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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 28/03/2024

Brasil e Portugal juntos numa compilação de música baleárica.

Coco Discos sobre SDDS PRAIA: “Tem essa atmosfera relaxante, envolvente e a dualidade melancolia/alegria”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 28/03/2024

É uma compilação que retrata o espírito baleárico — diferentes estilos de música groovy, muito associados a uma ambiência de praia e com inspiração na ilha de Ibiza — entre Portugal e o Brasil, 1983 e 1994. SDDS PRAIA é um projecto da Coco Discos e foi lançado em vinil e digital.

Para reflectir sobre o que é isto do estilo baleárico, numa antologia invulgar que cruza música de dois países lusófonos separados pelo Atlântico, o Rimas e Batidas colocou umas perguntas a Arnaldo Robles, dono da loja de discos e editora lisboeta.



São raras as antologias que exploram pontos de contacto entre as produções musicais brasileira e portuguesa. Como nasceu essa ideia?

A ideia para essa compilação surgiu da minha experiência como brasileiro vivendo em Portugal nos últimos 7 anos. Após abrir uma loja de discos em 2017 e fundar a Coco Discos (loja de discos e editora) em 2019, pude reconhecer a diversidade e riqueza das produções musicais de ambos os países. Minha imersão na cena musical portuguesa, aliada à minha constante pesquisa musical, inspirou-me a criar essa compilação como uma forma de unir as duas culturas através da música. Minha vivência entre os dois países, experimentando a dualidade de emoções ao partir e chegar, gerou um sentimento de “Saudades Praia”, que é o cerne dessa iniciativa. 

O conceito de música baleárica é tão claro quanto vago e por vezes parece que qualquer coisa pode fazer sentido nessa categoria. O que diria que, no caso de SDDS PRAIA, define essa ideia de estética baleárica? O que há de comum em todas aquelas faixas?

A estética baleárica é mais uma sensação do que um gênero musical específico. Ela abraça uma variedade de estilos, como new wave, funk, soul, disco e italo disco. Surgiu de DJs em Ibiza que tocavam músicas com ritmos mais lentos com sintetizadores e drum machines. É uma classificação pessoal, mas o que todos temas têm em comum é essa atmosfera relaxante, envolvente e a dualidade melancolia/alegria, que remete ao clima de saudades da praia.

A equipa que reuniu toda essa música é brasileira? Ou houve também input de curadores portugueses?

Fui o único responsável pela curadoria da Coco Discos, então todo o trabalho foi feito por mim. No entanto, alguns amigos me apresentaram músicas que acabaram sendo incluídas na compilação, e reconheci suas contribuições nos créditos da compilação. Apesar disso, não houve envolvimento de curadores portugueses; o processo foi conduzido inteiramente por mim.

Do lado do Brasil têm surgido muitas compilações que exploram esta corrente — por exemplo na Music From Memory —, mas não tanto do lado português… O que ditou qual material deveria entrar e qual deveria ficar de fora? O facto de nunca ter sido antes compilado, por exemplo?

Foi literalmente minha pesquisa nesses 7 anos de Portugal que ditou o que deveria entrar, acho que faziam sentido nessa estética que estava buscando para a compilação. Também, algumas que são mais raras e acho que deveria tornar acessíveis ao público geral — até porque, não são todos que têm a condição de pagar 200 euros em um disco. Duas músicas da parte portuguesa que retirei de uma reel tape — uma versão inédita da “Vivo Na Selva”, originalmente havia sido lançada pelos Da Vinci, e a “Ninguém é Fantasma” — que nunca haviam sido lançadas antes e são temas de 1984. Quando falei com o Fernando António dos Santos, o produtor do tema, sobre a “Vivo Na Selva”, ele me disse que tinha essa fita com as músicas, assim que escutei, já quis incluí-las na compilação, foi uma grata surpresa. Além disso, priorizei músicas que nunca haviam sido compiladas antes, tornando a compilação única e exclusiva.

Essa compilação nasce de pesquisas na Internet ou mesmo em lojas de discos reais? As músicas foram descobertas em primeiro lugar nas suas edições originais e vinil?

Eu tenho alguns modelos de toca discos portáteis que levo para todos os cantos onde vou fazer o diggin’, justamente para escutar temas desconhecidos ou de que não há nenhuma informação na Internet, portanto, todas foram redescobertas em suas edições originais em vinil. Tenho todos os discos da compilação na minha coleção, que já soma por volta de 10.000 discos.

Porque acha que música com várias décadas, muitas vezes pensada como pop descartável na sua altura, conquistou o tempo e continua a interessar a um público do presente?

Acredito que a música nunca é realmente descartável, mas sim subestimada em seu tempo. Com a globalização e o advento dos serviços de streaming, muitas músicas antigas são relegadas em favor daquelas consideradas mais comerciais. No entanto, há um interesse crescente entre DJs e pesquisadores, cada vez mais em resgatar e redescobrir essas músicas, especialmente entre um público que valoriza a autenticidade e a singularidade

Algumas escolhas no lado dedicado a Portugal são bem curiosas, como por exemplo o disco de Morena. É mesmo português?

O disco de Morena é uma curiosidade interessante, pois embora seja produzido por Roger Meno, foi lançado exclusivamente em Portugal. É o único que não é de um autor português. É um exemplo de como a música pode transcender fronteiras geográficas e culturais, contribuindo para a diversidade e riqueza da cena musical.

Qual o disco mais valioso deste conjunto?

Acredito que seja o do Clube Naval, o disco em boas condições pode chegar a 200 euros.

A música foi fácil de licenciar? Houve material que tenha ficado de fora por terem encontrado dificuldades de licenciamento?

Achar todos os detentores dos direitos das 16 músicas e negociar com cada artista/editora foi um trabalho de 2 anos, com certeza foi o maior desafio! Da parte portuguesa consegui as licenças de maneira mais fácil; da parte brasileira, somente uma ficou de fora devido a dificuldade de licenciar pois não tive respostas por parte da editora, e acabei por substituir por outra que consegui a licença. Talvez mais pra frente consiga essa resposta e faça um segundo volume.

Há festas de apresentação pensadas para esta antologia?

Estou organizando dois eventos para o lançamento da compilação! O primeiro evento foi dia 22 de março: uma instore session na Bones Records, localizada na LX Factory, onde toquei eu, Ferdy (aka Disco Janeiro, um pesquisador musical alemão que faz ótimos edits portugueses e brasileiros (este é o seu SoundCloud) e o Godi Osegueda, proprietário da loja, que gentilmente cedeu o espaço e é ótimo DJ. E o segundo dia 24 de março no Mirari, onde tivemos feira de vinil e apresentação dos DJs/Vendedores de discos: eu, uma vez mais, Trol2000 (Peekaboo Records), um dos melhores representantes portugueses dessa temática baleárica, Nuno Efe, é um grande amigo e uma das pessoas com quem mais troquei sobre música portuguesa e brasileira nesses meus 7 anos em Portugal — ja comprei alguns discos com ele, o Clube Naval foi um deles, que já conhecia o tema mas buscava o vinil —, e o Godi Osegueda (Bones Records) pra repetir a dose do dia 22.


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