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Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/02/2021

Guia de bolso.

Brilham mas não tocam: afinal, o que significam os discos de ouro e platina na era digital?

Fotografia: Direitos Reservados
Publicado a: 04/02/2021

Ouros, platinas, duplas platinas, triplas platinas. Há álbuns e singles que brilham mais que outros, uns em vinil, outros em CD e, mais recentemente, em formato digital. Por isso mesmo, a indústria tem que estar em constante actualização no que diz respeito aos parâmetros de atribuição destes “galardões”. Em Portugal, quem controla a atribuição dos títulos mais ambicionados é a Audiogest em associação com a Associação Fonográfica Portuguesa (AFP). Mas que metas são precisas alcançar para receber um destes selos de certificação global?

O que é preciso fazer para se ter um disco de ouro?

Primeiro há que perceber o que é um disco de ouro e o que significa, por isso é também importante perceber a distinção que existe entre álbuns e singles. Por uma questão prática, comecemos pelos singles

Como explica Miguel Carretas, director-geral da Audiogest, “de forma geral, já não se vendem singles em unidades físicas”, por isso mesmo estes são contabilizados unicamente em unidades digitais. Recebe o disco de ouro o single que vender 5.000 downloads. “Mas o download é o formato que está em maior queda, não é o vinil nem o CD”, e por isso a indústria tem que contabilizar o formato que, pelo contrário, está em maior crescimento – o streaming. Nestas plataformas (mas só naquelas “sujeitas a licenciamento e monitorizadas em Portugal”) contabiliza-se um download a cada 250 audições. Pode parecer rebuscado equiparar um download a 250 streams de uma música, mas isso é porque a contabilização tem que contemplar o formato álbum, que incluí mais do que uma ou duas músicas.

Recapitulando: para que um single seja celebrado com o disco de ouro, ele precisa de angariar 5.000 downloads ou 1.250.000 streams, ou uma combinação proporcional de ambos. 

E uma platina? 

Pondo de forma simples, a platina é o dobro do ouro. E isto funciona para singles e álbuns. No caso que já conhecemos, o dos singles, a platina é alcançada aos 10.000 downloads ou 2.500.000 audições. A dupla platina alcançada aos 15.000 downloads ou aos 3.750.000 streams, e por aí em diante para a tripla, quarta e quíntupla platina… 


Singles

DownloadsStreams
Ouro5.0001.250.000
Platina10.0002.500.000
2x Platina20.0005.000.000

E como funciona para um álbum?

Para os álbuns a lógica é a mesma, mas os números diferem no que toca à atribuição deste tipo de galardões, embora o método de cálculo também seja diferente, mas a isso já lá vamos. O disco de ouro é atribuído aos álbuns que vendam 7.500 unidades. No formato digital, a venda de um álbum equivale a 10 downloads, sendo que um download corresponde a 250 streams. Confuso? 


Álbuns

FísicoDownloadsStreams
Ouro7.50075.00018.750.000
Platina15.000150.00037.500.000
2x Platina30.000300.00075.000.000

Por trás desta lógica está o pensamento de que quem compra um álbum ouve-o mais do que uma vez. Mas quantas, ao certo, isso ninguém sabe. Por isso mesmo é que a indústria definiu os parâmetros em 250 audições, não do álbum total, mas de qualquer faixa. 

Convém também referir que as vendas e audições atribuídas a um single transitam depois para o álbum, facilitando a obtenção do galardão mediante cumpra ou não os outros requisitos. De qualquer forma, é sempre um avanço.

Quanto ao método utilizado, o homem forte da Audiogest e cérebro dos Prémios PLAY admite que a fórmula de cálculo “é discutível”, mas acrescenta que “a maioria dos países segue um formato idêntico ao de Portugal”.

E a quem é atribuído o galardão?

