[TEXTO] Alexandre Ribeiro [FOTOS] Sara Coelho
Existe bruxaria na electrónica dos Moderat, não poderá ser outra coisa. O trio alemão apresentou-se no LX Factory em noite de Halloween com poucas máscaras – no público e no palco – e a provarem que são caso singular no panorama internacional com música feita de um aglomerado de influências tão bem aproveitadas que, noutros tempos, seria certamente considerado heresia.
O evento não teve a melhor entrada: o atraso de uma hora para a hora marcada criou um ambiente de impaciência que, naturalmente, se dissipou com a entrada de Sascha Ring, Gernot Bronsert e Sebastian Szary. “Ghostmother”, “A New Error”, “Running” e “Eating Hook” são o quarteto escolhido para entrar de início, mostrando que a máquina alemã estava bem oleada e a passear-se pelos 3 álbuns da sua discografia como se se tratassem de um só. Visualmente irrepreensíveis, os Moderat juntam o trabalho de luzes à desconstrução visual que se vai passando no ecrã atrás deles: o reflexo da música que vai saindo das colunas.
Apparat, o elemento do trio que assume a voz das canções, é, inevitavelmente, uma pérola por ser descoberta no universo pop. Voz aveludada a encaixar na perfeição nos arranha-céus musicais de Moderat, autênticos monstros com camadas e camadas de sintetizadores, graves e batidas notoriamente dançáveis. O público não conseguia resistir ao techno musculado – apesar de ser redutor colocá-los numa caixa – vindo directamente da Alemanha e o pouco espaço que temos para dançar foi aproveitado ao máximo.
E volto à premissa com que comecei o texto: existe bruxaria nas canções dos Moderat. As duas partes que são uma – os Modeselektor – colocam-se lado a lado com Sascha Ring para honrarem a herança musical alemã. Se os Kraftwerk olharam para o rock que se fazia fora da Alemanha e quiseram tomar outro caminho, o trio viu o que se fazia bem na EDM, IDM e no techno para criar um género só seu.
A interacção com o público foi q.b e até deu para um português bastante desenrascado de Sebastian Szary criar um momento de ligação com a audiência. O mais activo foi, como não poderia deixar de ser, o “vocalista” e , por vezes, guitarrista Apparat, mas ficou sempre a ideia de que já não existem segredos para os Moderat de como fazer um bom concerto.
Dois encores com destaque para “Bad Kingdom”, malhão incrível com muito balanço na anca e letra niilista à espera de ser agarrada para um guião de filme sobre a inutilidade que é a vida quando confrontada com a morte. Fechou-se a noite de Halloween e a magia não acabou: os Moderat continuam a ser incríveis.