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Publicado a: 12/02/2021

Regressou à eternidade o homem que cruzou mundos a bordo de um Fender Rhodes.

Chick Corea, lendário pianista de jazz, morreu aos 79 anos

Publicado a: 12/02/2021

Chick Corea, um dos principais estetas do jazz de fusão da década de 70, faleceu na passada terça-feira, em sua casa, na Flórida, vítima de uma rara forma de cancro, segundo avançou a sua família.

O seu estatuto de lenda maior do jazz entende-se na perfeição quando se mede, por exemplo, o tremendo alcance da sua discografia: desde 1962, quando contava apenas 21 anos, gravou perto de 700 discos, boa parte deles enquanto líder ou como um dos principais solistas.

Nasceu Armando Anthony Corea, a 12 de Junho de 1941, em Chelsea, Massachusetts, numa família com raízes italianas. O seu pai foi trompetista numa banda de jazz nos anos 30 e 40 e foi ele quem o encorajou a estudar piano, algo que fez desde tenra idade, com lições privadas. A sua relação com a academia foi, no entanto, muito tangencial: frequentou aulas na Columbia University, em Nova Iorque, durante apenas um mês e na famosa Juilliard School esteve apenas inscrito durante um semestre. Foi a trabalhar, sobretudo, que Corea se formou, tendo o seu início de carreira ficado intimamente ligado à cena de jazz latino alimentada por gente como Mongo Santamaria ou Willie Bobo, com quem gravou.



No Discogs lista-se Go, Mongo! como a sua primeira gravação, um trabalho do mestre percussionista Mongo Santamaria lançado na Riverside. A sua desenvoltura pianística valeu-lhe uma preenchida agenda para sessões de estúdio e nos anos seguintes trabalharia em discos de Blue Mitchell, Sonny Stitt, Dave Pike, Hubert Laws, Herbie Mann, Cal Tjader, Stan Getz, Pete La Roca ou Bobby Hutcherson deixando dessa forma o seu nome inscrito nos anais de selos tão importantes quanto a Blue Note, Verve, Atlantic ou Decca.

O seu primeiro álbum como líder, Tone’s For Joan’s Bones, chegou em 1968, uma edição da toda poderosa Atlantic que lhe permitiu recrutar para a sessão músicos de primeira linha como o trompetista Woody Shaw, o saxofonista Joe Farrell, o contrabaixista Steve Swallow e o baterista Joe Chambers, qualquer um deles líder de pleno direito em muitas outras sessões.

O seu segundo álbum, Now He Sings, Now He Sobs, lançado no mesmo ano na Solid State, expôs ainda mais o seu pianismo ao ser gravado em trio com o grande Miroslav Vitous no baixo e o nada menor Roy Haynes na bateria. A entusiasmada reacção da crítica bem como o aplauso dos seus pares hão-de ter-lhe valido o telefonema de Miles Davis, super-estrela que gostava de recrutar o melhor sangue novo por esta altura e que não hesitou em tê-lo ao seu lado.



Corea participou em sessões comandadas por Miles logo em 1968, trabalhando lado a lado com o também pianista Herbie Hancock em gravações que, no entanto, só seriam lançadas alguns anos mais tarde, no álbum Water Babies. O piano eléctrico de Chick Corea faria a sua primeira aparição num disco de Miles ainda nesse ano, ao marcar “Mademoiselle Mabry”, tema de Filles de Kilimanjaro. Mas foi o seu trabalho em In a Silent Way, de 1969, e Bitches Brew, de 1970, que apontou caminhos para o piano eléctrico e para o jazz de fusão e que o levaria a criar os Return To Forever, espécie de super-grupo por onde passaram músicos como Al Di Meola, Flora Purim, Bill Connors, Earl Klugh, Jean Luc Ponty, Joe Farrell, Lenny White, Stanley Clark ou Steve Gadd, todos com sólidas carreiras em nome próprio. Com esses pesos pesados gravou uma série de álbuns de enorme sucesso, incluindo Light as a Feather, de 1972, ou Romantic Warrior, de 1976, que sustentaram uma prolífica carreira ao vivo que fez deste seu grupo um dos mais requisitados da era jazz-rock.

O pianismo particular de Chick Corea, pleno de espaço, capaz de extrair da especificidade harmónica do Fender Rhodes uma expressividade muito própria, tornou-o também uma fonte apetecível para os samples de alguns dos mais aventureiros produtores. “Crystal Silence”, tema do álbum de 1972 cujo título inspiraria o nome da sua banda, Return To Forever, mereceu a atenção de Flying Lotus ou Fat Jon, mas também de Roni Size, Jonny L ou Subject 13, deixando claro que aquelas poéticas e atmosféricas notas tinham cabimento nas criações dos mais inventivos produtores de hip hop ou drum n’ bass.

Ligado à Concord Jazz em tempos mais recentes, Corea continuou a gravar até ao fim, tendo lançado novos títulos em 2018, 2019 e 2020, um ritmo carregado de trabalho que também implicava uma agenda de concertos muito recheada. Passou várias vezes por Portugal para concertos, a última delas em 2015 e ao lado de Herbie Hancock para uma apresentação esgotada no festival EDP Cool Jazz, em Oeiras.


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