pub

Publicado a: 11/08/2015

Breaks: o antes e o depois

Publicado a: 11/08/2015

[TEXTO] Hit Da Breakz [FOTO] Direitos Reservados

 

Um break num disco, muitas das vezes, é um momento rapidíssimo: o disco está a tocar, blam!, temos o break, blam!, acabou o break e a música volta ao normal. O que é importante nos breaks é ter, como os músicos que iremos ouvir a seguir tiveram, a capacidade para ver onde é que aquele break se encaixa na nossa música. Ter a capacidade para ouvir aqueles segundos e dizer “isto serve”. É que parece mais fácil do que é. Não é – é das coisas mais difíceis do sampling.

Neste ensaio, vamos poder ouvir um break original e as adaptações bem diferentes que muitos músicos fizeram dessa apropriação do break original. Não nos vamos cingir ao hip hop, vamos andar por muitos outros lados, desde a pop ao drum ‘n’ bass.

Vamos abordar quatro breaks que não foram escolhidos ao acaso. São quatro dos breaks mais importantes da história da música moderna : o “Funky Drummer” do James Brown; o “Synthetic Substitution” do Melvin Bliss; o “Amen Brother” dos Winstons; e o “Ashley’s Roachclip” dos Soul Searchers. Muitos de vocês, provavelmente, depois de ouvirem os breaks, irão ser capazes de nomear mais umas quantas músicas actuais que usam os breaks em questão – é que estes quatro discos são, sem dúvida nenhuma, os breaks mais samplados de todos os tempos. Vamos a eles.

 


 

[JAMES BROWN] “Funky Drummer”

Em primeiro lugar, temos o “Funky Drummer” do James Brown, que é, quase de certeza, o break mais samplado de todos. Gravado originalmente em 1969 para a editora King, divide-se na parte 1 e 2 para cada lado do 45 rotações. No entanto, é possível encontrar a faixa toda e completa no álbum da Polydor, In The Jungle Groove (1986), que compila os maiores sucessos do James Brown, anteriormente editados em singles, e que é um dos seus discos fundamentais. O baterista de serviço é Clyde Stubblefield e faz um boom boom bap… bap bap boom bap irrepetível e tão, tão original.

Podemos ouvir este break nestes temas:

 

[PUBLIC ENEMY FEAT. ANTHRAX] “Bring The Noise” >> OUVIR

Do álbum It Takes a Nation of Millions to Hold Us Back, de 1998.

 

[DR. DRE] “Let Me Ride” >> OUVIR

Um dos discos clássicos do hiphop e a definição do que é o g funk, o The Chronic (1992), usa, neste mega-sucesso de Dr. Dre, o break também. Estejam atentos às tarolas do break original a aparecerem, a pontuarem o break.

 

[KRISS KROSS] “Jump” >> OUVIR

O break do “Funky Drummer” neste sucesso mundial dos putos com a roupa ao contrário está “simulado”, cortado – só meteram a parte inicial do break mas é perfeitamente audível o seguimento do break, a tarola que vem a seguir está lá, quase que fantasmagoricamente.

 

[DEEP FOREST] “Deep Forest” >> OUVIR

Os reis da música pop ambiental usaram o “Funky Drummer” neste tema, resultando numa das mais improváveis misturas musicais de todos os tempos: James Brown e cânticos de pigmeus.

 


 

https://www.youtube.com/watch?v=JDHwtC5iv1U

 

[MELVIN BLISS] “Synthetic Substitution”

O lado B do single Reward, editado na Sunburst em 1977. Foi posteriormente reeditado para o mercado inglês na Contempo, por isso, será mais fácil encontrarem aqui na Europa o single da Contempo. Mesmo assim, não é um disco muito comum.

O Synthetic Substitution foi usado em:

 

[ULTRAMAGNETIC MCS] “Ego Trippin’” >> OUVIR

Um dos grandes clássicos do hip hop vem do grupo do Kool Keith, os Ultramagnetic MCs. Acaba quase por ser só o break e os MCs – quase como o “Raw” do Big Daddy Kane.

