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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 17/05/2022

Respeitem os beatmakers.

Crate Diggs & Young Boda: “Queremos que o TÁ FIXE seja apreciado como ele é — um álbum de instrumentais”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 17/05/2022

Young Boda e Crate Diggs são dois produtores (o primeiro também é DJ) da Margem Sul que vão, a partir daí, deixando a sua marca (ainda que discreta, para já) na cena hip hop nacional. De forma independente, ambos editam constantemente novos singles, beat tapes e álbuns — muitos deles em colaborações com outros criativos. Quem segue o seu trabalho apercebe-se da rede de artistas que os suporta e do trabalho que vem sendo desenvolvido na cena musical desta geografia — esta semana, mais concretamente no dia 19 de Maio, Diggs e os seus Soul Providers, dupla que divide com RakimBadu, disponibilizam o trabalho que fizeram a meias com o rapper João Pestana.

Estivemos à conversa com os autores de TÁ FIXE, projecto lançado no início de Março que é a peça central desta entrevista.



Este álbum marca a primeira vez que trabalharam juntos ou já tinha acontecido?

[Young Boda] Lançamos um beat juntos há dois anos. Está no meu SoundCloud, acho que foi a primeira coisa que fizemos juntos.

[Crate Diggs] A partir desse som decidimos fazer um projecto em conjunto, uma colaboração a sério.

A vossa relação nasce porque ambos são produtores musicais ou já eram amigos antes?

[Young Boda] Foi por causa da Radio Ophelia.

[Crate Diggs] Sim, foi na Ophelia. É onde costumamos parar. Lá conheci bastante gente, inclusive o Boda. A nossa amizade e relação desenvolveram-se a partir daí.

O Godinho tem feito um grande trabalho em Almada.

[Crate Diggs] Sim, em juntar a malta!

[Young Boda] Mas tem que fazer mais [risos]! Lançar mais compilações em nome da Ophelia… Ele tem uma network gigante!

TÁ FIXE é um álbum de instrumentais. O lançamento deste álbum pode ser visto como um convite para que mais MCs conheçam o vosso trabalho? Estão há procura de novas colaborações?

[Young Boda] Também, mas acima de tudo queremos que o álbum seja apreciado como ele é — um álbum de instrumentais. Sempre ouvi instrumentais e sinto que há cada vez mais uma cultura de nicho que muitas vezes prefere instrumentais a beats com voz, que geralmente é o mais apreciado. Já houve malta, no entanto, a vir falar comigo por causa deste álbum, propondo colaborações. A ideia é mantermos o foco na produção, a fusão de ideias e estéticas foi aquilo que mais se destacou no nosso álbum. A ideia é continuarmos esse trabalho, fazer misturas que à partida não fazem sentido mas que depois acabam por fazer. Temos muito respeito pelos produtores e queremos esse mesmo respeito também, pelas nossas produções.

[Crate Diggs] Ora nem mais!

Como é que foi o processo de trabalho para este álbum? Encontravam-se e produziam juntos ou à distância enviavam coisas um ao outro?

[Young Boda] Foi um bocado dos dois.

[Crate Diggs] A maior parte do processo foi feito em conjunto em minha casa. Trabalhámos à distância apenas nas últimas faixas. Quando assim era, eu enviava coisas, ele outras tantas, e começávamos a juntar tudo.

A maneira como produzem é semelhante?

[Young Boda] Faço tudo no computador practicamente, trabalho com o FL Studio. Tenho máquinas mas sou muito preguiçoso [risos]. Gosto de trabalhar com o Diogo porque ele tem um workflow muito dinâmico com as máquinas. Puxa bastante por mim e influencia o meu processo criativo.

[Crate Diggs] Para este álbum usei um controlador MIDI, a MPC Studio e a SP-404. A MPC uso para fazer beats e a SP-404 como processador de efeitos. Em vez do FL Studio utilizo o Ableton Live. 

Para o TÁ FIXE o banco de samples que utilizaram surge de uma pesquisa especifica?

[Crate Diggs] Os meus samples foram todos construídos a partir dos beats do Boda [risos]. Construímos a partir daí.

[Young Boda] Houve um som que não! O “Arritmicamente”.

[Crate Diggs] Ya!

[Young Boda] A minha parte preferida da produção é a composição. Adoro fazer as produções, acordes, melodias… Sinceramente não aprecio muito aquela cultura de pegares numa coisa já feita e a utilizares de forma integral, sem qualquer toque pessoal. Sou fã e respeito muito o digging! Neste momento estou a experimentar outros processos de trabalho que incluem mais o sampling.

O título do álbum, na minha opinião, sugere alguma espontaneidade no sentido que muitas vezes é a primeira coisa que dizemos quando alguém nos pergunta se gostámos de alguma coisa. Se gostarmos, dizemos automaticamente “‘tá fixe”. Os títulos das faixas vão também neste sentido. A aleatoriedade procura essa frescura.

[Young Boda] Sim. Pensámos quais é que seriam os nomes mais aleatórios que podíamos dar às faixas [risos]. Vejo a capa quase como um meme… Mas a música é boa! [risos] A história do nome do álbum é esta. No local onde trabalho, trabalhava também um senhora da limpeza, ninguém percebia o que ela dizia e vice-versa [risos]! Como não entedia nada do que dizíamos dizia sempre “’tá fixe”, com uma voz aguda. Comecei a repetir a expressão com aquele tom de voz aos meus colegas do Miratejo e ficou. 

A capa do álbum vai nessa ideia da espontaneidade. A minha interpretação é esta: uma senhora de passa-montanhas vestido, com o rolo da massa na mão e duas geleias com os vossos nomes escritos, fazendo a comparação do artesão com o produtor musical ao passar muito tempo na fábrica, neste caso no estúdio…

[Young Boda] Na cozinha!

Exacto, na cozinha!

[Crate Diggs] E o acessório mais importante: os grillz nos dentes [risos]!

[Young Boda] A capa é da autoria da Mafalda Jesus, que também fez a capa do meu álbum de originais Saldo Insuficiente. 

Quais é que são as vossas referências actualmente?

[Crate Diggs] Sinto que as minhas referências são diferentes daquelas que o Boda tem agora, o que enriquece a nossa música. Estou a sentir bastante Griselda, por exemplo. Estou a ouvir bastante a cena drumless que vem dos EUA, como The Alchemist. Existem outras referências que me vão acompanhando ao longo do tempo, como DMX, Yellow Days, King Krule, Shlohmo e Clams Casino.

[Young Boda] Shlohmo e Clam Casino são uma referência também para mim. Durante três anos só ouvi instrumentais praticamente. O Young Thug é que me fez voltar a ouvir música com voz e a partir daí voltei a ouvir trap. Tornei-me DJ e hoje em dia trap e drill são dos estilos que mais ouço. Os beats que ando a produzir são drill, basicamente. Para mim, o drill é muito mais dançável e tem imensas possibilidades de mistura, com funk e afro-house, por exemplo. Tenho ouvido XROOTZ, Derek e FKA twigs.

Tem próximas datas de apresentação ou estão já a preparar novos projectos, individualmente ou em conjunto?

[Young Boda] Estou a preparar uns projectos para serem lançados com novas colaborações. Nunca colaborei tanto como agora e vão surgir brevemente projectos intercontinentais [risos]!

[Crate Diggs] Com Soul Providers vamos lançar um álbum colaborativo no início de Maio. Vai participar o rapper João Pestana e estamos muito entusiasmados com isso. Ainda este ano vamos lançar outro álbum. Como Crate Diggs, quero lançar duas beat tapes este ano.


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