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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/03/2024

A brincar se vai longe.

Capital da Bulgária: “Eu não gosto de me levar a sério”

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 29/03/2024

contei e deixei que tu me julgasses é o primeiro longa-duração de Sofia Reis, artista que vai pelo nome de Capital da Bulgária. Entre vlogs e covers, a artista começou a dar os primeiros passos na expressão da sua criatividade através do seu canal de YouTube, tendo evoluindo para a criação de música em nome próprio, primeiro com o seu EP Pequeno-Almoço em 2021, e agora com o álbum que foi lançado no final de fevereiro deste ano.

Usando a música, e também a criação estética através do vídeo, fotografia ou design como um espaço onde há direito à brincadeira e ao sentimento, Sofia Reis começa assim a dar passos firmes na indústria e estreia-se já hoje no Musicbox em nome próprio para uma apresentação em torno de contei e deixei que tu me julgasses. O Rimas e Batidas sentou-se à conversa com Capital da Bulgária para descobrir como é que a arte de fazer canções invadiu a sua vida.



Nas redes sociais publicaste a foto de um quadro de tarefas onde se podiam ler os supostos títulos que poderiam dar o nome ao álbum, entre os quais, “dia após dia”, “a parte triste de viver”, e “nem todas as consultas são no consultório”. Como é que chegaste ao título final, contei e deixei que tu me julgasses?

Claramente é o melhor. Deles todos é o mais fixe. E porque eu digo essa letra no primeiro som do álbum, e eu fiquei tipo [faz gestos com os dedos a apontar para vários lugares]. Isto não é tradução para áudio. Desculpa, mas eu fiz uma quantidade de gestos que eu acho que foram super indicativos e explicativos do que estava a dizer.

E quais é que foram as ideias por trás daqueles que estavam na lista?

É uma pessoa a tentar perceber o que faz sentido com o que eu estou a dizer no álbum,  a sua estética… Não tem muito sentido, na verdade. Eu só vou fazendo e o que sentir que é o certo, acabo sempre com isso.

O álbum tem um ambiente sonoro muito caseiro e uma escrita que também é muito focada nas emoções da vida quotidiana, sobretudo a nível amoroso. Podemos ver este álbum quase como um diário em formato musical?

Eu acho que é literalmente isso. É tipo um vlog numa linguagem mais de hoje em dia. É literalmente um vlog, só que musical.

Como é para ti esse processo para encontrares esse lugar de vulnerabilidade na escrita?

Escrever em português é uma bosta. Porque a linha entre o demasiado sério e pesado e a linha do azeiteiro é bué ténue. Andar ali no meio é bué difícil. E eu não gosto de me levar a sério, nem de Tony Carreira. Então eu tento escrever de uma forma, a dizer aquilo que eu quero dizer, e que ao mesmo tempo seja honesto, mas que não seja nem azeiteiro, nem, tipo: “Ya, eu sou bué profunda e uma pessoa bué séria”. Então demoro bué a escrever. É a pior cena. Estou sempre ali a lutar, tipo: “Não, isto é demasiado podre, ou isto não se percebe”. Porque a cena do pretensioso, para mim, é que nunca se percebe. As letras são tão complicadas que tu tens que ler e dissecar para perceberes o que é que a pessoa está a dizer.

Como é que fazes essa seleção ? Quantas letras é que deixaste fora, que critérios é que escolheste para encontrar esse equilíbrio para não ser demasiado nem pretensioso, nem demasiado azeiteiro, como estavas a dizer?

Vou fazendo, e digo: “Olha isto até soa bem. Isto soa fixe, isto não soa fixe. Isto soa cringe, isto não soa cringe“. É andar ali à procura. E depois como a língua portuguesa é bué dura, temos bué R’s, é bué difícil  cantar de uma forma bonita. Eu foco-me bué em sílabas. Só ver alguma frase que faz sentido, que esteja boa e que não seja cringe nem nada, eu fico tipo: “Fixe”. Mas depois, ao passá-la para canto, se alguma sílaba chocar com a melodia já tenho que voltar atrás. Tenho que voltar a escrever e então é bué chato… Mas ao mesmo tempo gosto bué. É chato, mas andar ali a escavar, quando encontras uma cena que tu gostas, tu ficas: “Isto é bué fixe”. E depois estar ali sozinho a vibrar com aquilo…

E quando é que começaste a fazer o álbum?

No início de 2022 oficialmente, mas, por exemplo, “azul e amarelo” foi escrito em 2018. Mas tecnicamente, ando a pensar fazer isto mais a sério há dois anos.

E quais é que foram as ideias que tiveste presentes no processo da produção e da sonoridade para aquilo que fizeste?

Zero. Não faço ideia. Fui fazendo só, tipo: “Ah, isto é fixe”. Literalmente. 

De que forma é que sentiste que evoluíste nas tuas capacidades, desde o primeiro EP, Pequeno-Almoço, lançado em 2021, até o concretizar deste álbum?

Foi só confiança. Como eu fiz o EP completamente sozinha, nem conhecia ninguém, não fazia ideia com quem falar, foi um pouco… Eu já fiz uma cena, então agora se eu quiser fazer outra, já sei que sou capaz, então já posso aventurar-me mais e ir um bocadinho mais além.

Tu multiplicas-te em várias tarefas nas diferentes vertentes da conceptualização do teu objeto artístico: o design, a fotografia, o vídeo. Qual é o papel que tu dás à interseção da estética em conjugação com o produto musical, e que a ideia é que tiveste nesse aspeto para álbum?

