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Fotografia: Todd Weaver
Publicado a: 07/05/2021

Ir na onda da energia.

Carlos Niño: “Além do amor, a música é o melhor que os humanos sabem fazer”

Fotografia: Todd Weaver
Publicado a: 07/05/2021

Depois das despedidas, Carlos Niño insistiu que ficássemos ainda a conversar mais um pouco. A ligação, através do sistema de chamadas do Messenger de uma rede social (ideia dele…), estava nítida, ele andava a caminhar numa floresta e queria, explicou, imaginar o sítio onde se encontrava o seu interlocutor: “perto do mar, muito bom. Sabes, estar perto da natureza — do mar, da montanha, do deserto — quando a presença humana menos se faz sentir, faz muito bem ao espírito”. Niño não esconde que é um hippie e todo o seu discurso está atravessado pelas mesmas ideias que definiram muita da new age que se fez nos anos 70 e 80 e que continua até a ser feita, mas percebe-se que há uma profunda convicção que carrega quando transmite essas ideias de uma forma que nunca é evangelizadora ou forçada.

More Energy Fields, Current, o novíssimo disco que acaba de lançar na International Anthem, de Chicago, tem na capa uma onda e essa é uma boa imagem para definir o próprio Carlos Niño: ele é, de facto, uma onda que atravessa os últimos 25 anos da música, que se manifestou em projectos marcantes como AmmonContact, Build An Ark ou The Life Force Trio e que o tem levado a cruzar-se, em múltiplos papéis, com gente como Miguel Atwood-Ferguson, Dexter Story, Sudan Archives, Matthewdavid, Makaya McCraven, Sam Gendel, Mark de Clive-Lowe, Dwight Trible, Shabazz Palaces ou Laraaji.

Será talvez como produtor que se tem distinguido mais, embora essa pareça ser uma faceta indissociável da de mestre percussionista que também o define, e nessa qualidade trabalhou, além de vários dos nomes atrás mencionados, com gente como Jamael Dean, Cut Chemist, Iasos, Piano Overlord ou Gaby Hernandez, movimentando-se em diversos géneros e linguagens com o mesmo à vontade.

Agora, Niño apresenta um novo trabalho em que reúne, como começa por explicar, uma série de amigos: Jamael Dean, Sam Gendel, Shabaka Hutchings, mas também Dntel, Aaron Shaw, Nate Mercereau ou Laraaji foram todos convocados. E percebe-se que é entre estes espíritos que se estabelecem, afinal, mais campos energéticos por onde circula a corrente que traduz a ideia do título escolhido. Um hippie, sem máscara, certo, mas isolado no meio da floresta para não se impor a ninguém: “andar por aqui faz-me pensar em mais música”, explica ele. Que possa continuar, então.



Acho muito poético chamares Carlos Niño & Friends a este colectivo. As alianças musicais chegam-nos de todas as formas — os músicos juntam-se porque partilham da mesma visão, porque tocam determinado instrumento ou porque falam uma certa linguagem musical. Ter apenas a amizade como base para um grupo não será algo muito comum. Concordas?

Eu não sei se é incomum. Sei que, para mim, é muito importante. É uma forma de reconhecer os colaboradores, as pessoas com quem trabalho. São mais do que pessoas que eu contrato. É, também, como dizes: são pessoas que tocam determinado instrumento, que tocam um determinado tipo de música e que eu queria para preencher um determinado papel dentro daquilo que eu quero criar. Este é, de facto, um projecto muito colaborativo. Fui eu quem o iniciou e sou eu quem o conduz, quem decide a sua direcção, mas todas estas pessoas que estão envolvidas são pessoas de quem eu sou próximo, nos mais variados aspectos. Uns são velhos amigos, outros são novos amigos. A parte da amizade é mesmo o pilar. E quando eu comecei a pensar num nome para o projecto, quis sempre que fosse algo que fizesse emergir o meu nome mas também que reconhecesse essas amizades em particular.

E podes falar-me mais sobre eles? Adoro as cenas que pessoas como o Sam Gendel, o Jamael Dean ou o Shabaka Hutchings têm feito ultimamente — música incrível. Certamente que terás boas histórias da tua relação com cada um deles.

