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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 09/02/2023

Um reforço de Leonardo Pereira aos discos de hip hop que ficaram pelo caminho.

Burburinho: Janeiro 2023

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 09/02/2023

Em Burburinho, Leonardo Pereira olha pelo retrovisor e oferece destaque aos discos — muitas vezes não tão óbvios — que mais o marcaram ao longo do mês anterior, com especial enfoque para tudo aquilo que se vai colhendo nos campos do hip hop. Sem restrições ao nível da estética, por aqui vão cruzar-se propostas que vão desde o mais clássico boom bap às cadências soulful que aproximam o género do r&b, não esquecendo nunca as reformulações mais modernas do som nascido em Nova Iorque, que hoje gera infindáveis ecos a partir de qualquer cidade à volta do globo, através das visões gélidas do trap ou do drill.


[03 Greedo & Mike Free] Free 03

Um dos trabalhos que vai estar na competição para álbum mais sujo do ano, Free 03 começa com uma chamada da prisão de 03 Greedo, por trás de barras desde 2018. Lançado três dias antes de voltar à liberdade (por enquanto condicional), Free 03 é eufórico e espalhafatoso sem qualquer receio, como uma celebração do final dos quatro anos e meio (em que mesmo assim foi lançando música – gravada antes de ser preso) deve ser. Entre bangers óbvios em que o braggadocious é claro como água e paragens para a introspeção e para o que pode ser a vida, 2023 começa bem, positivo e com vontade de viver, com estas emoções a serem um bonito contraste para os versos de Greedo gravados através de uma linha telefónica. As perspetivas são tão diferentes de faixa para faixa que nos obrigam a repensar muito os privilégios com que vivemos – e oferecem ao mesmo tempo uma viagem pela qualidade da rima e de narrador que o rapper sempre apresentou.


[Declaime & Madlib] In The Beginning (Vol. 3)

Não é preciso dizer muito depois de introduzir estes dois nomes. O terceiro volume de In The Beginning é mais uma demonstração destes dois prodígios do hip-hop através da repescagem de material que há muito se encontrava arquivado. Declaime já nos oferece poesia desde 1994, um ano após Madlib ter disparado as primeiras batidas, portanto a música envelheceu tal e qual um vinho do Porto vintage. Estes dois são instituições irrefutáveis do hip-hop e do boom bap, mais uma vez presenteando um trabalho de samplagem absurdo, beats que simplesmente não conseguimos não acompanhar com o corpo, barras inteligentes recheadas de metáforas, duplos sentidos e punchlines afiadas. Se os anos 90 são a vossa onda, eles ainda estão por aí. E quem os representa continua a representá-los muito bem.


[Boldy James & RichGains] Indiana Jones

Parece que nunca falha, não é? Aliás, parece que falhar é um verbo desconhecido para qualquer membro da Griselda Records. Desta feita, a adornar as batidas hipnóticas e escuras de RichGains e acompanhado de um conjunto de líricos como Cassie Jo Craig, Sir Michael Rocks, Detroit King Tape, entre outros, o 11º álbum de Boldy James é mais uma pérola. As histórias continuam palpáveis, o crescimento pessoal e o tratamento dos temas equiparam-se à evolução sónica, que parece mostrar uma vertente distinta em todos os seus projetos, ao mesmo tempo que os flows e as rimas têm a qualidade de sempre a que nos habituou este rapper de Detroit, um Senhor do rap game indisputável.


[BabyTron] Bin Reaper 3: New Testament

Se o que estiverem à procura for entretenimento musical durante uma hora, deixamos a recomendação para o último longa duração de BabyTron, o terceiro volume da saga Bin Reaper. Punchline atrás de punchline, em variações hilariantes a espertas sempre a roçar — mas nunca cruzando — a linha do corny, o Shitty Boy original não descansa ao longo de 26 faixas até nos oferecer todas as metáforas, aliterações e referências basquetebolísticas que consegue, como que destinado a servir todas as barras perfeitas para colocarmos naquela descrição do Instagram mais vaidosa, encontrando todas as maneiras possíveis para se engrandecer dentro dos seus versos. Sabemos perfeitamente que a duração consegue tornar certas sequências dentro do álbum um pouco tediosas, mas o FOMO de perder “aquela linha” que nos vai deixar com um surpreso sorriso na cara faz com que toda a experiência valha a pena.


[AntsLive] Just A Matter Of Time

Este foi uma surpresa. AntsLive é um rapper do norte de Londres que começou a lançar música em 2020, contanto com mais de uma mão cheia de singles até ao início de 2023, quando chegou Just A Matter of Time, a sua primeira mixtape. Um leque quase alfabético de escolhas instrumentais que passam por orquestras volumosas, 808s pesados, melodias mais melancólicas e beat switches incólumes são a base para onde são cuspidos flows que nos prendem, abordando os temas que surgem ao redor de um rapper dedicadíssimo a chegar ao topo, mas que não tem medo de expor as suas vulnerabilidades. Preparem-se que AntsLive vai ser um nome regular na vossa rotação.


[ZelooperZ] Might Not Make It

Se já estão por dentro da arte de ZelooperZ, o bizarro tornou-se natural há algum tempo – os compassos de tempo alteram-se de minuto em minuto, os beats produzidos inteiramente por si contêm uma Biblioteca de Alexandria em texturas e samples pouco óbvios (de Gotye a outras fontes mais obscuras), a voz arrastada e monótona contrasta com rimas disparadas rapidamente. São apenas 5 faixas, mas todas oferecem uma panóplia de sons e de ganchos para que as voltemos a ouvir, nem que seja para descobrirmos todos os os detalhes musicais que estão nas múltiplas camadas de cada tema.

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