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Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 19/05/2023

Melhores do que nunca.

Cave Story no B.Leza: uma noite punk à moda das Caldas da Rainha

Fotografia: Vera Marmelo
Publicado a: 19/05/2023

Quando se vai ao B.Leza, o tempo parece que passa mais devagar. Não é tanto pelo sítio em si – é uma boa sala, don’t get me wrong -, mas mais pelo que lá dentro acontece. É local de encontros e reencontros, de múltiplos cumprimentos, uns mais gastos, outros menos, onde o burburinho e o convívio são regra.

Nesta noite de quinta-feira, 18 de maio, o B.Leza foi palco de muitos encontros e reencontros. Por onde quer que olhássemos, víamos abraços, apertos de mãos, caras felizes prontas a esquecerem tudo o que as rodeava. Liberdade, sabem? Para dançar, gritar, moshar, suar, sem qualquer quaisquer fronteiras de classe. A música dos Cave Story permite exatamente isso.

Parece estranho lembrar, mas os Cave Story – banda das Caldas da Rainha atualmente formada por Gonçalo Formiga, Bia Diniz (aka April Marmara), José Sousa (aka Zé Maldito) e Ricardo Mendes –, já existem há para aí uns dez anos. É muito tempo – ou pelo menos, parece – quando o hype em torno dos primeiros concertos e do seu EP de estreia (Spider Tracks, 2014) mantém-se na nossa memória.

Claro está, os Cave Story não são a mesma banda que eram há dez anos. Aliás, além de não serem os mesmos, temos quase a certeza que são uma melhor banda hoje do que eram há uma década. Perderam muito pouca da sua energia eletrizante em palco e tocam melhor e de forma mais pensada. O seu mais recente registo discográfico, Wide Wall, Tree Tall, é prova disso mesmo. Mais melancólico, bebe das experimentações conjugadas em The Town, EP natalício lançado em 2021, mas não esquece a escola do rock apunkalhado que apresentaram em West (2016) e em Punk Academics (2018) – e que define, ligeiramente, a identidade sonora dos Cave Story.

E como os Cave Story não nos querem fazer esquecer que nas suas veias corre (e correrá sempre) sangue de punks, abrir o concerto com “Hill so White”, faixa de Punk Academics, fez todo o sentido. Lembrou-nos logo ao que viemos. É uma noite de rock, esta. Qualquer melancolia é um adorno extra (bem-vindo, claro), mas que nos impede zero de dançar e suar um bocadinho.

Os Cave Story podem já não ter 20 anos e estarem sempre prontos a rasgar, mas tocam como quem ainda possui essa jovialidade. “Vão ser jovens para sempre”, pensamos. Há verdade aqui. O humor presente em canções como “Absolute Best” ou “Dead and Fermenting”, tocadas logo a seguir a “Hill so White”, podia vir de uma banda totalmente constituída por zoomers

A coisa entranha-se. As guitarras de Zé e Gonçalo, deliciosamente desalinhadas, ajudam. O baixo de Bia segura o low-end e hipnotiza-nos. A energia de Ricardo por trás do drumkit contagia-nos. Prosseguem para “Prime Time”, “Clean Summer Clothes” e “Punk Academics”, faixa seminal da banda, primeiro grande momento do concerto. A energia sentiu-se. Muita gente dançou. De seguida, tocou-se “Ice Sandwich” e “Richman”, esta última a suscitar muitos saltos de quem gostaria de retroceder no tempo para a ouvir pela primeira vez. 

A música dos Cave Story sempre carregou dentro de si alguma nostalgia, mas agora as suas próprias criações começam a ter esse mesmo efeito no seu público. Uma canção como “Southern Hype”, tocada já perto do final, suscita emoções fortes. O summer camp do punk e do hardcore pode já ter terminado, mas as memórias ficam. Ajudam a erguer mais um bocadinho de nós. Permite surgir uma “Sing Something For Us Now”, canção que precisou de duas tentativas para ser tocada (problema técnico com os teclados a ser a causa de breves contratempos), mas que quando foi finalmente entoada acabou a ser muito bem recebida. Mesmo tocada sem toda a sua nuance textural, conquistou o público.

Quando escutamos canções ao vivo como “This Is Academy” ou “Aching For A Rebel”, questionámos se isto serão ainda os mesmos Cave Story que fizeram faixas como “Special Diners”. Porém, quando a banda decide tocar tocam uma cover de Silver Jews (“Punks In The Beerlight”), tudo acaba por fazer sentido. Os Cave Story sempre foram mais que uma banda de punk ou de rock e sempre souberam jogar com isso. É por isso que, mesmo nas explorações mais texturais de faixas como “Critical Mass” ou “The Town”, esta tocada como último deleite emocional do concerto, encontramos a génese daquilo que move, realmente, os Cave Story. Tocar o que querem e como querem. E não há nada mais punk que isso.


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