obcecadas com produtividade, com estar sempre a trabalhar. Em Lisboa, senti que a mentalidade era outra. O foco estava em viver bem. Claro que há pessoas muito trabalhadoras, mas o mais importante parece ser a qualidade de vida. Isso, para nós, é algo que às vezes se perde na nossa cultura.
Como é que conheceram o produtor e músico Charif Megarbane? E como é que surgiu a ideia de o visitarem na sua casa, em Lisboa?
[Dana] Foi mesmo uma daquelas coincidências mágicas. Conhecemos o Charif em Nova Iorque. Um amigo mostrou-me a música dele há uns dois anos e começámos a trocar mensagens. Durante cerca de dois anos fomos “pen pals”. No início deste ano, decidimos comprar os bilhetes e passar cerca de duas semanas na casa dele, em Anjos. E adorámos o bairro. Ah, temos mesmo de fazer um shoutout ao restaurante Zubir Churrasqueira. Gravámos lá o videoclipe da nossa música “Why Do You Even Talk to Me”, porque comemos lá tantas vezes. Era a poucos quarteirões da casa do Charif. A Nazira, que trabalha lá, foi super querida e até entrou no vídeo.
E comiam o quê?
[Dana] Muito frango grelhado! Pedíamos os pratos grandes, tamanho familiar, e sobremesa de mousse de manga.
Eu sei que são vocês que compõe as músicas, como é que o processo criativo surgiu com a presença do Charif?
[Dana] Costumo escrever muito da parte mais “cinematográfica” das nossas músicas, enquanto o Alden escreveu temas como “Don’t Run Away” e “Childhood Crush”, mais indie. Com o Charif, foi uma fusão perfeita. Partilhamos um gosto enorme por bandas sonoras de filmes, especialmente do compositor italiano Piero Umiliani. Escrevi várias músicas a imaginar cenas de filmes na minha cabeça. Quando cheguei ao estúdio, o Charif conseguiu dar-lhes vida com uma criatividade incrível, quase como se fosse fácil para ele. Eu mostrava a estrutura da música e ele enchia-a de cor.
[Alden] Desde o primeiro dia, houve uma química criativa mágica. Começávamos a tocar e era difícil parar. Quando chegaram os últimos dias da viagem, tínhamos tanto material que podíamos ter feito um álbum com 30 músicas. Algumas nasceram espontaneamente, como “Leila” ou “Rick Pablo”, ali na sala ou na cave do Rui. Aquele espaço é mágico, cheio de livros, que até ajudam na acústica. É como viajar no tempo até aos anos 70: não havia relógios, nem sinal de telemóvel, só instrumentos e microfones. Lembro-me de estar constantemente com frio naquela cave porque era inverno e depois pensei: “Vou beber vinho tinto e tocar bateria para me manter quente”.
Quando marcaram a viagem até Lisboa, vieram com a intenção de gravar um álbum com o Charif?
[Dana] Não. O álbum foi um produto da viagem. Sabíamos que íamos fazer alguma coisa, mas não sabíamos que ia ser um álbum completo. Passado alguns dias, saímos para tomar café e percebemos: “Espera, isto é um álbum”. É como se durante três dias tivéssemos entrado num frenesim criativo Assim que descobrimos o nosso som com o Charif, o que não demorou muito tempo, as canções tocaram-se a si próprias de muitas maneiras, ou seja, nem sequer nos apercebemos da quantidade de música que tínhamos feito até nos sentarmos num café ao fim desses dias e dizermos: “Uau, há 18 músicas, precisamos de descobrir o que estamos a fazer com tudo isto”. Pensámos mesmo que era a nossa melhor música feita até hoje.
Porque é que pensaste que tinham sido as melhores músicas que fizeram?
[Dana] É difícil dizer que é “melhor” do que os álbuns anteriores, cada um tem a sua essência. Mas este pareceu tão natural e predestinado. O Charif é do Líbano, nós de Oregon, e encontrámo-nos em Lisboa. Tudo simplesmente funcionou. O álbum tem sofisticação, mas também imperfeições: risos, vozes, batidas fora do tempo. Isso dá-lhe vida e humanidade.
O que é que aconteceu às músicas que ficaram de fora?
