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Fotografia: Inês Mineiro Abreu
Publicado a: 16/11/2022

Todo o canto é espaço para se ouvir música.

Clean Feed, Freedman e Thomson na Jazz Messengers Lisboa: vitalidade, congregação e clareza

Fotografia: Inês Mineiro Abreu
Publicado a: 16/11/2022

Falar da importância da Clean Feed, ao longo destes últimos 20 anos, no desbravar contínuo de novas sonoridades no campo do jazz, nas suas diferentes combinações e em particular no campo da improvisação e do free jazz, é exercício tão desnecessário como regar jardim em dia de chuva. O seu imenso catálogo aí está como o mais bonito e generoso cartão de visita, mas igualmente os incontáveis concertos que organizam e sobretudo os músicos que foram capazes de congregar em torno de uma ideia comum, materializadas nas infinitas colaborações que suscitam entre artistas de diferentes proveniências geográficas e musicais.

Disso nos deu conta Pedro Costa, um dos fundadores, na conversa com Rui Miguel Abreu, director do Rimas e Batidas, e que antecedeu o concerto do duo canadiano Lori Freedman (clarinete) e Scott Thomson (trombone). Longe de um exercício contabilístico, importa reter a vitalidade que a editora apresenta no que diz respeito à capacidade em criar uma comunidade. Num hipotético inquérito serão poucos os artistas que não a mencionem como um dos ingredientes mais importantes para a criação e consolidação de uma identidade musical, mas também de uma forma de fazer e vontade de concretizar. Recuemos 20 anos e um dado se mantém inalterado – as imensas dificuldades por que passam as editoras ditas de franja. Tal como hoje – persistir, resistir, resistir – construindo.



No domingo ao final da tarde, numa localização bem diferente da saudosa Trem Azul, (re)encontramos esse espírito na Jazz Messengers Lisboa. Alcântara, primeiro andar de uma famosa livraria e tentando escapar a diferentes grupos de turistas à procura do novo café dinamarquês. Apresentação da mais recente edição – Amber. Todo o canto é espaço para se ouvir música. Lori no clarinete e Scott no trombone num exercício simples, como sinónimo de clareza, compreensibilidade, desembaraço. Atmosferas bem construídas, diálogos precisos, um entendimento nas linhas do silêncio.

Desnecessário, mas que convém evocar, é o domínio exímio de cada um dos instrumentos, longe de malabarismos tecnicistas e de uma luminosidade a recordar cada um dos dias de Verão. No final, um agradecimento tão sincero quanto sentido de Lori Freedman ao público pelo respeito e atenção que lhes deram. Ter feito o contrário seria sinal de ignorância extrema. Não ouvi-los em disco também.


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