Se em Agôra, selado pela Jazz & Milk em 2023, o Caixa Cubo experimentou diferentes vertentes do jazz, fundindo a música negra do Brasil com a que é feita nos Estados Unidos, Gana e África do Sul, com Modo Avião (editado na Far Out Recordings) o foco é a musicalidade brasileira. Isso não quer dizer que siga apenas os direcionamentos que são conhecidos pela maioria. A verdade é que o trio formado por Henrique Gomide (teclados), Noa Stroeter (baixo) e João Fideles (bateria) faz uma expedição que parte do samba-jazz, visita o jazz-funk e varia entre frevo, baião, batucadas que remetem ao carnaval, e o soul. Tem um pouco de quase tudo.
Essa multiplicidade os fazem sair do convencional. Pode-se até dizer que os três “cozinheiros” pegaram doses das fontes dos standards, colocaram suas especiarias e temperaram muito bem com suas características próprias. É como aquela comida descoberta após a junção de ingredientes que estavam à disposição em casa. Ter apenas o baixo, com a inserção de riffs de guitarra, bateria e as teclas do Fender Rhodes e sintetizadores como base, diz muito das possibilidades criativas que eles podem explorar. Vai muito além do óbvio por mostrar uma “brasilidade” que não é tão conhecida fora dos circuitos tradicionais — ou dos especialistas e colecionadores —, apesar de ter raízes no cancioneiro local.
Por essas e outras razões, não é possível definir o tipo de música que fazem, porque no jazz deles existem variações do que é feito aqui, ali e lá. Reflete uma modernidade que busca referência nas tradições. É claro que não está protegido de influências externas. Faz parte do mundo, porém, sua genética remete a uma das culturas musicais mais ricas do mundo. Dessa forma, não tem como ser retilíneo. A viagem vai por lugares distintos, e até desconhecidos. Para pegar cada nuance não precisa muito. Apesar de muito bem lapidado, Modo Avião tem objetividade e, o mais importante, faz aquele convite para dançar. Ficar parado não é uma opção.