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Fotografia: Arlindo Camacho
Publicado a: 05/11/2025

No flow de Up In The Clouds.

Da Chick: “Dou sempre mais valor à intuição”

Fotografia: Arlindo Camacho
Publicado a: 05/11/2025

Em fevereiro passado, o Rimas e Batidas falou com Da Chick a propósito do single que tinha acabado de lançar. “Cartoon” é uma faixa sobre estar apaixonado e tem um registo um pouco diferente daquele a que a artista nos habituou. Mais intimista e despido — tanto na vulnerabilidade da escrita como no seu instrumental assente nas cordas de uma guitarra carregada de jazz — o single virou um álbum com a mesma sonoridade e com a intenção de capturar o mesmo sentimento: o de termos borboletas na barriga e a cabeça Up In The Clouds.

Agora com o disco cá fora e na véspera dos concertos de apresentação — no B.Leza (Lisboa) é já amanhã, 6 de Novembro; seguindo-se o CCOP (Porto) no dia 15 de Novembro — voltámos a conversar com Da Chick sobre este seu novo trabalho, procurando dissecar o processo da sua construção e a nova fase em que a artista se encontra, que agora também edita em nome próprio através da Mostly Groovy.



Este é o primeiro projeto que lanças pela Mostly Groovy, a tua editora. Vês este momento como uma nova fase para a Da Chick ou uma progressão normal da carreira de uma artista independente? 

A Mostly Groovy é uma editora que criei este ano e que surge da vontade de explorar, também, esse lado da minha carreira. Trago comigo uma boa escola da Discotexas, que me ensinou a ser artista independente, e senti mesmo que estava na hora de explorar estas andanças. Este disco também tem uma sonoridade bastante diferente de tudo o que tenho lançado até agora e senti que precisava de uma casa nova para viver. Acho que qualquer artista independente tem que ser muito versátil e tem que ter muita coragem para arriscar e meter as mãos em todo o lado. Na Discotexas e em outras editoras pelas quais já lancei, sempre estive muito habituada a controlar o meu trabalho e a trazer a minha visão para a minha música. Agora só acrescentámos mais algumas reuniões e coisas que eu não estava habituada a fazer, mas sinto que esta é a progressão natural para um artista que quer permanecer independente.

Este novo projeto é um pouco diferente em relação ao resto do teu catálogo. Como é que ele surge e o que nos podes contar do seu processo de criação?

Bem, este processo nasce de algumas demos que eu tinha e que pretendiam mostrar este universo leve e in love que é o Up In The Clouds. Existia já aqui um universo um pouco programado por mim, ainda aqui um bocado perdida no meio da certeza, que pretendia transmitir. Foi daí que partimos, eu e o Miguel Nicolau, para desenvolvermos algumas ideias que precisavam de ser desenvolvidas, tentar ver outras ideias de forma diferente e perceber até onde podiam… Enfim, foi um trabalho bastante complexo e exigente para mim. O Miguel Nicolau é um músico bastante experiente, que já trabalhou com imensa gente e que criou este disco comigo. Foram muitas horas de estúdio. Foi, de facto, exigente acompanhar todo este processo de criação e composição, mas o resultado ficou ainda melhor do que esperava e aprendi muito durante todas estas sessões.

Continuando no tópico da aprendizagem e indo à tua última conversa com o Rimas e Batidas, sabemos que, recentemente, foste estudar guitarra jazz. O que mais nos podes contar sobre este interregno entre o lançamento do Good Company e deste novo disco?

