pub

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/01/2025

O fado regressa ao Tiny Desk Concert.

Carminho: “Gravar directamente para fita é um processo que encurta imenso os artifícios e os vícios da perfeição”

Texto: ReB Team
Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 23/01/2025

Carminho é a mais recente artista portuguesa a pisar o palco-escritório da NPR para um novo episódio de Tiny Desk Concert, cujo vídeo aterrou hoje no YouTube.

A passagem da fadista de Lisboa pelos Estados Unidos da América aconteceu na ressaca da edição do seu último projecto, um EP de quatro canções gravado no Electrical Audio, o mítico estúdio do malogrado produtor Steve Albini, que morreu alguns meses antes do disco ter visto a luz do dia. Carminho at Electrical Audio foi o primeiro trabalho que a cantora lançou desde que se mudou para a Sony Music Entertainment e tem como faixa inaugural “Os Argonautas”, um tema clássico de Caetano Veloso, lenda da música brasileira que contracena com a portuguesa nesta mais recente versão.

A ideia de escutar a voz de Carminho “nas mãos” de um produtor tão conceituado dentro da esfera mais alternativa do rock não estaria, muito provavelmente, na cabeça de praticamente ninguém que tem acompanhado o seu trabalho. Numa conversa com o Rimas e Batidas via Zoom, que decorreu a seguir ao lançamento do seu mais recente curta-duração, revelou-nos ser adepta do que Albini tinha feito com bandas como Nirvana ou Pixies, destacando especialmente o álbum Rid Of Me de PJ Harvey como sendo uma grande referência sua. E explica com melhor detalhe o que mais lhe cativa na estética que foi sendo desenvolvida pelo produtor americano:

“É aquela crueza, aquela ausência de artifícios que existe no som e na filosofia dele. Ele procura captar a banda ao vivo e dizia até que não se considerava produtor, porque gravava as bandas ao vivo e queria trazer para as colunas do estúdio, de alguma maneira, uma performance live. Isso tem tudo a ver com o fado, à partida.”



André Dias (guitarra portuguesa), Flávio Cardoso (viola), Tiago Maia (baixo), Pedro Geraldes (guitarra eléctrica e lap steel) e João Pimenta Gomes (Mellotron) foram os músicos que a acompanharam nesta aventura em disco — no Tiny Desk Concert, é Sebastião José Pereira quem surge a abraçar a guitarra portuguesa. As gravações no estúdio de Albini decorreram num só dia e as sessões foram conduzidas através de métdos o mais orgânicos possível, algo cada vez mais raro nos dias que correm. Sobre esse modo de trabalhar, Carminho revelou-nos que:

“O processo reflecte esta filosofia de uma ideia de combo em estúdio, de gravar directamente para uma fita, que é um processo que encurta logo imenso os artifícios e os vícios da perfeição. Há esta beleza na vertigem que tem uma performance ao vivo. São gravações muito vivas. Certos detalhes que naquele dia nos parecem erros, no dia seguinte já são pequenos tesouros. Com o tempo, aquilo envelhece, como o vinho do Porto.”

Steve Albini, que tem o seu nome cravado em fichas técnicas de álbuns como Surfer Rosa (Pixies), Pod (The Breeders), In Utero (Nirvana) ou Dogs (Nina Nastasia), morreu a 7 de Maio de 2024, numa altura em que Carminho se encontrava a ultimar os detalhes para o lançamento do seu novo conjunto de canções e ponderava até voltar ao Electrical Audio para trabalhar em mais material. A fechar a entrevista que concedeu ao ReB, conta-nos como recebeu a triste notícia que deu conta do adeus a um dos grandes nomes do rock mais inventivo das últimas décadas:

“Foi um choque. Ele estava por todo o lado — no meu pensamento, nas minhas gravações, nos meus e-mails, nos meus projectos futuros… Eu andava a fantasiar fazer um disco inteiro com ele. Isto foram só quatro canções num dia de sessão com ele. Eu queria lá voltar para me esticar, para fazer mais músicas. Pensei: ‘Nós vamos fazer um disco e vai ser incrível! Agora será uma cena mais premeditada, já vou poder pensar melhor no que vou querer gravar…’ Eu fantasiei isso. Eu estava cheia de referências dele, porque voltei a ouvir discos que ele produziu — uns eu já não ouvia há algum tempo, outros que nem conhecia ainda. Andava a ver entrevistas dele… Eu comecei a entrar por ali, a querer explorar mais o artista. Eu estava rodeada de Steve Albini. Ele estava muito presente em mim e eu estava muito familiarizada com ele. Ele morre de repente e… Foi a morte de uma pessoa que eu conheço e que estava muito perto de mim, que estava nos meus pensamentos. Foi muito duro. E mais duro ainda terá sido para aquelas pessoas que trabalhavam naquele estúdio e que levavam aquilo para a frente com ele. Havia ali muito amor. O Steve Albini estava de corpo e alma naquele estúdio e as pessoas que ali trabalham estavam ali por ele, para fazer viver aquele estúdio de forma muito séria, mesmo.”


pub

Últimos da categoria: Curtas

RBTV

Últimos artigos