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Publicado a: 30/03/2016

A caminho de Views From the 6: 2015, ou o ano em que Drake se assumiu como Legend

Publicado a: 30/03/2016

[TEXTO] Bruno Martins [FOTOS] Direitos Reservados

O ano de 2015 pode muito bem ter sido o ano mais importante da carreira de Aubrey Drake Graham. Não se estranhe que muitos dos frutos que o rapper de Toronto venha a colher no futuro – e já muito em breve – sejam consequência de um ano em que foi das principais figuras do universo da música. Seja pelas edições e lançamentos que fez ao longo do ano, seja por culpa daqueles fenómenos a que nos dias de hoje podemos chamar “Internet”.

Há quem diga, à boca cheia, que Drizzy é um verdadeiro workaholic. Um perfeccionista. Outros preferem levá-lo menos a sério e sublinhar o facto de ser um suposto menino de berço de ouro, crescido sem grandes tormentas, meio-judeu, antiga estrela da televisão canadiana que se transformou em rapper. “Oh, a ousadia!”, exclamam. Em 2015 foi coisa por demais – Drake passou o ano com as orelhas a ferver.

Depois de um 2014 em que se manteve um pouco abaixo do radar, Drake arrancou o ano em força, com um grito de “surpresa”: a 12 de Fevereiro mandou cá para fora, inesperadamente, If You’re Reading This Is Too Late, um trabalho com 17 faixas que o rapper insiste em classificar como mixtape por não sentir a coesão que um álbum seu deve ter – como explicou numa longa entrevista à revista Fader, por ocasião do lançamento do número 100. Também pode ter sido para arrumar a papelada e os contratos que o mantinham preso à Cash Money Records e agora ficar livre para assinar outro mega contrato – vamos ver quem vai seduzir Drake. If You’re Reading This It’s Too Late pode ser muita coisa, mas foi também o trabalho que o trouxe de volta à ribalta depois de Nothing Was The Same. Ainda que não seja aquele que Drake considera o digno antecessor, esta extensa mixtape andou nas bocas do mundo, integrou a lista das melhores edições do ano e, em pouco mais de três dias vendeu 500 mil cópias.


 


 

Drake nem sequer precisou de puxar, condignamente, o seu grande parceiro de trabalho Noah “40” Shebib – o produtor deu uma perninha em três faixas. E dessa forma If You’re Reading This It’s Too Late abriu espaço ao trabalho de dois outros colaboradores, PARTYNEXTDOOR e Boi-1da, que assumiram as principais despesas no departamento dos beats. “If You’re Reading This… poderá não beneficiar do refinamento que Drake já provou ser capaz de alcançar, mas ainda assim é um trabalho musical e liricamente sólido que o afirma como habitante claro da primeira divisão”, escreveu Rui Miguel Abreu, em Junho, por alturas do lançamento físico da mixtape que arranca com uma declaração vaidosa de intenções: “All I know, if I die, all I know is I’m a mothafuckin’ legend/It’s too late for my city, I’m the youngest nigga reppin”.


 

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Drake não hesita na altura de se colocar no pódio e de ombrear com os outros gigantes da praça. E com todo o mérito – há que dizê-lo. Drizzy pode não ter na sua forma de cuspir rimas a acutilância social que tem, por exemplo, Kendrick Lamar – que em 2015 se tornou um porta-estandarte das importantes e necessárias lutas pela igualdade nos EUA. Mas também há que dizê-lo: não têm todos de falar do mesmo. E a voz de uma geração também se cria com a existência de uma pluralidade de individualidades. Hoje em dia, Drake é um verdadeiro embaixador da 6, número pelo qual é conhecida a cidade de Toronto, no Canadá. O “6 God” é, desde 2013, uma importante figura da equipa de basquetebol da NBA Toronto Raptors – um embaixador global do emblema. “Sempre tive muita inveja do Wiz Khalifa ter aquela canção, a ‘Black and Yellow’, sobre Pittsburgh. A tua cidade deve ser exultada! E disse a mim mesmo que ainda iria fazer uma canção que pertencesse a Toronto e que o mundo abraçasse”, disse na entrevista à revista Fader. Se o tema “Know Yourself”, incluído em If You’re Reading This… pretende ser essa homenagem, o que esperar então de um disco inteiro supostamente dedicado a Toronto, Views From The 6, a segunda cidade do mundo com mais população nascida fora do país – atrás de Miami – e com uma enorme comunidade imigrante oriunda da Índia, China, Filipinas, Jamaica…


