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Fotografia: Renato Cruz Santos / Batalha Centro de Cinema
Publicado a: 12/01/2024

A cultura nocturna em destaque no Batalha Centro de Cinema.

Cool Strangers in the Night no After Hours – Clubbing no Cinema: estórias noturnas que ficaram por contar

Fotografia: Renato Cruz Santos / Batalha Centro de Cinema
Publicado a: 12/01/2024

Dez e vinte e sete da noite na baixa do Porto, é Dezembro e corre uma das brisas nocturnas mais geladas que a Invicta sentiu nos últimos Invernos. Dentro de um carro ouve-se a “Miura” de Metro Area, a música que alguém diz ser a que melhor representava o Triplex. Para pessoas que só começaram a ser assíduas no clubbing portuense depois de 2010, muitas desconhecem a identidade deste sítio: localizado no cimo da Avenida da Boavista, hoje a sua identidade foi transformada num alojamento local — há quinze anos atrás, dava vida a um dos lugares mais frequentados pelos apreciadores de música eletrónica. 

Nessa noite, o Rimas e Batidas  acompanhou duas das três curadoras do ciclo de cinema After Hours: Clubbing no Cinema no Batalha Centro de Cinema e uma das figuras mais idiossincráticas da noite do Porto. A carregar consigo uma handycam que funciona quase como uma extensão do seu corpo, Manuela dos Campos tem registado desde os anos noventa a noite dentro de portas e através da sua lente — tudo o que viu e viveu constitui um dos maiores (e quem sabe único) arquivos de imagens de clubbing no Porto.

A missão era percorrer alguns dos espaços que já fecharam: lugares que marcaram para sempre o circuito e que, além de terem sido o berço das primeiras gerações de DJs da cidade, também foram espaços onde a libertação tomou lugar. Desde o Swing no Parque Itália (que se encontra à venda), ao Indústria (encerrado recentemente), o Trintaeum na Rua do Passeio Alegre e o Meia Cave na Ribeira — todos eles foram paragens obrigatórias. O Aniki Bobó, localizado na Rua da Fonte Taurina, foi a visita final. 

Diante daquele que é hoje mais um bar de fados junto ao rio, residem resquícios do espaço cujas imagens inauguram o documentário da artista vimaranense que, ao materializar o que resta na memória de todos os sítios mencionados, encheu a sala de cinema do Batalha no passado sábado para partilhar com a sua comunidade Cool Strangers In The Night, aquele que se tornou um dos seus contributos mais importantes para o circuito cultural. 

Pelas palavras de Maria Ferreira, curadora do ciclo e programadora do Passos Manuel, “a revisão da noite e da dança e do clubbing no Porto não poderia ter acontecido sem a Manuela — ela é uma extensão da atividade nocturna do Porto, e faz isto há 26 anos”. 

Foi a convite do Cinema Batalha, no decorrer do ciclo After Hours: Clubbing no Cinema, que as curadoras Ana David, Maria Ferreira e Tabitha Thorlu-Bangura estenderam o convite a Manuela para criar um filme de 15 minutos que entrasse neste “olhar retrospectivo à evolução da música de dança”. Desta forma, a proposta do documentário coloca no epicentro da cultura os lugares que foram proporcionando, ao longo das décadas, momentos de “reivindicação e emancipação”, e que não sobreviveram ao tempo — para a realizadora, que também participou na apresentação do documentário, “o vídeo é plástico e elástico” e nós somos “imortais na desmaterialização”.

Diante de uma plateia cheia de rostos familiares dentro da comunidade nocturna da cidade, a realizadora afirmou que “tudo é uma ilusão”, apelou à reflexão sobre um sistema que está a passar por uma crise profunda e defendeu o respeito por “quem quer ser o que seja sem rótulos e sem classificações”. Na memória de todos os espectadores, o sábado passado foi uma porta que se abriu para a revisitação de algumas histórias nocturnas que tinham ficado por contar.

Também a curadora do Cinema Batalha Ana David reforçou que o trabalho da artista reflete toda a sua “paixão” e é, para quem o quiser visitar, “um trabalho da mais pura e inebriante criatividade”.

Cool Strangers in the Night está disponível para ser visitado sob a forma de instalação no bar do cinema Batalha e encontra-se inserido também na exposição “Porto de Dança:  Breve História da Cultura de Clube na Cidade (1974–2023)”. Com um propósito que visa reunir e divulgar uma cidade fora de horas, este projeto proporciona a imersão no cenário cultural noturno, sempre entrelaçado com os movimentos artísticos que surgiram ao longo das últimas décadas e que lacraram aquelas que são as lembranças individuais e coletivas da comunidade portuense. 

No próximo dia 14 de Janeiro às 16h15, Maria Ferreira irá fazer uma visita guiada pelas paredes do Cinema Batalha, que contará com a nostalgia e o reviver de uma noite na cidade que foi mudando ao longo dos anos. 

O Ciclo de Cinema After Hours estará a decorrer até 19 de Janeiro e conta com mais três sessões.


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