[TEXTO] Alexandra Oliveira Matos [FOTO] Direitos Reservados
“Rap é pra meninas”: uma “provocação” que Capicua vai levar até à Fundação Calouste Gulbenkian nos dias 16 e 17 de Julho. O workshop inserido no âmbito da iniciativa “Palavra e Música” já está esgotado e pretende dar uma “injecção de estímulo” às mulheres que estão a dar os primeiros passos no rap.
A preparar um novo álbum que prevê lançar em 2019, a rapper do Porto confessa sentir que quer “ir embora”. Contas feitas, já ouvimos as palavras de Ana Fernandes desde 2006 e os dedos das mãos chegam para contar o número de mulheres no panorama rap em Portugal. “Se fosse fácil seríamos muitas”, remata.
O Rimas e Batidas esteve à conversa com a autora de Sereia Louca e trocou algumas ideias sobre a oficina na Gulbenkian, as mulheres no rap ou a passagem de testemunho.
“Rap é pra meninas”, uma frase que queres que seja levada à letra?
É uma provocação óbvia. Acho que é auto-explicativa.
Que ideias vais tentar transmitir nesta iniciativa?
Algumas noções básicas e uma injecção de estímulo. Quero dar força a quem está a começar, tirar dúvidas a quem possa estar no processo de desenvolvimento, estimular a criação de redes de entre-ajuda, ver se uma nova geração de mulheres do rap se reforça e evolui rapidamente.
O que vai ser feito nestes dois dias na Gulbenkian?
Alguns exercícios de escrita e muita conversa sobre o rap (do ponto de vista de quem o faz ou quer começar fazer e, particularmente, no que tem que ver com isto de ser mulher neste meio).
As inscrições já estão esgotadas, são 12 participantes. Já conheces algumas delas?
Sim. Tenho feito alguns encontros com rappers em Lisboa e no Porto e algumas delas vão participar na oficina. Vai ser uma espécie de extensão do “Conselho da Tribo” mas na Gulbenkian.
Acreditas que ganhemos uma nova rapper saída desta iniciativa?
Acho que só esta iniciativa não é suficiente para criar rappers mas espero dar alguma força àquelas que já estão no processo.
Quais são os principais motivos, na tua opinião, que impedem que mais mulheres estejam no rap?
Primeiro a questão cultural que afasta mulheres das esferas eminentemente masculinas e não nos estimula a desenvolver as características fundamentais para romper com o ciclo de desigualdade. E depois alguma resistência por parte do meio, ou pelo menos falta de encorajamento, alguma falta de referências que demonstrem que é possível, as outras dimensões da vida que deixam pouco espaço à persistência necessária, muitas coisas… Se fosse fácil seríamos muitas!
Queres passar o testemunho? Sentes que tens essa missão?
Sinto que um dia destes quero ir embora e não quero deixar um grande vazio atrás de mim.
Sobre o novo álbum, já tens data? Alguma novidade que possas contar?
Está a caminhar. Espero poder lançá-lo em Março ou Abril do próximo ano. Estou a curtir o processo e acho que será um disco importante para a minha carreira.