Sim. Eu conheço o Sam há muito tempo e nós começámos a tocar juntos, sei lá… Acho que a primeira vez que tocámos juntos foi no início de 2018 mas eu já o conheço há uns 10 anos. Acho que nos aproximámos de uma forma muito amigável. “Gosto do teu novo disco”. E ele: “Eu também gosto do teu novo disco”. “Vamos juntar-nos para tocar?” Então começámos a tocar juntos e fizemos um dueto num álbum, que saiu em Dezembro de 2018 e que creio que foi gravado bem antes disso, lá para Fevereiro do mesmo ano. De qualquer forma, nós fluímos muito naturalmente. Até porque quando começámos a tocar já éramos amigos. E já tocámos muito juntos. Já estivemos juntos em digressão.

Mas o Sam é quase teu vizinho. O Shabaka, por outro lado, está a um oceano de distância, num outro continente.

Eu e o Shabaka não nos conhecemos tão bem e também não nos vemos com tanta frequência, claro, por causa disso, da distância. Mas estivemos juntos, deixa-me ver… Ele veio com a banda dele, os Sons of Kemet, assistir a um concerto que aconteceu numa sala de espectáculos gerida por mim, a The Del Monte Speakeasy, em Venice. Acabámos por falar nessa noite e, por alguma razão, um dos concertos que eles tinham agendado na cidade para a noite seguinte foi cancelado. Eu disse-lhes, “vocês podem tocar aqui amanhã à noite”. Eles ficaram muito entusiasmados com a possibilidade de dar uma actuação assim tão em cima da hora que me perguntaram se eu não me importava de tocar com eles. Aquela foi uma noite muito intensa, eu a tocar com os Sons of Kemet. Eu e o Shabaka talvez nos tenhamos encontrado um par de vezes depois disso mas nunca tivemos a oportunidade de ir curtir ou falar muito. Mas termos tocado juntos naquela noite deixou-nos entusiasmados. Pensámos até na possibilidade de gravar uns duetos. Voltámos a estar juntos em Chicago e em Nova Iorque para participar no espectáculo do Makaya McCraven, relativamente ao Universal Beings, no qual ambos participámos. E quando o Shabaka regressou a L.A. nós gravámos, de facto, esses duetos. Esses transformaram-se naquilo que são a primeira e última faixa deste meu novo álbum. E há muita música proveniente desses duetos que não vai sair já. Parte deles, uma porção muito pequena, está no meu novo disco. Há, para aí, uma hora de música gravada por mim e pelo Shabaka, juntos. Encontrei certos momentos, certos pedaços, dos quais criei loops para construir algo mais em cima daquilo. Foi assim que essa colaboração no álbum se deu.

Com o Jamael Dean, eu conheci-o através do Miguel Atwood-Ferguson. Eu já conheci músicos incríveis através do Miguel. Algo me chamou muito a atenção mal eu ouvi o Jamael pela primeira vez. Também nos conhecemos pessoalmente no The Del Monte Speakeasy, se não me engano. Ele estava no ensino secundário e já fazia parte do grupo do Miguel. Nós demo-nos muito bem logo desde o início e eu ofereci-lhe de imediato a sua própria residência no Del Monte, para ele tocar com o grupo dele mal a residência do Miguel terminasse. E assim foi. Aquela foi a primeira residência dele de sempre. Ele deveria ter uns 16 anos na altura.

Incrível!

Mesmo. Começámos a tocar juntos logo depois disso. Pedia-lhe para ir tocando umas coisas. Ele participa nos meus últimos três discos, se não estou em erro. Nos últimos três ou quatro. Esteve no Going Home, no Bliss On Dear Oneness, no Actual Presence e está agora no More Energy Fields, Current. Durante o processo, não só nos tornámos amigos como comecei também a encorajá-lo a criar o seu próprio álbum de estreia. Ele estava a compor tanta música… Eu co-produzi o trabalho de apresentação dele, Black Space Tapes. Ajudei-o a assinar pela Stones Throw. Estive muito envolvido com o Jamael e ele está em 8 das 10 canções que entram no meu novo disco. Temos uma ralação muito próxima.

Este álbum foi criado pela Internet, com a troca de ficheiros, ou tiveste a oportunidade de conduzir uma sessão de gravação mais tradicional num estúdio?

Faço as coisas de todas as formas que consigas imaginar. Desde receber gente em minha casa ao enviar ficheiros de trás para a frente. Também sou capaz de gravar num estúdio específico, de ter coisas tocadas totalmente ao vivo. Posso ter algo gravado apenas com um microfone numa sala. Todos estes pedaços podem vir de qualquer lado. Não tenho aquela cena de, “olha, isto precisa de ser regravado porque pode vir a soar ainda melhor”. Não. Se eu gosto da maneira como soa, mesmo que tenha sido vindo de um processo simples ou de uma sala muito pequena, está tudo bem. Se eu sentir que tenho camadas que diferem na fidelidade do som, eu misturo as coisas e sigo a minha intuição em relação a isso. Fico a escutar, a escutar, a escutar… Faço toda a minha edição e mistura com headphones. Não uso monitores. Não porque não goste de monitores, é apenas algo que eu faço e isso torna o processo muito pessoal. É uma espécie de massagem.

