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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 08/09/2025

Um reforço de Leonardo Pereira aos discos de hip hop que ficaram pelo caminho.

Burburinho: Agosto 2025

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 08/09/2025

Em Burburinho, Leonardo Pereira olha pelo retrovisor e oferece destaque aos discos — muitas vezes não tão óbvios — que mais o marcaram ao longo do mês anterior, com especial enfoque para tudo aquilo que se vai colhendo nos campos do hip hop. Sem restrições ao nível da estética, por aqui vão cruzar-se propostas que vão desde o mais clássico boom bap às cadências soulful que aproximam o género do R&B, não esquecendo nunca as reformulações mais modernas do som nascido em Nova Iorque, que hoje gera infindáveis ecos a partir de qualquer cidade à volta do globo através das visões gélidas do trap ou do drill.


[Remble] JUCO

Eunique Cooper Remble usa o seu apelido como pseudónimo artístico e fica a sensação de que é no sentido de que o seu nome de família nunca mais desapareça. JUCO, uma forma abreviada de “Junior College”, é o seu primeiro longa-duração e surge quatro anos depois da sua mixtape de estreia, onde colecionou os seus primeiros créditos no game com features de Drakeo the Ruler e Mozzy. É nesse mesmo 2021 que Drakeo falece e o angelino sente a necessidade de se recentrar e de recomeçar. 

Neste agosto, tivemos o resultado desta hibernação. São barras cirúrgicas em flows saídas de um conta-gotas, tal é a precisão de cada punchline, que tanto relembram os traumas da pobreza, como recordam detalhes macabros da vida em gangues e gabam a quantidade exorbitante de dinheiro que Eunique agora tem. São 15 canções diretíssimas ao assunto e sem tempo para distrações, concentradas concetualmente em contar a história de um final de adolescência e de um início da vida adulta no mínimo conturbada, uma transição onde tudo parece ter mudado para o rapper exceto as suas convicções e a sua criatividade lírica.

Os sopros surgem como os grandes protagonistas nas beats e fazem-nos lembrar as entradas triunfais de exércitos, de equipas de futebol americano, de campeões de artes marciais, enquanto os graves trazem-nos de volta ao trap norte-americano. E no final, quem sai sempre vitorioso, em qualquer modalidade, seja desportiva ou bélica, é Remble.


[Chuuwee & Trizz] QUARTER: AMB4 

Chuuwee e Trizz já cá andam há muito tempo e do que dizem nas suas canções não têm intenção nenhuma de parar de cantar nem de encantar. Aliás, celebrou-se, neste março, o 11º aniversário do primeiro volume da série AmeriKKa’S Most Blunted. Série essa que recebeu este agosto o seu quarto capítulo, sete anos depois do último. 

Mais do que uma sequência de discos, AMB faz parte de um momento musical capturado no tempo que vai perdurando pela sua qualidade. O início da década passada foi significante para a ascensão do hip hop como um género mundial e este tipo de boom-bap do qual Chuuwee e Trizz fazem a sua matéria prima foi um dos elevadores nessa ascensão. Batidas pouco elaboradas, sempre envoltas de fumo, lírica jovial a roçar a adolescência, agora, claro, crescida e madura, com outras preocupações, mas numa atitude pouco sisuda no sentido burocrático e administrativo da expressão, mesmo quando os assuntos já rodam à torna de tópicos mais sérios, como o abandono de vícios da juventude, a evolução de reações impulsivas para ações que preservam o bem estar ou as técnicas de manutenção de saúde mental que cada um usa para lidar com o dia-a-dia. Que sirvam as histórias de Dionte Hunter e de Arthur Lea III para nos relembrarem que apesar de crescermos, não há mal nenhum em mantermos o que nos é importante bem fixado no peito.


[Kal Banx] RHODA

RHODA é um portento de um álbum. Longe vão os tempos onde mais de uma hora de música num único projeto era o expectável, e hoje em dia parece que, quando acontece, ou é num disco que sobreviverá às areias do tempo ou é num disco em que metade da sua duração é, no calão, de encher chouriços. O autor de RHODA é Kal Banx, produtor e DJ assinado à Top Dawg Entertainment desde 2021. Quatro anos depois, surge como produtor executivo, mastermind criativo e rapper no seu primeiro longa-duração, com uma hora e 20 minutos música que são uma espécie de exposição. A galeria, essa, foi edificada por Banx, que conta a história da redefinição do seu conceito de casa, enquanto as obras de arte são os versos dos 24 (!) convidados. Estes tanto cantam baladas de amor como pincelam o seu glow-up, esculpem mármore em forma das dores familiares que viveram ou escrevem romances sobre os infortúnios que lhes têm acontecido. 

Às batidas, no entanto, dedicamos-lhe este parágrafo só a elas. Interpolações de clássicos do hip hop como “International Players Anthem” ou da dance music de “Friends” dos Whodini servem como uma base nostálgica para a sensação geral do álbum — nostalgia essa quase intangível que nos traz sempre a esse conceito tão importante para o álbum que é o da casa, mesmo quando a exploração a que a vida nos propõe seja igualmente importante para a proposta sonora. Com tantas vozes diferentes a contar as suas histórias, seria fácil esperar uma desconcentração, mas o fato é que a exposição está bem centrada nos seus objetivos — a reconstrução do lar de Kal Banx após a morte da sua mãe e a reflexão que fez a partir do seu falecimento. Guardamos este nas playlists e no coração.

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