[Alden] Temos jams que talvez lancemos no YouTube. Há coisas mesmo malucas, até uma de reggaeton. [Risos]
Deviam experimentar música tradicional portuguesa.
[Alden] Temos de tentar! [Risos]
O nome Speedo parece um jogo com a palavra “speed” (velocidade). Foi por terem passado menos de um mês em Lisboa a produzir um disco? Ou foi um desafio fazer o álbum mais “speedo” de sempre?
[Dana] Tem dois significados, na verdade. Comprámos mesmo Speedos (fato de banho), e na capa do álbum estamos a usá-los, embora tenhamos cortado a imagem para não se ver tudo. Temos uma certa paixão por Speedos, até porque o nosso avô era conhecido por os usar. Mas também há esse outro lado, fizemos o álbum muito depressa. Provavelmente, foi o mais rápido que já produzimos.
[Alden] E nem nos apercebemos disso até o Charif comentar. Nunca me tinha ocorrido essa leitura do nome.
Foi fácil fazer um álbum tão rápido por causa do Charif?
[Dana] Nada disso. Foi difícil e, por vezes, esgotante.
[Alden] Sim, estávamos completamente exaustos no final. Dormimos pouco. Mas esse é o método do Charif. Ele gosta de trabalhar rápido. Quando nos juntámos para este projeto, quisemos entrar na sua dinâmica, e acabámos por adorar o processo.
Houve uma entrevista que deram em maio, que disseram que este novo álbum tem muitas “personagens” — estavam a referir-se a quê?
[Dana] Acho que queríamos dizer que houve muitos colaboradores — amigos nossos com personalidades muito fortes que trouxeram muito ao projeto. A banda tem seis pessoas: eu, Dana, Ebba, Selim, Andrew e Eli. Gravámos com todos o álbum anterior e já temos outro projeto a caminho com eles também. Por exemplo, “Childhood Crush” começou como uma jam minha, do Alden e do Selim em Nova Iorque. Mais tarde, em Lisboa, voltámos a trabalhar nela e o Selim enviou os acordes por mensagem. Quando voltámos a Nova Iorque, completámos a música com mais colaborações à distância. Adoro esse tema porque tem um bocadinho de cada um de nós.
Quando falaram em “personagens”, pensei em temas — há muitas referências neste disco à infância, nostalgia, comida, ativismo, Lisboa…
[Dana] Boa observação. Herdámos dos nossos pais, especialmente da nossa mãe, este amor pela vida e pelas pessoas. Mesmo com o mundo como está, sentimos que é essencial continuar a viver e a celebrar essas pequenas coisas: comida, amor, política, lugares bonitos como Lisboa. Há temas sobre romance, sobre Palestina, sobre ativismo anticapitalista.
[Alden] E muita nostalgia, especialmente ligada a Oregon e à nossa infância. Temas como “Childhood Crush”, “Day Drinking in Springfield”, “Why Do You Even Talk to Me” refletem esse sentimento de gratidão, mas também de despedida. A infância passou e agora Nova Iorque é a nossa casa. É agridoce, mas verdadeiro.
[Dana] Acho que a última personagem é o oceano, porque na nossa infância vivemos a um hora de distância da praia.
Ainda sobre o sentimento nostálgico deste disco: parece que, por vezes, é preciso sair do nosso país para refletir sobre a nossa infância, identidade, ou lugar no mundo. Concordam com esta leitura?
[Dana] Acho que o ritmo da vida, sobretudo em cidades como Nova Iorque, não nos deixa ter tempo para refletir. Viajar dá-nos esse distanciamento necessário da rotina, e essa distância permite pensar na vida, nos amigos, na infância. Esta viagem a Lisboa permitiu-nos abrandar e sentir coisas que não sentíamos há muito tempo, porque temos trabalhado intensamente.
[Alden] Concordo totalmente. Se tivéssemos feito o álbum em Nova Iorque, mesmo com os mesmos instrumentos e com o Charif, teria sido um álbum diferente. Estávamos noutro país, com uma nova língua, a comer comida incrível, e a chover durante três semanas. Isso tudo transparece no som. Sentimos que esta experiência nunca se repetirá, e isso tornou tudo mais especial.
A vossa música absorve sempre muito do ambiente onde estão inseridos.