Desculpa se posso estar a ser um bocado invasivo, mas posso perguntar-te que headphones utilizas?

Não, não. Está a ser óptimo conversar contigo e essa é uma pergunta muito boa. E engraçada, também. Utilizo uns AKG K240 Studio. Gosto deles porque, basicamente, magoam-me menos nos ouvidos. Gosto da forma como as coisas soam lá, mas uso-os especificamente porque aplicam menos pressão nas minhas orelhas. Se usares headphones durante muito tempo podes magoar-te nos ouvidos. Por isso, uso-os tanto pelo som como pelo conforto [risos]. Mas são bastante básicos.



Eu tenho lido bastante sobre jazz espiritual recentemente e isso parece estar a ressoar nas pessoas mais do que nunca nos dias que correm. Achas que isso acontece por estarmos a viver neste tempo, em que precisamos de um tipo de som específico que nos consiga elevar e que nos possibilita “viajar” de forma segura?

Creio que as pessoas estão a despertar mais. E quando elas despertam, vão estar mais abertas e vão procurar tipos de música com uma vibração superior. Eu não sinto que seja específico deste tempo. Até porque toda a História tem sido de doidos. O mundo dos humanos, na minha opinião, está repleto de caos, de violência, de guerra, de divisão… Coisas como o jazz espiritual… Se tu falares nos artistas que mais directamente são referidos dentro desse rótulo, como o John Coltrane, a Alice Coltrane, o Albert Ayler, Pharoah Sanders, etc., a música deles é tão rica… Eles passam-te tanta informação espiritual através da música, tanta expressão. Por muito que as pessoas estejam atentas ao que está a ser feito de momento, fico feliz por saber que isso ainda existe e que existem pessoas que se interessam por esse som e nas quais essa música ainda ressoa. E eu acho que as pessoas estão a mudar e a reflectir sobre aquilo que estão a fazer no mundo. Particularmente, não sinto que isto seja uma época sem precedentes. Consigo ver a toda a hora, principalmente no mainstream, uns certos loops. Eu não me deixo apanhar nos loops nem baseio a minha vida em torno deles. Mas somos afectados por isso, todos nós. Todos somos afectados por aquilo que os outros andam a fazer. Estamos nisto juntos. Mas sim, a energia espiritual, para mim, é composta por vibrações maiores, frequências mais altas, uma intenção mais forte… Sinto que quanto mais as pessoas acordarem, mais atraídas se vão sentir a procurar e a celebrar esse som. Acho que, enquanto tendência, é uma boa tendência. Se as pessoas que estão nela a entendem ou não… Há coisas que viram tendência apenas porque certas pessoas se dedicam a coleccioná-las. Para mim, quanto mais essa música for ouvida, melhor. Seja qual for o motivo que traz as pessoas até aqui, estou contente por estar a acontecer.

Podes dar-me umas luzes sobre o título do álbum? Consegues descodificá-lo para mim?

Claro. Todas estas palavras são muito expressivas para mim. “More” refere-se a profundidade, a expansão. É tirar “mais” de uma conversa, da comunicação, da expressão, da oferta. Estas palavras podiam até, cada uma delas, dar o título a um álbum meu. “Energy” é uma palavra mais abrangente. Para mim, pode significar muitas e muitas coisas. Pode ser usada para descrever inúmeros aspectos da vida — os sentimentos, a comunicação e a expressão, uma vez mais… Pode significar o que sentes em relação ao som, o ser mais enérgico. “Field” é uma outra forma que eu arranjo para falar de espaço. Uma outra forma de eu dizer “aura” ou um certo estado de ser. Há muitas coisas nas quais penso quando falo em “Field”. Também pode ser o que mede a nossa posição em relação aos outros. Também pode ser electricidade, no sentido em que a terra está ligada ao nosso sistema eléctrico. A corrente, as ondas eléctricas… O disco podia até intitular-se apenas “Current”, só que, poeticamente, vinham-me mais coisas à cabeça e daí o More Energy Fields, Current. E é isso. Sinto que todas estas palavras são permutáveis. Podia colocá-las em qualquer ordem que iam sempre continuar a fazer sentido para mim. Current Energy Fields More, por exemplo [risos]. Os títulos são muito engraçados, porque às vezes são muito específicos, ligam-se a uma história ou a uma ideia. Outras vezes são demasiado carregadas. Este título é muito carregado. O Actual Presence, o disco que editei no ano passado, também é um título muito carregado. Foram estas as ideias em torno do título. E tenho a certeza que outras pessoas vão conseguir defini-las de outra maneira, diferente disto que acabei de te explicar. E provavelmente também elas estarão certas [risos].

