Texto de

Publicado a: 14/01/2017

pub

review-bonobo

[TEXTO] Vasco Completo

Simon Green, o reconhecido produtor da Ninja Tune, lançou o seu sexto álbum de estúdio. Migration já era esperado e aguardava-se um lançamento de Bonobo desde 2014, ano em que lançou o seu último registo, Flashlight EP.

Bonobo, enquanto produtor, tornou-se conhecido na electrónica downtempo pela capacidade exímia de criar uma ambiência expansiva: a partir de elementos electrónicos, mas também recorrendo  ao sampling várias vezes. A junção das várias valências trouxe-nos a sonoridade única identificável em qualquer dos álbuns que fazem parte do catálogo de Green, principalmente desde Black Sands, um dos seus maiores sucessos.

 



O nome do álbum, Migration, só parece estar relacionado tematicamente nalguns fragmentos, tais como o princípio de “Grains” e em “Bambro Koyo Ganda”, no sentido de ter vozes (aparentemente) não-ocidentais. Pode ser simplesmente pelo facto de não se compreender o que é dito. A verdade é que Simon Green não mudou a sua sonoridade, não fez alterações evidentes na produção. O álbum está completamente dentro do que é a identidade sonora que nos tem proporcionado… e isso não tem de ser uma coisa má. Aliás, em muitos dos pontos é positivo, como por exemplo no que toca à qualidade sonora das músicas.

Apesar disso, timbricamente, o álbum diferencia-se talvez pelo maior uso da guitarra – o álbum soa menos electrónico, ao nível da instrumentação, duma maneira geral – o antecessor, The North Borders, era um pouco mais conduzido pelo sintetizador. Este é um álbum mais terrestre, de certa maneira. Bonobo diferencia-se dos seus pares pela sua grande sensibilidade a nível harmónico e melódico; o minimalismo da estrutura musical assenta-lhe sempre que nem uma luva.

 


https://www.youtube.com/watch?v=Xom7ukBsjhA


Bonobo mantém-se dançável, movendo as canções ao seu ritmo e proveito. É um registo com poucas quebras a nível de dinâmica, destoando apenas a faixa número 2, com a colaboração de Rhye, que aparece cedo demais ou mesmo no álbum errado; é uma música um pouco monótona. À parte disso, “Brambo Koyo Ganda”, e “Kerala”, single lançado ainda em 2016, são, possivelmente, os pontos mais fortes do disco. Duas faixas muito bem conseguidas com ginga característica de Bonobo, mas muito interessantes, com a parte da voz muito bem trabalhada. Destaque também para “Outlier”, “Second Sun” – um arranjo incomum no trabalho de Green que, sem as suas drums típicas, soa mais despido – e “No Reason” que – com a colaboração de Nick Murphy (a.k.a. Chet Faker) – torna-se o principal destino turístico para os que imigram para o universo Bonobo. A próxima música de todos os DJ sets tem uma das vozes mais desejadas da música alternativa, e o cantor tem uma execução vocal bem conseguida.

Em entrevista à Wired, Simon Green afirma que quis expressar a ideia da não-pertença a um lugar e da distância que sentiu na fase final da tour de The North Borders com a perda de alguns familiares. A necessidade do sentimento de identidade responde à ideia de não alterar quem é musicalmente. O produtor variou alguns dos elementos de produção do seu último trabalho, mas não alterou aquilo que é a sua personalidade musical. Emerge, uma vez mais, como um dos produtores de electrónica ambiente de topo.

 


pub

Últimos da categoria: Críticas

RBTV

Últimos artigos