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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/08/2016

Os Cabaret Voltaire actuam hoje no Festival Forte.

Cabaret Voltaire: Olhar para o futuro

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 25/08/2016

Em 2015, no festival LEV em Gijon, Espanha, Richard H. Kirk apresentou-se como Cabaret Voltaire num espaço absolutamente incrível da era Franquista. Um dia depois, numa esplanada do centro da cidade, o mítico líder de um dos mais importantes projectos de electrónica do pós-punk britânico falou à Blitz/Rimas e Batidas. A entrevista foi publicada como parte de um dossier pós-punk da revista. Hoje, em jeito de antecipação da apresentação Cabaret Voltaire no Festival Forte, recupera-se aqui a entrevista com o pioneiro britânico Richard H. Kirk.

Regressou ao nome Cabaret Voltaireem 2014, para um concerto no festival Atonal…

E não tenho planos para fazer muitos mais, devo confessar. O meu plano é manter um perfil discreto. Não quero aborrecer-me nem aborrecer o meu público fazendo muitas coisas. E a ideia é a cada novo passo continuar a mudar.

Preferiu conduzir este regresso olhando para o futuro do que para o passado. Que material tem estado a tocar nestes concertos?

É tudo novo. Não há ali nada do passado. Não me apetece inscrever-me no circuito da nostalgia e cruzar-me com aquelas bandas que parecem estar encerradas no passado. Tenho sorte porque fiz dois concertos com material que nunca ninguém tinha ouvido antes e as pessoas parecem estar a gostar. Há muitas bandas encerradas nos anos 80 porque muita gente só paga para ouvir o que já conhece e isso eu recuso-me a fazer. Não me apetece estar a tocar música que escrevi há 35 anos. Quem quiser ouvir essa música pode comprar os cds ou descarregar todos os concertos que disponibilizei através da minha editora.

Vi há pouco tempo os Kraftwerk ao vivo e a atitude é completamente oposta: só música antiga, nada de material novo…

Eles são uma espécie de instalação artística viva. Só o Ralf Hutter estava na formação original. Eu tenho um enorme respeito pelos Kraftwerk e acho que o que eles fazem é fantástico: vi-os algumas vezes em anos recentes e continua a ser um espectáculo incrível. Têm todo o direito de não tocarem material novo e essa opção parece resultar para eles. Mas eu tenho ideias opostas. Penso que o que sempre caracterizou os Cabaret Voltaire foi a vontade de explorarem novos territórios, sem olharem para trás.

E o que é que está a alimentar este olhar em frente? Tem-se mantido a par do que se faz de novo no campo da electrónica?

Não gosto de boa parte do que para aí anda. Comecei a fazer este tipo de shows em 2000 e a todos os lados onde eu ia só via gente atrás de um laptop… Para mim, isso é um bocado aborrecido, não me parece que seja interessante. Todos usam o programa Ableton que é demasiado perfeito e que permite que qualquer um possa fazer música. É demasiado fácil. Eu utilizo muito equipamento antigo o que leva a que muitos erros aconteçam. Ouvi o Ben Frost ontem, vi uns 10 minutos do concerto, pareceu-me interessante, mas sinceramente toda a gente parece demasiado preocupada em fazer música para a revista Wire. Não é a minha cena. Continuo a amar reggae e música africana…

O Brian Eno dizia que o problema dos computadores era não terem suficiente África dentro deles…

E eu concordo totalmente.

Quando começou, tinha consciência do trabalho dos pioneiros da electrónica?

Sim, claro. Eu gostava do John Cage e do Pierre Schaeffer, embora na época nos interessassem mais as ideias e os conceitos do que a própria música. Na época, nem considerávamos que o que fazíamos era música, eram experiências com som.

E isso foi um pouco antes do punk.

Exacto. E muitos outros em Inglaterra pensaram o mesmo antes do punk. Se escutares pessoas como o Mark Stewart, quando ele fala dos primeiros passos dos Pop Group também fala de ideias tidas antes do punk, de uma outra realidade musical. O punk depois deu uma certa coesão a todas estas pessoas dispersas a conduzirem as suas próprias experiências. O problema do punk foi que se tornou muito conservador muito depressa não deixando espaço para gente como os Cabaret Voltaire ou Suicide.


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