É de facto muito aberto. Tu tens sido uma das forças que tem ajudado a conduzir a cena criativa de Los Angeles há já alguns anos. E tu já tocaste com toda a gente de lá. O que dirias que é único nessa cidade e que consegue definir a sua vibração?

Olha, eu não me relaciono muito com a cidade. Mas eu sei que não é isso que me estás a perguntar. Aquilo que eu diria… A Califórnia, para mim, tem a parte da costa, tem o tempo… No mesmo dia posso passar pela montanha e pela praia. Posso deixar-me envolver numa grande sessão de música. Tudo isto dá para aproveitar num só dia. Tens o ar, o oxigénio, as temperaturas… Los Angeles é bastante única. Eu não vejo nem sinto essa grande diversidade na maior parte dos outros sítios — e claro que há muitos outros locais que eu adoro. Eu passo muito tempo nos vales, na floresta, na praia. É mesmo muito amplo, diversificado e aberto. Mas [musicalmente] eu tento não sentir que isto é uma cena exclusiva de L.A.. Sem dúvida que sinto que há óptima música a ser feita todos os dias e em todos os cantos do mundo. Não acho que quando surge algo de espantoso a partir de uma determinada área ela tenha de ser obrigatoriamente o hotspot. Há sempre boa música por aí. Onde quer que haja pessoas e músicos… Eu apenas aqui estou por acaso. Sou muito activo por cá. Represento o que faço aqui, em L.A.. Mas não vejo nada de muito específico que possa determinar aquilo que é feito por cá. Acho que apenas soamos assim. Algo daquilo que eu acabei de te dizer dará a resposta ao que tu perguntaste.

[Risos] Nos últimos anos tens também colaborado em trabalhos de gente muito boa, como Laraaji ou Dexter Story. Estar no estúdio com essas pessoas deve fazer-te mudar o teu mindset, suponho. O que é que é mais desafiante para ti, quando estás a produzir os trabalhos de outras pessoas?

Eu não encontro desafio nenhum, para te ser honesto. É uma questão de saber ouvir, de estar aberto, de ser diverso. Fico numa de servir a música, de decifrar o que é que a música precisa. Há casos específicos de discos em que estou envolvido em que, antes de qualquer de gravação, há sessões que nos ajudam a desenvolver o conceito, de como queremos a música a soar. Noutros casos eu entro bem mais tarde no processo. Escuto as coisas no fim e decido quais as faixas que vão entrar ou faço as misturas finais do disco. Umas vezes apenas ouço, outras meto as mãos em tudo — gravo, edito, toco… É mesmo uma questão de servir o projecto. E eu sinto que qualquer projecto tem de ser multifacetado na sua abordagem. “O que é que isto precisa?” Se estou a trabalhar num projecto ou canção em específico, aquilo pode precisar ali de algo mais. Tem a ver com aquilo que a música te diz. “O que pode estar a faltar ali?” Ou, “que mais posso eu adicionar aqui?” São coisas que, para mim, não têm nada de desafiante. Eu sinto o grande desafio que tive na música foi quando tive de conduzir o ensemble Build An Ark. Porque aí tive de juntar todas estas pessoas, com diferentes personalidades, e tive de me assegurar que todos se davam bem e que desfrutavam uns dos outros enquanto colectivo. Só que o conceito de colectivo não é bem esse. Num colectivo, são as pessoas que se elegem a elas próprias para formar um colectivo umas com as outras. Neste caso, era eu quem estava a trazer toda a gente. Foi fixe durante alguns tempos, mas também houve outros em que senti que era muita coisa para gerir. Foi muito desafiante. E por isso que inventei este conceito do Carlos Niño & Friends. Eu não quero aquele tipo de desafios. Prefiro fazê-lo desta forma, em que a fonte de algo pode vir qualquer coisa. A fonte até pode ser uma sessão de Build An Ark, em que estão 20 pessoas a tocar numa sala, e eu depois reutilizo isso neste projecto enquanto Carlos Niño & Friends. Eu entusiasmo-me com todos os projectos em que estou envolvido. Adoro ideias imediatas e a habilidade de lhes dar resposta, o feedback àquilo que estou a ouvir. Dependendo do que o projecto precisa, é dessa forma que eu o abordo na produção.

Esse capítulo, dos Build An Ark, está encerrado?

Eu desmembrei o grupo em 2011, que foi exactamente 10 anos após termos começado, no Outono de 2001. Em Novembro deste ano vamos celebrar o 20º aniversário com uma antologia, que será editada pelos meus amigos da Rush Hour, de Amesterdão. Foram eles que editaram os nossos álbuns. Escolhemos 23 faixas de todo o nosso catálogo para a antologia, que foi feita de forma a contar uma história daquilo que fizemos durante os anos em que estivemos no activo. Estou bastante optimista em relação a isso. Creio que vai ser uma coisa boa de se oferecer. Até porque todos os discos esgotaram e a grande maioria não está sequer disponível em stream. Em vez de reeditar os álbuns todos, que era algo que eu não queria, decidi ir nesta direcção e a editora ficou muito contente com isso.

Boa. O teu coração parece ser guiado por este tipo de espírito de comunhão e as comunidades são bastante importantes, para se ajudarem uns aos outros fora de qualquer cena musical. Mas estamos a atravessar tempos em que a própria ideia de comunidade — pelo menos na sua manifestação física — parece estar em perigo. Temos de usar máscaras e manter uma certa distância, que é algo muito contrário a essa ideia. Achas que a música pode ser a grande cura para tudo isto?

Não. Eu não uso máscara nem mantenho qualquer distância. Nunca concordei com isso. Faço isso se estiver numa loja ou num grupo de gente que imponha esse tipo de condições. Não sou o tipo de pessoa que cria um grande alarido e que grita às pessoas para lhes dizer o quão descontente eu estou relativamente ao que quer que seja que alguém concordou em fazer. Mas eu não estou a viver da mesma forma que muitas pessoas se regem, estas directrizes, da Organização Mundial de Saúde ou do governo, etc. Eu não sigo nada disso. Não sigo o líder nem o gajo atrás das grandes corporações farmacêuticas. Para mim, o aspecto de comunidade não foi de todo embora. Apenas se afastou um bocado daquilo que era. Há malta que, ao longo do ano, vem até ao meu estúdio e diz algo como “uau, eu não estou com ninguém de fora do meu agregado familiar há tanto tempo”. Elas confiam em mim, eu confio nelas e acabamos por estar juntos. No ano passado eu apresentei 15 concertos privados. Foi algo que fiz para oferecer, porque não quero aceitar algo no qual eu não acredito. E isso não quer dizer que eu não respeite ou não me preocupe com o que se está a passar com quem quer que seja. Todos somos únicos, válidos. Todos têm sentimentos e fazem as suas coisas. Mas eu não vou seguir as massas e fazer algo em particular só porque toda a gente o faz. Tenho muito respeito e carinho mas vou manter-me activo em continuar a promover a comunidade e a comunhão. Isso é muito importante e acho que nunca, em qualquer circunstância, isso mudará para mim. Se acho que a música nos vai ajudar a atravessar isto? Acho que ajuda. A música, para mim, está entre… É a melhor coisa que os humanos conseguem fazer. É isso que eu diria. Aparte do amor — aquele amor de verdade que se manifesta de diversas formas — a maior coisa que os humanos fazem na Terra é a música. É uma das coisas que mantêm a minha fé no potencial da humanidade. E eu estou sempre rodeado de música — toco, ouço, colecciono, troco, partilho música. É a minha “moeda” favorita dentro da humanidade. Por isso sinto que a música pode ajudar. Mas se as pessoas estiveram já sintonizadas consigo mesmas, elas já vão estar sintonizadas com música superior. E isso vai dar-lhes mais aptidão a não concordarem com certas coisas que lhes são ditas pela televisão, pelos governos ou pelos chamados “oficiais da saúde”. Porque essa gente não está sintonizada com a música. E uma vez mais: eu não estou a tentar julgar ninguém ou a tentar afirmar algo importante. Estou apenas a falar do meu ponto-de-vista, da minha perspectiva. É assim que eu me sinto com isso. Não estou a dizer que eu é que sei o que é certo e o que é errado. É apenas a forma como eu me sinto em relação a isto.


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