Estes 2/3 anos entre os projetos são um pouco o reflexo daquilo que também pretendo transmitir com este novo álbum. Apaixonei-me e entrei numa relação, coisas que não aconteciam há muito tempo, e é daí que vem o universo deste disco. No meio disto tudo, ainda fui estudar guitarra jazz. Ou seja, pela primeira vez fui estudar música, aprender a dar nomes às coisas, pedirem-me para tocar um acorde e eu saber que acorde é que estou a tocar, enfim, coisas básicas [risos]. E isso inspirou-me muito. Não só teoricamente, mas também ao nível do som. O jazz sempre esteve presente para mim, foi um dos géneros que teve mais influência para que começasse a escrever e a cantar, e sendo eu uma pessoa muito curiosa, sempre quis aprender mais. Talvez não necessariamente ir para uma escola, mas aprender mais, mesmo que como autodidata. Sempre fui de comprar instrumentos e aprender a tocá-los, ir para estúdio e conviver com malta, aprender com eles. Desta vez, achei que tinha tempo, alguma disponibilidade financeira e decidi ir para uma escola aprender. Acho que a diferença é bastante notória entre estes últimos dois álbuns. Como já referi, o jazz sempre esteve presente, mas neste novo disco está mais presente que nunca. E pronto, estes últimos anos foram um bocado isso: apresentar o meu trabalho anterior, dar concertos com banda, e pá… Entretanto foram muitos pensamentos, muitos sinais do universo, muitas reflexões a fazer sobre as consequências das coisas, sobre o poder transformador do amor, sobre todos estes tópicos que acabam por sair neste meu novo disco. É lá que tento abordar todas estas conclusões que eu tirei.

Sendo tu alguém muito autodidata, como avalias o impacto desta educação mais formal em música naquilo que estás a criar?

Sinto que o impacto é muito positivo, é sempre importante aprender. Eu estava a viver bem sem isso, mas trouxe-me muitas coisas novas. Acima de tudo, sinto que me permitiu ir para estúdio e criar aquilo que criei com o Miguel Nicolau. Acho que há alguns anos atrás isso seria impensável. Agora consigo ter uma percepção muito melhor em relação a tudo o que está a ser feito. Sinto uma maior segurança e, mais importante do que tudo, sinto-me mais completa.

O que é que sentes que acaba por ter um maior peso no produto final deste álbum: estas novas aprendizagens e novos conhecimentos teóricos ou a parte emocional que acaba por dar a temática ao disco? Talvez um bocado razão vs. coração…

Neste disco é o coração. Por mais curioso que possa parecer, foi o racional que me levou ao coração. Mas bem, eu dou sempre mais valor à intuição. Quando tu tens uma mensagem a passar, tu só precisas de a passar. A teoria é fixe, ajuda-te a chegar a um fim, torna-te o caminho mais fácil e, se calhar, mais curto e não abdicava dela neste momento, mas vou sempre dar prioridade ao coração. Sobretudo neste disco, que fala do amor e de encontrar este flow, que é algo que tem zero de técnico ou racional. 

Iniciaste o ano com música nova, lançando a “Cartoon” no Dia dos Namorados. Fizeste-o com consciência de que este seria incluido num projeto de longa duração ou isso ainda não estava delineado?

Na verdade, ainda não sabia bem. Já sabia que ia sair alguma coisa, mas não sabia se seria um álbum, daí não ter partilhado isso na altura. Neste tipo de coisas, quando não temos a certeza, acho que é preferível não termos pressa. Este foi um disco que foi acontecendo; fomos fazendo música, trabalhando e ele foi crescendo e ganhando significado. Quando saiu a “Cartoon”, aliás, o disco ainda não estava acabado. O esboço estava lá e fomos limando as arestas entretanto. Até te posso contar que houve uma fase em que achei que ia ser um disco de baladas, só [risos]. Como podes ver, houve aqui algumas reviravoltas. E foi um processo diferente para mim, na medida em que, em todos os outros álbuns que lancei, já tinha o projeto terminado na altura em que lancei a primeira música. E foi um bocado assim, fui fazendo, sem pressões, chill e mandando cá para fora.

E o que podemos esperar destes dois concertos que se avizinham? Serão mais para apresentação do disco ou a setlist vai ter mais repertório?

Vai ser um concerto de Da Chick, acima de tudo, apesar de estes dois espectáculos serem únicos e não se irem repetir. O foco será apresentar este novo disco, mas vão existir algumas oldies lá pelo meio. Vão ser dois concertos únicos em que vou tocar com uma banda nova para além dos músicos com quem já tocava e, apesar de eu ser suspeita neste assunto, acho mesmo que vai ser um concerto muito fixe. Vai ser muito diferente e espero surpreender as pessoas, principalmente aquelas que já me acompanham há mais tempo e que estão, de certa forma, habituadas a um registo meu mais party girl. Vamos ter alguns momentos engraçados pelo meio e vai mesmo ser muito especial!


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