Eu fui fazendo com o que eu tinha, com as coisas que fui tendo acesso e as pessoas com quem fui tendo contactos. E fui só vendo: “O que é que eu posso tirar disto? Como é que eu posso fazer uma cena fixe com as coisas que eu tenho?”. Não foi propriamente: “Ah, quero fazer isto, um X num bloco de ideias e vou tentar fazer, vou concretizá-las até ao fim”. Foi mais do género, porque tenho ferramentas à minha frente, tenho um martelo, tenho um papel, uma câmara. Estás a ver quando tens um monte de peças do Lego e tu pensas: “Ah, posso fazer uma casa, posso fazer um robô”. Foi assim que eu trabalhei neste álbum, porque ainda não tenho muitos recursos e muitas pessoas e coisas.



Tu já fazias vídeos no YouTube e depois também começaste a fazer covers, também alguns vlogs e coisas engraçadas. Como é que foi esse processo de evolução no uso do YouTube e do vídeo?

A música sempre foi o foco principal. Só que eu sou uma pessoa bué parva, estúpida e infantil e gosto de brincar. Fui fazendo e foi aquela coisa de “achei engraçado, vou fazer”. Ganhei uns seguidores no Twitter e coisas assim. Estava no Cais do Sodré agora, veio um rapaz ter comigo, pediu um autógrafo. Foi a primeira vez que me pediram um autógrafo, e disse: “Ah, eu seguia-te desde o COVID no Twitter, achava bué graça aos teus vídeos”. E eu fiquei só um bocadinho envergonhada, porque são vídeos antigos e é sempre chato, mas depois fiquei tipo: “Mano, grande G, grande original, está aqui já há imenso tempo.”

Há um vídeo deste álbum, o “cansada de ti”, em que estás num stand-up comedy e és gravada debaixo de água. Como foi fazer esse vídeo?

Péssimo. Quer dizer, foi fixe, porque é engraçado. Agora tenho uma história para contar. Mas foi péssimo, porque estava bué frio. Nós tínhamos planeado fazer as cenas de água todas no dia. Organizámos a shopping list, super profissional, tudo organizadinho. Depois começámos a fazer e ficámos: “Isto vai ser impossível”. Nós tivemos que repartir durante quatro dias, porque era impossível estar dentro de água, era mesmo, estava muito frio. Era em Sintra. Está verão em todo o lado, em Sintra está sempre a chover. Ou está bué frio, ou está nublado por causa da serra. E ainda por cima era inverno, e em Sintra. Graças a Deus e à minha namorada, senão nós não íamos conseguir. Eu não ia conseguir sozinha.

Como foi levar com um balde água fria na cabeça?

Também foi engraçado. Tinha-me esquecido. A água foi tão traumatizante que eu esqueci-me do balde à fora do Lisbon Comedy Club. Foi engraçado, mas é tranquilo. Com que eu já tinha passado no mês anterior já estava tranquilo. 

Porquê Capital da Bulgária?

E agora vou perguntar-te a ti: tu sabes qual é a capital da Bulgária? 

Sófia, e chamas-te Sofia

É fácil. Agora é fácil. 

Mas como é que surgiu esse nome?

Eu estava na altura à procura de nomes, e estava a comentar com uma pessoa sobre possíveis nomes, e ainda estávamos a discutir isso, e depois eu disse a gozar: “Ah, daqui a pouco vou chamar-me a capital da Bulgária” [risos]. Estava a gozar. E depois ela riu-se. Depois pensei um bocadinho e pensei que Capital da Bulgária é fixe. Depois estive ali a repensar, fiquei ali uns dias a marinar, e depois ficou. Achei graça. E eu disse-lhe isto porque, quando era pequenina — eu sou do Alentejo e a minha mãe é professora de Educação Física — havia um professor que era de Educação Física que era amigo da minha mãe que só me conhecia porque eu era filha dela, e porque é do Alentejo, então toda a gente se conhece. Ele sabia que o meu nome era Sofia. E sempre que ele passava por mim ele fazia assim: “Sófia é capital da?” E eu tinha que responder. Tinha que sempre dizer Bulgária. E então ficou-me na cabeça, e eu disse-lhe isso no gozo porque lembrei-me disso, e acabou por ficar. Ou seja, grande stor Bibiano, que me deu o meu nome. 

Como é que foi a evolução do fazeres covers, para quereres lançar-te numa coisa mais séria,  lançares um EP e agora um álbum?

Eu sempre quis fazer. A quarta música do álbum é sobre isso. Eu tinha vergonha, em pequenina, de dizer que queria ser cantora, então inventava profissões. Dizia que queria ser médica, pintora…  Mas eu sempre soube, e sempre tive interesse, sempre fiz para isso. Já faço covers desde bué novinha. Tive um MP4 que só gravava um minuto e fazia covers lá. O meu irmão tinha um microfone de gamer, que era uma coisinha assim pontiaguda, e aquilo dava para gravar durante 30 segundos e eu depois estava a gravar com os olhos abertos a cantar ao mesmo tempo, pronta para carregar outra vez, para quando os 30 segundos acabassem poder continuar. Com tudo o que eu fui agarrando ao longo do tempo, sempre tentei ir fazendo. Depois estou aqui, não sei bem como bem cheguei aqui e espero chegar a outros sítios. Muito bem.

Como é que tem sido? 

Doloroso. Ao mesmo tempo que é bem fixe, porque é uma cena que tu gostas. Tu duvidas de tudo. De tudo… Depois ficas naquela de: “Será que eu fiz uma boa escolha para a minha vida? Será que eu vou estar na luta o resto da minha vida? Será que eu vou estar cansada sempre também?” Mas espero que não. Vamos rezar, porque senão a minha namorada é que me vai ter que sustentar e eu não quero isso.


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