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Publicado a: 24/11/2017

CJ Fly: Asas servem para voar

Publicado a: 24/11/2017

[TEXTO] Gonçalo Oliveira [FOTO] Direitos Reservados

CJ Fly tem estado a subir a longa escadaria do hip hop, um degrau de cada vez. Aos 24 anos de idade, Chaine Downer Jr. tem já um percurso assinalável. A solo, o seu nome pode ainda não se equiparar a um Kendrick Lamar, J. Cole ou até mesmo ao colega Joey Bada$$. Mas o rapper, fundador do colectivo Pro Era, entrou em fase de metamorfose no último par de anos, e pode já não faltar muito mais para que se solte, definitivamente, do casulo e assuma as asas que tanto quer para voar mais alto na hierarquia da cultura musical urbana.

Chaine Downer não alcançou sequer ainda um quarto de século em vida e é o mais velho dos membros que integram o super-grupo de hip hop da costa este norte-americana. Nasceu um dia antes do malogrado Capital STEEZ e foi ao seu lado, juntamente com Joey e Power Pleasant que fundou a agora gigante Pro Era. A premissa de CJ Fly e companhia passa por elevar novamente o som clássico do rap nova-iorquino e o sucesso está à vista de todos. Das vendas e alcance de mercado, ao nível musical, até várias outras áreas – hoje em dia praticamente essenciais para a visibilidade de um artista – como o design, a roupa ou os diversos conteúdos em vídeo que geram números no YouTube. A Pro Era tem representado a costa este dos EUA à escala global e, nos dias de hoje, só quem anda muito distraído é que ainda não ouviu falar dos “miúdos”.

 



Com apenas 6 anos de vida, o colectivo de Nova Iorque já celebrou este ano a terceira edição de um festival em nome próprio. O STEEZ Day 2017 contou com A$AP Mob, The Underachievers, XXXTENTACION ou J.I.D. enquanto artistas convidados. Até Malia Obama, filha do ex-presidente dos Estados Unidos, assumiu o apoio aos Pro Era, ao ser fotografada com uma t-shirt com o logotipo do grupo. A foto, claro, rapidamente se tornou viral nas redes sociais. E há, claro, o já extenso catálogo que possuem enquanto editora, com vários dos membros da crew a darem literalmente o litro para elevarem ainda mais a bandeira da cidade que nunca dorme.

No actual momento da sua carreira já é notório o forte bater de asas de CJ Fly, cuja ambição é superar-se a si mesmo e subir cada vez mais alto na pirâmide do hip hop. O sucesso comercial de Joey Bada$$ remeteu-o para uma posição menos visível, sobrando menos espaço mediático para um dos MCs que mais impulsionou o movimento da Pro Era. O facto de ainda não ter conseguido voar a grandes altitudes levou-o a querer descolar-se, tanto da sonoridade original com a qual o grupo nasceu, como dos próprios colegas e artistas, trabalhando cada vez mais a solo e com recurso a produtores externos ao colectivo. Agora recebe os louros, a outra face da moeda por detrás desse desapego: Chaine Downer Jr. está, cada vez mais, na rota certa para encontrar um patamar que não tenha de dividir com mais ninguém, carregando forte na sua própria assinatura sónica.

 



Flytrap foi editado na recta final de 2016 e em nada deixou mal o legado do rap made in Brooklyn. Apesar da abordagem mais contemporânea, no que ao flow e sonoridade diz respeito, CJ Fly mostrou todas as competências que lhe podemos exigir para quem quer ser um dos rostos da costa-este norte-americana. “DOPE” foi o último tema a conhecer o estatuto de single, um trap pesado e em estado bruto, acompanhado de um videoclipe que tenta recriar uma espécie de vibe da famosa Red Light District, tendo servido também para estrear o seu canal no YouTube em nome próprio. “Now You Know” foi o primeiro tema a receber o tratamento visual, também a primeira amostra de Flytrap, em jeito de freestyle, que visa apontar o dedo aos que o apunhalaram pela retaguarda. Kirk Knight foi o único artista da Pro Era a resistir ao afastamento de CJ e assina a produção do instrumental de “IDGAF”. Devontée, o único MC convidado para o disco, é um dos novos talentos provenientes do Canadá que o rapper quis ter ao seu lado para aprimorar a sua obra.

Pelas várias entrevistas que tem dado, nota-se o cariz espiritual com que CJ Fly aborda várias temáticas mais sensíveis. Como a morte, por exemplo, que já testemunhou de perto e em tempos recentes ao ver partir o avô e dois dos seus amigos do hip hop. Na sua primeira visita à Hot 97, convidado por Pete Rosenberg, revelou a forte ligação que tem com os animais, destacando um elo simbólico que tem com o pavão. Uma escolha fora do comum, mas que reflecte bem o estado de espirito com que o MC encara o hip hop: pode nunca vir a conseguir voar no sentido literal da palavra, mas a graciosidade e a beleza singular que as suas plumas apresentam não deixam indiferente quem decide parar para o apreciar. A veia artística, essa não deixará de o elevar até outras paragens.

 


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