LP / CD / Cassete / Digital

Boldy James & The Alchemist

The Price Of Tea In China

ALC / Boldy James / 2020

Texto de Paulo Pena

Publicado a: 13/07/2020

pub

Liguem o contador de rimas. The Price Of Tea In China está a valer, e Boldy James veio para candidatar-se aos pódios e bater recordes. E, sob as tácticas de Alchemist, é notória a consagração do rapper (à partida) underdog

Estreado a 7 de Fevereiro deste ano, a versão deluxe do disco chegou-nos na passada sexta-feira, com a ilustração da capa refrescada, e quatro temas novos: “Pots and Pans”, com The Cool Kids e Shorty K; “Belvedere”; “Bernadines” e “Don Flamingo”, esta última com participação de Elcamino. É um fenómeno cada vez mais comum nos lançamentos hip hop, e as versões deluxe voltam a ganhar força, quase como seguimento lógico necessário para estender o prazo de validade de um projecto.

Pois bem, em relação a este encontro entre MC e produtor, a atmosfera desce mal Alchemist toca a primeira nota no seu painel gráfico ondulado, onde desenha, em tons escuros, por cima dos samples. O álbum é uma longa volta nocturna pelas ruas de Detroit, com Boldy ao volante, e o produtor, bem vivo no lugar do morto, a fornecer as preciosas direcções, ainda que o condutor saiba percorrer o caminho de olhos fechados – há indicações indispensáveis, e o que é facto é que Boldy James se encontrou por entre as rotas definidas por Alc. Não esperem um álbum genericamente gentil aos ouvidos, uma vez que as ruas de Detroit não se afiguram aprazíveis aos olhos. Ainda assim, ambos – disco e cidade – têm o poder de revelar o seu lado fascinante no meio de todo o ambiente sombrio. 

A meio da viagem, umas quantas paragens são feitas para apanhar quem se dirige para o mesmo destino. Vince StaplesBenny The ButcherFreddie Gibbs e Evidence entram no banco de trás do Cadillac (onde há espaço para todos) que plana por entre o corredor de candeeiros que tentam iluminar os bairros mais obscuros. The Price Of Tea In China é o gasóleo deste drive-by, cujo consumo ronda as 12 faixas por 39 minutos, variando nas últimas noites quentes de Julho, em que se estende às 16. A rádio local, a essa hora, apenas passa um disco (adivinhe-se qual), e cada passageiro luta pela sua escolha, entre “Surf & Turf”, “Scrape The Bowl”, “S.N.O.R.T.”, e “Grey October”, respectivamente. 



Como sempre, Alchemist deu vida a um ambiente que apenas pode (por nós) ser ficcionado, através de instrumentais turvos e enegrecidos. Há uma certa embriaguez que se faz sentir ao longo destas melodias, seja pelos elementos que se cruzam em cada faixa, seja pelos tempos marcados por compassos imprevisíveis, ou até pelos próprios samples que vão surgindo em zapping. Na arte de organizar a confusão, Alchemist é um dos mestres contemporâneos, e recruta constantemente parceiros incrivelmente capazes de aliar rimas às suas batidas, por forma a dar cor às zonas cinzentas por onde se move. 

Provas vivas deste cenário descrito (com recurso à imaginação potenciada pela obra) são os vídeos até agora produzidos, nomeadamente das faixas “Surf & Turf”, “Scrape The Bowl” e “Speed Demon Freestyle”. Com Vince Staples e Benny The Butcher a integrarem os dois primeiros em grande plano, este é um álbum cujas participações exigem dos candidatos aptidões totalmente alinhadas com os fins deste projecto. Não são participações pedidas, muito menos forçadas, mas sim merecidas, já que Boldy nada agora num tanque onde os restantes tubarões o vêem como tal.  

Assim, já com o preço do chá na China fixado, a viagem termina com outro custo, desta vez, a “Phone Bill”. A longa volta acaba onde começou, e “Carruth” reinicia o ciclo – “the moment all your tokens gone, no minutes on your phone”. Esta é uma viagem sem preço, por uma cidade que apresenta sempre a conta – “from all that you done done but down the line that could cost you a son”. E não há forma de não a pagar. 


pub

Últimos da categoria: Críticas

RBTV

Últimos artigos