[Alden] Como qualquer artista. Encontramos inspiração no que nos rodeia, seja Lisboa ou os contentores de lixo ao lado do estúdio em Nova Iorque. Mas Lisboa é mesmo um sítio fácil para se inspirar. E quero agradecer ao povo português, que nos recebeu de braços abertos, mesmo com os problemas ligados ao turismo e à habitação. Fomos tratados com muita gentileza.
[Dana] Eu e o Alden tentamos sempre mergulhar na cultura local, não transformá-la naquilo a que estamos habituados.
Falando de géneros musicais, em “Fisherman’s Dream” ouve-se um toque de bossa nova. Em “Wyckoff Deli Chicken Over Rice” há drum and bass. Isso veio do vosso ambiente e observação?
[Alden] O nosso gosto musical é super variado. Eu adoro batidas rápidas, jungle, rap britânico e eletrónica. O Dana ouve muita música brasileira. Crescemos a ouvir bossa nova, como Tom Jobim. Acho que somos pessoas muito impressionáveis, e esses estilos de música são muito contagiantes.
[Dana] Sim, e todos os artistas que admiramos experimentam constantemente novos sons. Por exemplo, adoro Ziad Rahbani do Líbano ou Piero Umiliani. Cada álbum deles soa diferente.
Algo que isto neste disco e que não sinto nos outros é que existia mais liberdade para explorarem esse géneros.
[Dana] Acho que simplesmente nós queríamos nos divertir. Não queríamos que o álbum fosse “sério” ou que cada faixa tivesse de encaixar numa narrativa. Foi só: “Vamos tocar até tarde e ver o que sai”.
Vocês assinaram com a Concord Jazz, uma editora histórica ligada ao jazz. O que significa fazer parte dela?
[Alden] É uma honra. Muita gente poderia pensar que uma editora podia ser mais sufocante ou mais difícil do que ser apenas uma banda DIY. Honestamente, eles têm sido tão encorajadores e apoiantes de toda a nossa criatividade, e sinto que agora temos uma equipa a ajudar-nos.
Sentem-se abraçados pelo universo do jazz tradicional ao mesmo tempo que exploram outros géneros?
[Dana] Não sinto isso, porque os nossos mentores sempre nos ensinaram que o jazz está em constante evolução. Respeitamos muito quem toca jazz clássico, mas acreditamos que o espírito do jazz também está em procurar sons novos.
Então jazz pode ser tudo e nada ao mesmo tempo?
[Dana] Para mim, jazz é um sentimento de liberdade e de criatividade infinita. Já estive em espaços “jazz” que não me davam esse sentimento. Mas também já vi bandas como Stereolab, que estão completamente fora de qualquer género, e senti exatamente o mesmo que num concerto de jazz vanguardista. O que interessa é o sentimento. Por isso, para nós, isso significa fazer a música que estamos a fazer agora. Tenho todo o respeito pelas pessoas que ainda tocam jazz mais ou menos naquela sonoridade dos anos 50 e 60, mas também está muito de acordo com a tradição de estar a encontrar e a procurar novos sons.
Para alguém cujo interesse pelo jazz e pela música nasceu numa sala de espectáculos local, como encaram o encerramento de várias salas de espectáculos pequenas, que são consideradas as casas que promovem pequenos projetos como o vosso?
[Alden] É triste ver esses espaços a fechar, mas acredito que a música nunca vai morrer. Se um clube fecha, alguém organiza um concerto na cave ou no parque. É como tentar parar um rio — a água encontra sempre outro caminho. Durante a pandemia, quando tudo estava fechado, tocávamos no parque, em Eugene, Oregon, e as pessoas vinham e era eram noites de verão muito bonitas. Os grilos chilreavam e era o pôr do sol.
E quanto ao TikTok? É hoje um espaço importante para projetos independentes?
[Alden] Tem sido uma plataforma incrível para nós, mas o mundo da música é imprevisível — já tivemos o SoundCloud, o YouTube, o Spotify. Agora é o TikTok. Temos de nos adaptar. Acho que o TikTok é especialmente bom para músicas instrumentais ou sons pouco convencionais. Por exemplo, acho que é mais difícil espalhar-se no SoundCloud ou algo do género do que no TikTok, porque as pessoas gostam de usar instrumentais em vídeos de estética ou roupa do dia. Por isso, acho que é um espaço muito criativo e aberto para a música. Mas não sei o que virá a seguir.