O que Miguel Carretas nos explica é que estes prémios são atribuídos “a quem detém os direitos sobre a gravação”. No mercado tradicional “o galardão não é entregue ao artista, mas sim à editora e distribuidora. O que acontece cada vez mais é que tens artistas autoeditados e autodistribuídos”. Nesses casos, o galardão é atribuído ao artista, mas apenas se este for associado da Audiogest.

Ainda assim, Portugal é um mercado pequeno e, por isso mesmo, as coisas funcionam de forma um pouco diferente. É o que nos explica o CEO da RedMojo, Emerson Ferreira quando diz que “em Portugal não há a cultura das placas como há lá fora”.

“Por norma, as editoras é que entregam um disco de ouro físico aos artistas [sendo que Audiogest e a AFP auditam os números e nomeiam o trabalho como merecedor da placa]. Lá fora os discos são entregues a toda a equipa envolvida. Obviamente que, sobretudo nos dias de hoje, chegas a ter 20 pessoas envolvidas num single, e torna-se dispendioso de mais dar uma placa a cada um. Normalmente a label dá as placas aos intérpretes e muitas vezes também aos produtores”.

Num cenário ideal, a placa que simboliza o galardão seria atribuída a toda a equipa, “não só aos intérpretes mas também a quem escreve a letra, quem compõe, os próprios mixers e engenheiros de som”, explica Emerson Ferreira.

O que significa receber um disco de platina?

Para o CEO da editora e produtora de âmbito internacional, os galardões são “um reconhecimento importante para todos. No fundo, esses reconhecimentos, sobretudo para quem está em Portugal, são muito importantes para ires abrindo portas. Quando dizes que és uma editora ou um produtor com este tipo de awards isso torna-se importante se quiseres trabalhar com artistas de outros mercados”.

Além disso, estas placas têm um efeito imediato e monetário, traduzindo-se num selo de qualidade e numa plataforma de produção que, quase inevitavelmente, gera dinheiro. 

“Quando tens uma platina isso significa muitos spins de rádio, concertos, vendas, streamings… Quanto maior for o disco mais gera em todas as áreas e, claro, podes ter a sorte de que queiram a tua música num filme ou num anúncio e tudo isso representa dinheiro em todas as áreas, desde a label ao publishing”, explica o responsável da editora que tem arrecadado galardões dentro e fora de Portugal.

Depois, claro, há os artistas como Virgul, para quem as placas, explica, são óptimas, mas são também um peso que prefere manter afastado dos ombros, até porque nunca foram uma parte preocupante para o artista. Talvez por isso não saiba hoje enumerar quantos destes galardões recebeu ao longo da carreira.

“Na transição de Da Weasel para Virgul a solo posso-te confessar que senti um pouco esse peso, mas talvez pela responsabilidade de ter atingido um determinado sucesso antes. Só me consegui libertar e fazer aquilo que queria quando consegui retirar esse peso. Foi quando fiz o ‘Saber Aceitar’, cujo título está directamente relacionado com isto. Saber aceitar vem daí, é saber aceitar as coisas naturalmente, como elas são”, explica o membro dos Da Weasel que remete “os números” para as editoras. “Eles é que devem pensar num objectivo quando apostam num projecto”. 

Virgul ainda se lembra da primeira placa que recebeu, na altura pelos Da Weasel com o álbum Re-Definições, que chegou a alcançar a tripla platina. “Lembro-me que a sensação foi exatamente a mesma, nunca tivemos essa coisa dos números. Se calhar, esta nova geração dará muito mais importância porque já cresceram enquanto artistas a valorizar coisas como o número de visualizações no YouTube. Mas, na verdade, nós ficámos felizes por a nossa música chegar a tanta gente, mas não pelo feito em si”.

Uma placa não define o valor da obra nem do artista, mas é um indicador de onde estão a chegar e com que força. Os músicos, as agências e editoras perceberam isso e vão-se fazendo ver nas redes sociais, como podem ver nas partilhas recentes de Regula e Dillaz, da Bridgetown ou de Piruka.


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