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CLAUSTRO

Na Laziness o Mais Guru

Vascolcelos / 2018

Texto de Beatriz Negreiros

Publicado a: 04/07/2019

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A conimbricense Vasconcelos Crew serviu de solo fértil para Fábio Amoroso, ou CLAUSTRO, começar a plantar uma ideia concreta do hip hop em português. No seu EP de estreia, Na Laziness o Mais Guru, lançado no início do ano passado, encontramos os resultados finais do processo de germinação, que acabam numa manifestação frondosa de segurança de si mesmo na palavra e no ritmo.

A palavra. É o primeiro elemento do trabalho que estreia CLAUSTRO no terreno a solo que nos penetra a sensação. E são as palavras a sua arma, que com ela nos faz refém dos fugazes 18 minutos que compõe o projecto. CLAUSTRO rima com a firmeza e confiança de um velho mestre, de um MF DOOM, de um Sam The Kid. As acrobacias que pratica com as suas rimas, que lhe deslizam da boca sem dificuldade alguma, colocam-no já num pódio promissor junto daqueles que, ao primeiro trabalho editado, já sabem como amolegar, esticar e comprimir palavras à sua vontade, ziguezagueando a vasta gama de instrumentais que também eles parecem acomodar-se perfeitamente a cada tema. Em Na Laziness o Mais Guru, encontramos em cinco produtores distintos em apenas oito faixas, entre os quais conterrâneos como MCF ou convidados que chegam de mais longe, como o lisboeta Oseias., que tempera a lustrosa “Derrame” com um saxofone que pinga requinte. CLAUSTRO, camaleónico, adapta-se sem esforço a qualquer chão de instrumentos, desde o negrume de “Mau Vinho” à gala de “Horas & Horas”, uma faísca incandescente num EP que já existe num lume brando surpreendentemente quente para primeiro: o sample feminino rasga uma página do livro de Kanye West (como esquecer do fantasma de Nina Simone em “Blood On The Leaves?”) para servir de pontapé de saída para uma reflexão simultaneamente fanfarrona e inteligente.

A edificação narrativa de CLAUSTRO, pensada e repensada sem por isso parecer demasiado trabalhosa ao ouvinte, vive algures entre o veneno de NERVE — que assina o artwork — e o humor de Mike El Nite: encontra entre os dois gigantes um balanço só seu, entre o céptico e o descontraído, o venenoso e o chico-esperto, o pesado e o leve. Com o narrador pendurado num baloiço que oscila entre duas paredes que não têm de ser antagónicas. É assim mesmo, a vida: o equilíbrio movediço entre duas forças contrárias que se transformam continuamente em significados diferentes. Entre uma coisa e outra, CLAUSTRO acaba por não ser nenhuma. E, assim, supera a ingenuidade que costuma vir dentro de um EP de estreia e lança um primeiro projecto que parece tudo menos isso.


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