E não têm medo das consequências? Como o excesso de versões “speed up”, “slowed down”, com reverb?
[Alden] Honestamente, não sou purista. Uma das nossas músicas, “Dragonfly”, foi bastante usada em versões desaceleradas no YouTube e até achei que soava bem. Enquanto não nos roubarem ou lucrarem diretamente com isso, tudo bem. Até já tivemos de tirar uma versão do Spotify porque era uma cópia descarada. Tudo se resume a pequenos clipes. Mas espero que esses fragmentos levem as pessoas a descobrir o resto do álbum, como uma porta de entrada.
Queria falar sobre “Baby You’re Gonna Miss That Plane”. Sinto que é uma canção de despedida de Lisboa pela sua melody melancólica, mas também porque tem uma variação de um riff de saxofone usada na “Super Beaver Full Moon Love Song”?
[Alden] Essa música surgiu como um final para “Super Beaver Full Moon Love Song”. O Dana escreveu-a numa praia em Long Island. É uma despedida, um fecho para essa fase da vida.
“Norm” é a primeira faixa dedicada a Norman Frinkelstine, um ativista e cientista político dedicado ao genocídio em Gaza, enquanto “Leila” é uma homenagem a Leila Khaled, uma ativista e política palestiniana, que dedicou a sua vida a libertar a Palestina da ocupação colonial israelita. Achas que hoje, mais do que nunca, os artistas devem usar o seu lugar para alertar as pessoas para estes problemas? e porquê?
[Alden] Penso que quando se tem um palco e se tem um público, especialmente de jovens que nos ouvem, isso é um privilégio imenso, e nós estamos a utilizar esse privilégio para falar sobre a libertação da Palestina, espalhar a consciência, a educar as pessoas, a encorajá-las a falar e a envolverem-se. Penso que quantos mais artistas e mais pessoas em geral falarem sobre a Palestina, menos tabu e assustador se torna. Quer dizer, acho que a Palestina deveria ser mencionada em quase todas as conversas, porque as pessoas estão a morrer às centenas ou milhares todos os dias à espera de ajuda e comida. E sim, acho que se não falarmos sobre isso, a nossa música não seria totalmente genuína, porque é algo que está na nossa mente e nos nossos corações.
Acreditam que ser artista implica ser ativista?
[Alden] Sim, acho que estão ligados. A arte sempre esteve no centro de movimentos sociais, como os direitos civis. Muitos priorizam o sucesso comercial e evitam temas políticos, mas acreditamos que vale a pena falar, mesmo que se percam oportunidades.
Que sample é que utilizam na música “Cacio e Pepe”?
[Alden] Foi espontâneo. Estávamos a compor e pensei: “E se pusermos um chef italiano a falar de esparguete?” Encontrámos um vídeo no YouTube e funcionou perfeitamente com a batida.
Mas porquê? Vocês gostam muito de cacio e pepe?
[Alden] Ironia das ironias, somos ambos intolerantes ao glúten, por isso não comemos. [Risos]
Mas este disco têm uma ligação muito grande igualmente por comida. Porquê?
[Alden] Sempre gostámos de comida. Mas a minha namorada é apaixonada por gastronomia, e isso passou para mim. A comida é uma das partes mais belas da vida. Comemos três vezes por dia, por isso faz sentido que esteja na nossa música também. Para mim, isso é fascinante,assim como vinho, café, matcha e chá. Eu e o Dane sempre gostámos de comer, somos conhecidos nas nossas famílias e grupos de amigos por não deixarmos restos e deixarmos o prato limpo, independentemente da quantidade de comida. Por isso, acho que esse amor por comer se reflete no álbum.
E esse amor explode quando chegam a Lisboa [risos]. O que é que vocês comeram, além de frango no churrasco?
[Alden] Devido à nossa dieta de glúten só podíamos comer bife, peixe e batata. Mas quer dizer, era tão bom que um dia comi um chouriço de sangue e depois muito queijo e muito galão — tão bom! [Risos]