 

[DR. OCTAGON] “Wild and Crazy” >> OUVIR

Parece que o Kool Keith gosta imenso deste break porque o usou noutro álbum posterior: Dr. Octagonecologyst. Este álbum de 1996 que contém este “Wild and Crazy”, é do Kool Keith enquanto Dr. Octagon e conta com o total apoio do grande DJ QBert, provavelmente o maior (a par de Mix Master Mike, associado aos Beastie Boys) turntablist de todos os tempos, e do Dan The Automator, dos multi-platinados Gorillaz. Deste álbum destaca-se o “Blue Flowers, que usa um sample de, imaginem, Béla Bártok – grande Automator! O break, neste tema, é bastante fácil de ouvir, não foi muito modificado.

 


 

 

[THE WINSTONS] “Amen, Brother”

É, por muitos, considerado o break que define o som rítmico do drum ‘n’ bass. E até faz sentido: não há muitos breaks com esta velocidade e com esta pujança – ambos elementos importantes para os ritmos fortes do drum ‘n’ bass, suficientemente fortes para suportarem aquele baixo dub que é tão característico.

Qualquer pessoa que esteja mais a par da música de dança conhece este break, mesmo que não saiba que o está a ouvir. Foi usado pelo Squarepusher, pelo LTJ Bukem, pelo Luke Vibert, pelos 4 Hero, Dillinja, J Majik… Enfim, acho que não há ninguém no drum ‘n’ bass que não tenha uma vez na vida usado este break. Mas não foi só o drum ‘n’ bass que teve o monopólio do uso do break. Por isso, vai ser engraçado podermos comparar como o mesmo break é capaz de ser usado de forma tão tão diferente por estilos aparentemente tão diferentes como o hip hop e o drum ‘n’ bass.

Assim, podemos ouvir o break em:

 

[ERIC B. & RAKIM] “Casualties of War” >> OUVIR

Outro clássico do hip hop por um duo que tem no Paid in Full (1986) um dos seus mais icónicos álbuns. Esta faixa pode ainda ser encontrada no excelente-mas-não-tão-bom Don’t Sweat The Technique de 1992.

 

[LTJ BUKEM] “Music” >> OUVIR

Este é o tema que, em 1993, define o tipo de som que o LTJ Bukem passou a fazer – aquilo a que muitos chamaram de intelligent drum ‘n’ bass, sons musicais e harmonias planantes, longe da velocidade, do crime sonoro e das vozes aceleradas que caracterizavam muitos dos discos do género da altura.

 


 

https://www.youtube.com/watch?v=ZrOMfe_m6CM

 

[THE SOUL SEARCHERS] “Ashley’s Roachclip”

Proveniente da mesma editora – a Sussex – que editou o Dennis Coffey (antes de este ir para a Westbound), o álbum que contém este “Ashley’s Roachclip” chama-se Salt of the Earth (1974). É um disco cheio de funk, numa altura muito boa para o funk, já maduro mas ainda suficientemente longe das influências (nos dois sentidos) do emergente estilo disco sound. O disco tem este break, que o singulariza, mas vale pelo seu todo e é mesmo mesmo essencial para qualquer interessado por funk.

O break, esse, é dos mais fáceis de reconhecer, graças ao som tsst…tsst que o hi-hat aberto faz no break. E depois de ouvirem o break na sua versão original, aposto que ficaram a pensar “ei, conheço isto tão bem!”. Por isso, e por pura diversão, vou só meter músicas pop mais do que conhecidas que usaram o break. Por serem mesmo tão conhecidas, basta ouvir para perceberem tudo e para reconhecerem nelas o “Ashley’s Roachclip”.

[PM DAWN] “Set Adrift On Memory Bliss” >> OUVIR

[EMF] “Unbelievable” >> OUVIR

[BEATS INTERNATIONAL] “Dub Be Good To Me” >> OUVIR

[MILLI VANILLI] “Girl, You Know It’s True” >> OUVIR

 

*Texto originalmente publicado no blogue Hit Da Breakz.

 

 

pub

Últimos da categoria: Ensaios

RBTV

Últimos artigos