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Publicado a: 24/07/2018

Blasph no Samsung Galaxy Live: smoothness acima de tudo

Publicado a: 24/07/2018

[TEXTO] Gonçalo Oliveira 

Poucos são os que conseguem vingar ou manter por perto um público constante sem aquela dose de trabalho e dedicação diária e regular. É preciso ter um dom para se manter no “game” mesmo que não se assuma a meta de fazer vida da música. As rotinas de Blasph são o seu próprio ginásio e pode ser mesmo esse o segredo para que se consiga apresentar sempre em forma. Com mais de uma década de ligação ao hip hop e apenas dois projectos editados em nome próprio — não esquecendo, claro, a sua prestação em OProcesso, Merchandise e Irmãos Metralha — o rapper da Margem Sul é detentor de um estilo único em Portugal, com um flow e versos “preguiçosos” que permitem à sua voz deslizar por entre as mais diversas batidas. Uma capacidade ímpar de nos prender aos headphones, sempre em busca de apanhar e compreender a rima mais descontraída e engraçada do seu arsenal. Na sexta-feira, os não-crentes vão ter a oportunidade de conferir as suas capacidades singulares no Samsung Galaxy Live.

Blasph editou Stracciatella & Braggadocio no final de 2017 e, em conversa com Ricardo Farinha, abordou o grau de dificuldade acrescido para quem não se pode dar ao luxo de colocar a música no topo das suas prioridades. Além do tempo desde a criação até ao lançamento ser consequentemente maior, existem ainda os obstáculos que vão surgindo no desenrolar de todo o processo, entre eles o “prazo de validade” dos instrumentais que lhe iam parar às mãos — porque “já tinham sido usados e não me tinha sido comunicado”, lembrou o rapper. “Tive de recorrer a outros produtores. Foi assim um atraso significativo para lançar este EP.”

 



Editado pela Mano A Mano, a qualidade do produto final do mais recente EP de Blasph em nada ficou aquém das expectativas. E se muitos achavam complicado superar um clássico como Frankie Dilúvio, Vol.1, a verdade é que Stracciatella & Braggadocio consegue ombrear bem com o seu antecessor ou até mesmo superá-lo em alguns aspectos — o número de faixas é o único campo em que, à primeira vista, perde para o disco de 2013.

Navegando pelos seus instrumentais — e contando com as tais peripécias na altura de definir as batidas que iriam ingressar no projecto — Stracciatella & