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Publicado a: 21/09/2018

Carlão: “Eu aprendo sempre muito quando estou a trabalhar com pessoal novo”

Publicado a: 21/09/2018

[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Sebastião Santana

Entretenimento? é o mais recente disco de Carlão. Três anos depois de Quarenta, a estreia em nome próprio, o artista de Almada regressa em grande forma na companhia de nomes consagrados (Manuel Cruz, António Zambujo, Boss AC ou Branko), jovens talentos (PEDRO, Slow J ou Holly), antigos companheiros (Nelson Correia e João Nobre) e “desconhecidos” (Edi Ventura, xxoy. ou Pura Mob Keys).

Antes da actuação no Festival Iminente, que acontece este domingo, e do jogo “em casa” no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, no dia 29 de Setembro, conversámos com o Carlos Nobre Neves sobre entretenimento, o novo longa-duração, artes visuais ou a relação com a crítica.

 



A capa e o título estão obviamente ligados, e não deve ser por acaso que também aparecem imagens tuas ou relacionadas contigo no artwork. Entretenimento? é uma reflexão sobre o mundo e sobre ti? 

Sim, estou a questionar-me sobre o que é o entretenimento hoje em dia, até que ponto é que eu faço parte dele. Aquilo que eu faço, que é um bocado a minha história da minha vida, que é a música, faz parte desse bolo que é o entretenimento, quer a gente queira, quer não. Parece que quase tudo é vendido como entretenimento ou comunicado como entretenimento, mesmo as coisas mais sérias já são entretenimento. Sei lá, tu jogas um jogo de Playstation onde pegam numa guerra onde foram tiradas milhares de vidas humanas e serve de divertimento. O Trump é entretenimento, o Bruno de Carvalho é entretenimento. A música também é.

Achas que a nova geração não consegue distinguir o que é real do entretenimento? 

Sim, é um bocado complicado.

O Donald Trump e o Bruno de Carvalho são infantilizados. 

Sim, são muito infantilizados. O próprio discurso do Trump é dito que é equiparável ao de uma criança de 6 anos. A forma como ele escreve no Twitter, não é? Mas é uma criança de 6 anos que está à frente de decisões muito importantes a nível global.

Imagino que a reflexão sobre o mundo e sobre ti tenha levado a alguma conclusão. Estavas a falar para ti mesmo?

Estava. É assim: eu gosto sempre de ter algo que feche um disco, mesmo que não seja um disco conceptual, ou seja, que os temas não tenham forçosamente uma ligação entre si, gosto de ver ali um tema à volta do disco. Gosto de arrumar as coisas dessa forma. E como tinha este tema que se chama mesmo “Entretenimento”, e não tem um ponto interrogação porque é a minha visão sobre o entretenimento, que é quase bipolar: no primeiro verso estou a falar de mim próprio como o maior do mundo, um gajo super ponderado e muita bom, e depois no segundo verso é um bocado a desconstrução, são as inseguranças que estão em qualquer alma criativa. Nesse tema, não há uma pergunta. Há uma pergunta no título do disco porque quando estou a fazer o disco isso é uma questão que está sempre ali presente. Até que ponto o que tu fazes é arte ou não, entretenimento ou não, é percepcionada como tal ou não, e eu dei-lhe esse título porque é uma questão que eu acho que é muito válida, para mim e para as outras pessoas. Acho que acabo por fazer mais perguntas do que dar respostas, mas é uma coisa que eu penso e gostava que as outras pessoas pensassem também. Quando tenho um tema que é uma canção de amor, aparentemente inofensiva e inócua, pode ser tida como entretenimento. Quando tenho um tema a falar sobre depressão, também é entretenimento? Daí a minha questão.

Tem mais a ver com a percepção das pessoas. 

Nesse sentido, também tenho essa curiosidade de saber o que é que as pessoas acham que é entretenimento ou não. O próprio conceito de entretenimento está em mutação, não é? Portanto se calhar é uma coisa que não está fechada.

Alguma vez sentiste que a parte do entretenimento estava a intrometer-se na tua música ou sempre conseguiste encontrar um equilíbrio saudável entre os dois?

Pá, as coisas misturam-se. Eu sinto mais isso é no que está à volta da música. Eu próprio, para jogar este jogo, tenho que fazer algumas concessões, mas não as faço na música, ou seja, gravo um disco, o disco está feito. Agora já é diferente, mas, quando gravo um disco, obviamente que as músicas que eu vou querer para single são aquelas que acho que podem furar mais, mas não as fiz com esse intuito. Depois de acabar o disco ou ter umas quantas músicas prontas é que penso nisso. Depois, na forma como promovo a música, isso já é uma coisa que sai um bocado desse lado mais focado e criativo e do que eu quero que seja a minha música. E aí já faço concessões. Para responder à tua pergunta, acho que não. Não adultera a minha música. Pode adulterar de certa forma a maneira como ela é percepcionada, mas aquilo que é o meu corpo de trabalho e a minha música… pá, isso não há concessões.

 



E a minha questão também vem de outro ponto: existiu uma altura em que praticamente desapareceste do olhar público (principalmente na altura do projecto Algodão) e de repente voltaste a aparecer com os 5-30, Quarenta e em programas de televisão como o Rising Star ou o Esquadrão do Amor. A ideia do poeta eremita é demasiado romântica para um pai de família?

[risos] Eu sou uma pessoa algo solitária, por vezes, o que me leva a fazer outras coisas. Eu vivo a minha vida muito por fases, canso-me muito rapidamente das cenas e depois acabo por fazer muitas coisas diferentes porque me canso e porque, sei lá, estive muito com Da Weasel numa cena muito intensa, muitos gigs, e depois quando acabaram os Da Weasel senti que precisava de fazer outras coisas, que não tinha feito, para outro tipo de pessoas, com outro tipo de sonoridades e fiz Os Dias de Raiva, que era uma cena de voltar muito à adolescência, àquelas bandas de trash, hardcore, que era um feeling que eu gostava muito, e de certa forma não tinha cristalizado isso num trabalho digno desse nome, e fizemos ali dois discos. E depois do segundo disco de Dias de Raiva, que era uma cena bué pesada, uma parede sonora de guitarras, uma cena que me consumiu muito, fui logo para outro sítio, que era Algodão, que não tinha nada a ver e que era o registo quase oposto. Portanto, eu vou fazendo um bocado as coisas… ajo, reajo. É o que me apetece também, mas tento não estar demasiado tempo no mesmo sítio porque isso cria-te vícios, cria-te rotina, comodismo também, portanto vou variando um bocado.

Quero voltar à capa: como é que passaste a ideia ao Miguel Januário, o artista conhecido como ±maismenos±? 

Eu fiz um espectáculo de comunidade no meio de muita gente — José Mário Branco, Mão Morta, muitos músicos, actores. Um espectáculo de comunidade muito fixe na Capital Europeia da Cultura 2012. E na altura foi a primeira vez que eu vi o trabalho do ±maismenos±, ele fez muitas coisas na rua. Desconstruções do hino nacional, depois vi que ele tinha feito um enterro do país, simulou um enterro de Portugal. Bué gente ficou chocada, mas eu achei que era grande pedal. E as cenas todas que eu vi na rua, para já tinham essa dualidade do mais e menos, que é muito porreira, e achei que a arte dele sempre teve ali alguma coisa para dizer. Não era só o lado estético, também tinha uma componente social e política interessante. Neste caso do Entretenimento?, fiquei contente por ele ter aceite, e ficámos ali a falar um bocado do que é que era a minha visão disto. Esta fase que estamos a atravessar que é muito zapping de tudo, não é aquele zapping de televisão que havia há uns anos, porque agora já nem é bem isso, é mais rápido ainda, mas é o zapping no sentido que mudas de formato para formato muito rapidamente, toda a gente ouve tudo, já é uma misturada incrível… E o disco é um bocado isso, também é esse zapping. Dispara para vários sítios porque é a vida que nós vivemos também. E isso tudo entrou na conversa e depois ele apresentou-me esta proposta que eu achei do caraças. Acho que tem tudo a ver.

Ele apresentou-te logo o produto final ou ainda trocaram ideias?

Não, não. Houve alguma troca de ideias, mas aquilo que ele me apresentou era um rascunho disto, sim. Não mudou assim muito.

A capa do Quarenta teve a assinatura do Vhils, agora é o ±maismenos± que assume a capa. Qual é a tua relação com as artes visuais? Vais frequentemente a galerias e exposições? 

Vou, quando há coisas que me interessam, claro que sim. Quer dizer, quando eu era miúdo, nem havia esta ideia de arte urbana como há hoje em dia, que é do caraças.

A rua no museu…

Sim, sim. Só havia o lado clássico ou aquela arte contemporânea que muitas vezes nem é muito fixe, nem percebes muito bem. Com o passar dos anos, é bué fixe viver numa altura em que há nomes muito relevantes na arte mundial que vêm da street art e que fazem coisas nas quais eu me revejo completamente. Portanto, nesse sentido, claro que sim. Ligo muito às coisas que são feitas hoje em dia. Temos gajos muita bons, temos tugas muita bons, que é do caraças. Se puder, de certa forma, usar isso para dar imagem à minha música e deixar-me contaminar e vice-versa, pá, perfeito.

 



Encontras inspiração noutras artes? Existem filmes, livros ou exposições que te “obriguem” a tomar notas para não perder ideias?

Surgem ideias inevitavelmente. Não é dessa forma, eu não sou tão metódico, mas as coisas ficam lá na cabeça e depois tu vais jogando com elas.

Gostava de falar sobre todos os colaboradores, mas quero começar pelo Edi Ventura e o xxoy. Como é que chegaste a estes dois nomes? O Edi é praticamente desconhecido. 

Ao xxoy cheguei porque ele tinha feito um remix do “Bate Palmas” do Glue. Eu quando ouvi esse remix fiquei, “porra, é alto som”. Perguntei quem era ao Glue e ele disse-me que era um chavalo, que nem era de Lisboa, mas eu logo na altura disse que gostava de ouvir mais umas coisas dele, eventualmente até fazer ali uma colaboração. E a verdade é que ele acaba por ter três temas neste disco. É um puto de que eu gosto muito. Acho que esta é uma geração muito fresca que, para além de lidar com o lado mais de programação, tem uma cultura musical muito boa, e isso para mim é fundamental. Portanto tem esse lado de música que toca e programa também. É o melhor dos dois mundos.

Estiveram juntos no estúdio?

Pá, enviou-me os beats. Eu tenho uma coisa… Há pessoal que faz as cenas muito estruturadas, outras nem por isso. Maior parte das pessoas às vezes tem aqueles bocados sem estrutura, depois um gajo vai ajustando, mas ele tinha ali coisas bastantes diferentes, o que é fixe também porque eu gosto de, lá está, disparar em várias direcções e o processo foi muito na base de troca de e-mails e ir mostrando e dando indicações. Ele também, a partir do momento em que eu meto as rimas, vai sugerindo coisas novas.

E o Edi?

O Edi foi muita fora porque eu conheci-o a cortar o cabelo. Ele é bom barbeiro e estava lá na minha zona num salão a cortar cabelo e a conversa começou pelo Benfica e outras coisas. Às tantas íamos ouvindo som que estava ali a tocar e eu percebo que ele rima também. E ele mostra-me um vídeo e eu fiquei, “porra, mas isto é muito fixe”. E o Edi é um gajo com uma história de vida pesada, que já viveu ali um bocado, e lembro-me quando vi o vídeo dele, “Sabes o que é Life”, que o gajo tem cenas filmadas na cana desse som. Isto foi numa altura em que estava bué gente agressiva na rapalhada e eu a ver, “estes putos, meu, muitos deles nem têm cara para levar uma chapada, que ainda não passaram por nada na vida”, e estão ali a falar de cenas de gangster com uma propriedade que não existe, que é falsa. E por outro lado via outro gajo ali, que é o Edi, que se calhar tinha muito mais para dizer, e tinha muito mais razão para estar revoltado e dizer coisas que não diz, mas que vê, pega na cena de uma forma completamente diferente, ou seja, é um gajo que tem ali muito talento.

Reconheceste o talento. 

Reconheci o talento. É um gajo que rima bem. Tem skills. Mas também tem uma componente humana bué forte. Para mim, é muito mais fixe e válido um gajo que tem uma história de vida complicada mas pega na cena de um lado positivo. Não precisa de falar de certas merdas para tu as perceberes e isso é preciso arte também. Curti do trabalho e da pessoa e nessa altura estava a gravar o disco e disse, “pá, vais ter que cuspir ali qualquer coisinha”, e foi num beat do Holly.

Exacto, esse beat é do Holly. Como é que chegaste até ele?

Foi ele que chegou até a mim. Ele é um gajo incrível, man. O gajo vai atrás, não tem nóias nenhumas… Isso revela que ele tem confiança no trabalho dele. Eu admiro essa malta que vai atrás, acho que é uma cena bué fixe. Estar no hustle dele. Manda beats para toda a gente, coisas muita boas [risos], o gajo mandou-me sei lá quantos beats. E eu acabei por usar dois: um que está no disco físico e digital e o outro só aparece na pré-venda do álbum no iTunes. E é um gajo que bule para caraças. Acabámos por nunca estar juntos, até houve uma altura que nos cruzámos no aeroporto, o gajo ia para os Estados Unidos, e entretanto depois percebi que o gajo está aí com beats em todo o lado. Pá, e é um puto com bom feeling, boa onda, humilde na conversa e com muito talento.

 



Quando olhava para a tracklist, apercebi-me que tu estás numa posição rara, privilegiada e de grande responsabilidade: quem escolhes para entrar no teu disco, se não for um nome conhecido do grande público, tem aqui uma verdadeira oportunidade de dar um salto, tal como acontece com os artistas e produtores que entram num disco do Drake, por exemplo, adaptando à nossa escala, obviamente. Alguma vez pensaste nisso dessa forma? 

Pá, não sei, não penso muito assim. Maior parte das vezes penso que é pessoal porreiro e que merece essa luz, mas não é favor nenhum. Agora obviamente que, quanto mais nomes eu tiver conhecidos, melhor para promover a cena. Eu aprendo sempre muito quando estou a trabalhar com pessoal novo, com pessoal que ainda não tem vícios, que não está formatado, que não está a fazer as coisas sempre por um ângulo e é bué fixe ter esse lado. Portanto, é bom ter nomes conhecidos, mas também é bom estar a trabalhar com pessoal novo porque há uma entrega diferente.

Falando do Slow J em particular, é curioso que o tenhas convidado, até porque ele foi muito comparado contigo quando apareceu. Como é que aconteceu esta ligação?

Eu quando conheci o Slow ele estava lá no sítio onde surgiu 5-30, que era um estúdio ali na Maria Pia. Ele tinha lá uma sala, eu tinha outra, o Regula tinha outra, pá, às tantas ele quando foi para lá eu já estava quase a bazar desse estúdio, mas ainda trocámos umas conversas. Na verdade, eu ainda não conhecia tão bem o trabalho dele, até porque estava muito focado nas coisas que andava a fazer na altura. Não estava muito aberto a ouvir outras cenas. Mas quando ouvi o “Cristalina” fiquei, “pá, isto é uma cena diferente, isto é sério”. [risos] Entretanto bazei de lá, vim para este lado novo, mas quando ouvi o álbum dele bateu-me muito, sabes? Ouvi o álbum do princípio ao fim e fiquei, “porra, grande disco”. Grande disco, boa música, boas letras, sei lá, o pacote todo. Estava ali uma cena mesmo boa. E depois quando percebi também que havia ali essa cena da parte dele ter dito… vi uma cena no Facebook, quando saiu o disco, ele meteu lá alguns nomes e entre eles estava eu. E isso claro que é uma coisa que facilita muito eu ir falar com ele para ter um tema dele porque percebo que também há uma abertura. Quando nos encontrámos, ele já tinha algumas coisas que não tinha usado, pá, e eu quando ouço o tema que acabámos por usar, o “Repetido”, tem tudo a ver comigo: musicalmente e a letra.

Não sei se te recordas, até porque já foi há um ano, mas a Folha de São Paulo falou sobre a actuação em que participaste no Rock in Rio Brasil. Não quero falar sobre isso em concreto, mas quero partir daí para a questão da crítica e da tua relação com ela. Como é que lidas? Também pergunto isto porque, se não me engano, chegaste a fazê-lo para a Blitz. 

Fiz entrevistas e alguma crítica.

Costumas pesquisar o teu nome na Internet? 

Não, nem pensar. Não vale a pena. Fiquei um bocado triste pela parte do Rimas e Batidas porque acho que não fizeram um bom trabalho na medida em que não esclareceram uma coisa que deveria ter sido logo esclarecida, porque aquilo foi vendido (NR: pelo Rock In Rio) como uma cena hip hop e não era. Isso parte tudo de um grande erro que é venderem um concerto como hip hop quando não é. A única pessoa que estava ali mais ligada ao hip hop, e não posso ser embaixador de hip hop em lado nenhum, era eu. Porque HMB e Virgul, apesar do Virgul ter tido uma ligação a uma banda, aquilo que ele faz enquanto artista a solo não tem nada a ver com hip hop. A única pessoa que estava ali e que tem uma ligação mesmo assim mais forte com o hip hop era eu, mas mesmo eu, como acabei de dizer, não posso ser tomado como exemplo de hip hop. Portanto, a cena parte logo toda desse erro de quem comunica aquilo como sendo hip hop e, obviamente, da crítica que é muito maldosa porque sabia que aquilo não era um concerto de hip hop. Julgar aquilo como hip hop é um erro.

Ainda assim, partindo do princípio que os gajos são burros e acharam que aquilo era um concerto de hip hop, acho que o Rimas esteve bem num lado — então toma lá isto –, mas esteve mal noutro sítio que devia ter partido logo do princípio “não, meus amigos, vocês não estão a falar de hip hop” e aí não podem julgar. Houve uma crítica excessiva da parte do jornalista brasileiro… não foi excessiva, houve ali uma certa má onda. Mas acho que o grave disso tudo foi falar-se de uma coisa que não era justa para ninguém. HMB não é hip hop, Virgul não é hip hop. As coisas que tenho feito, mesmo dos tempos dos Da Weasel, convivem muito com o hip hop, mas não dá para dizer que o meu disco é de hip hop, porque não é.

Para responder mais concretamente à tua pergunta, acho que ninguém convive muito bem com a crítica, quando é uma crítica lixada. Acho que vivemos numa altura que é muito diferente daquela que era quando eu comecei, porque a crítica agora é de toda a gente. É uma cena muito lixada.

Mas estava mais a pensar na crítica especializada. Lês?

Leio. Depende do que for. Lá está, comentários não vou ler. Eu tive N críticas positivas ao longo dos anos, mas aquelas que ficam são as negativas. O negativo é que te fica ali na cabeça. É lixado, man. Podes ter 10 cenas a falarem bem, mas há uma que fala mal e essa é que vai ficar. É lixado, mas é assim.

Também queria falar sobre o Boss AC. Qual é a história da “Viver Pra Sempre”?

Cruzámo-nos numa conferência de imprensa e já não via o AC há algum tempo. Nesse mesmo dia que estou com ele, liga-me a Conceição Lino da SIC para fazer o tema do E Se Fosse Consigo?. Pá, tinha acabado de vir dessa conferência de imprensa em que encontrei o AC e tinhamos falado sobre estarmos juntos para trocar umas ideias. E a Conceição Lino liga-me e eu, “pá, se calhar”… Parece que é daquelas merdas em que está tudo ligado. E pensei que o AC poderia ser a pessoa indicada para produzir o beat para o E Se Fosse Consigo?. Eu falei com ele, dei-lhe o toque, ele mostrou-se interessado, começámos a ouvir coisas que ele tinha. Uma das coisas era esse beat do “Viver Pra Sempre”, mas eu achei que não deveria, apesar de ter curtido muito, ser esse o beat para o programa. Não batia ali muito bem. Mas fiquei com ela fisgada [risos]. Passado uns tempos, “AC, curtia utilizar este beat, o que é que dizes?”, e ele disse, “vê lá, trabalha nisso”. E foi daquelas músicas que se escrevem muito rapidamente porque é um tema que me bate muito.

Também voltas a trabalhar com o teu irmão. Foi a primeira vez desde Da Weasel?

Aconteceu com Algodão. Eu pedi-lhe dois temas para Algodão. Mas neste registo, ou seja, aquilo que eu faço em Algodão, não é aquilo que eu estou a fazer aqui, nem é aquilo que eu tinha feito com os Da Weasel, tanto a música que ele fez para isto, como a minha entrega no tema, são muito mais próximas daquilo que nós tínhamos feito juntos nos Da Weasel. Portanto, é como se fosse a primeira coisa desde Da Weasel.

O que é que te irrita mais: perguntas sobre os Da Weasel ou uma derrota do Benfica?

[risos] Depende da derrota e depende da pergunta [risos]. A cena que me faz mais confusão com o assunto Da Weasel é que muitas vezes as pessoas não são totalmente… há perguntas que vêm de quadrantes diferentes. Há pessoal que entra na onda. Já diz aquilo porque sim. Depois há pessoas que são realmente fãs e que se calhar a coisa faz mais sentido. Mas varia muito. Precisamente por sermos um alien na cena hip hop — falávamos a linguagem, mas metíamos muita coisa à mistura — , havia bué gente que desatinava connosco na cena hip hop e não respeitava. E depois quando acaba, já é mais bacano. Portanto também há uma grande hipocrisia da parte de muita gente que passou a ver a cena com outros olhos a partir do momento em que acabou, e até me dá vontade de rir. Agora, grosso modo, fico contente porque percebo que realmente foi uma cena que marcou muito. E aí só tens é que ficar contente.

 


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