[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTO] Hélder White
Ninguém gosta de despedidas, mas é no momento do adeus que se arrumam as ideias e se coloca a limpo tudo o que veio de trás. Os Buraka Som Sistema foram – nos dez anos de carreira – uma banda que mudou o jogo a nível nacional e, apesar de ainda não termos total percepção disso, um dos motores primários para a adopção das sonoridades com sabor a África ou América Latina na música pop que preenche as tabelas da Billboard.
Os jardins da Torre de Belém foram o espaço perfeito para uma despedida que sabe a um “até já”. A temperatura quente esteve de acordo com a música que se fez ao longo da tarde e Dotorado Pro – prodígio da Enchufada – foi o primeiro nome que tivemos a oportunidade de ver, sendo responsável por atirar um sem número de hits com ritmo africano e níveis de bass a picar no máximo. Menção especial a “African Scream”, a faixa que mediatizou o produtor, contando com 800 mil plays no SoundCloud.
A pausa para jantar fez-nos perder Dengue Dengue e chegar à hora do início de concerto do MC Bin Laden. Um erro crasso, claramente. A curiosidade para ver o autor de “Tá Tranquilo Tá Favorável” desvaneceu-se em poucos segundos e é difícil entender o porquê desta escolha para o meio de um cartaz escolhido a dedo. MC e DJ em palco numa performance que tem mais de comédia do que de música.
A noite caía junto à Torre de Belém e o espaço em frente ao palco estava cheio: o público português estava preparado para a festa final com a banda de Blaya, Riot, Branko, Kalaf e Conductor. A máquina oleada dos Buraka é um exemplo para todos os que desejam fazer carreira na área do espectáculo e os cinco membros têm o controlo total de todos os movimentos; o efeito exactamente contrário que a sua música nos faz sentir.
O corpo já assumiu que não está num concerto qualquer desde o primeiro momento e todas as canções são etapas numa viagem pela carreira do grupo que abriu o caminho a editoras como a Príncipe Discos. “Wawaba”, “Yah”, “Aqui Para Vocês” ou “Kalemba (Wegue Wegue)” são reconhecidos facilmente pela audiência e elevam-se, certamente, como clássicos da música contemporânea portuguesa. Os três álbuns dos Buraka são história e tivemos a oportunidade de ouvir essa mesma história contada pelos intervenientes, ontem em palco.
Sem esquecer os nomes que não são parte da banda mas que são parte da história dos Buraka, Pongolove foi uma das artistas que subiu a palco para celebrar um legado que passa por todos os artistas que tiveram a oportunidade de ajudar a levar mais longe a obra discográfica do grupo da Amadora.
É perceptível a emoção na despedida, mas também a sensação de que cumpriram uma das mais belas etapas da música portuguesa. O público sabe-o, a crítica reconheceu-o e os BSS vão, mesmo que de forma individual, continuar a cumprir a sua quota-parte no que toca à divulgação da música electrónica com ritmos que vão da América Latina a África. From Buraka to the World!