 


[Meek Mill: Um beef bem passado]

Depois do surpreendente regresso às edições, Drake voltou a ser notícia. O número de discos vendidos indicava isso mesmo – nem precisou de grandes promoções, pois a Internet tratou de o fazer. É nesta altura que entra em cena Meek Mill, um jovem rapper de Filadélfia à procura do seu espaço nesta alta-roda do hip hop. O namorado de Nicki Minaj – sim, também pode ser conhecido por causa disso – convidou Drake para participar numa faixa de Dreams Worth More Than Money, e um mês depois do disco ser editado acusou – via Twitter, claro – Drake de não escrever as suas próprias canções – incluindo “R.I.C.O.”, a faixa em que o rapper de Toronto participa – e de ter um ghostwriter, alegadamente um rapper de Atlanta chamado Quentin Miller, a escrever-lhe os temas.

Os beefs entre rappers são hoje muito diferentes daquilo que eram, por exemplo, quando Jay Z se pegou com Nas. Na altura, recordemos, a resposta do rapper de Illmatic a “Takeover”, do álbum The Blueprint, aconteceu três meses depois, aquando do lançamento de Stillmatic. Em 2015, Drake demorou um par de dias a responder aos tweets de Mill com duas faixas no Soundcloud. Os dois andaram nisto durante uns dias – pelo meio apareceu no festival de Coachella e levou um chocho de Madonna que vai ficar para a história – até que a 31 de Julho Drake encerrou este capítulo e silenciou o rapper de Filadélfia com “Hotline Bling”, uma das faixas do ano com uma sonoridade tropical-deprimida, própria de um coração partido porque o telefone já não toca – e a miúda já não quer saber de nós para uma noite aninhada.

Este foi o segundo grande momento do ano de Drake, ampliado dois meses depois por um vídeo que dá azo a todo o exorcismo do coração: como todos já fizemos, com mais ou menos inflamações etílicas, Drake dança livremente, sem se preocupar com nada daquilo que possa ser dito a propósito do seu jeito para abanar a anca. Não menos importante, foi um vídeo importantíssimo para o mercado dos memes, vines e gifs da Internet, que (e)levaram “Hotline Bling” aos 600 milhões de plays no YouTube e a mais de dois milhões de vendas do single nas plataformas digitais.


 

https://www.youtube.com/watch?v=PWiXA-w4DHg


 

[A mixtape com Future]

Ainda andávamos nós a cantar e a dançar “Hotline Bling” nas saídas tardias da praia quando ficámos a saber que Drake estava com mais um plano em marcha para reinar em 2015. Na entrada do Outono, Drizzy anunciou uma outra mixtape, desta feita a meias com o rapper de Atlanta Future. E eis o terceiro grande momento do “6 God” em 2015, que, com este What a Time to Be Alive e depois de If You’re Reading This… , conseguiu ter num ano dois discos no topo da tabela dos discos mais vendidos nos EUA. “Dois MCs com diferentes vivências numa união com um propósito: fazer uma mixtape clássica na cena trap e que, ao mesmo tempo, consiga dar um abanão em toda a estrutura do hip hop dos dias de hoje”, escreveu Gonçalo Oliveira no Rimas e Batidas a propósito desta edição conjunta em que salta ao ouvido o trabalho na criação do jovem produtor Metro Boomin. “A aposta no miúdo de St. Louis para assinar grande parte dos beats e ainda a levar o papel de produtor executivo soa acertada. A qualidade dos instrumentais e toda a sua envolvência com as cordas vocais deixa qualquer um invejoso. São vários os props que o beatmaker colecciona ao longo dos minutos que passam desde que carregamos no play”, sublinhava o redactor do Rimas e Batidas.

Ora, chegamos ao fim de 2015 e, contas feitas, percebemos que Aubrey Drake Graham é um homem sorridente. Não houve cá beefs que tenham atrapalhado o seu caminho para um ano em cheio. Com muito hustle, muito trabalho. Mixtapes elaboradas e desafiantes, vídeos, memes, redes sociais, uma editora – a OVO Sound. Tudo isto embalar o caminho para Views From The 6 e para um ano em cheio, um potente regresso que deixará marca no business em 2016.

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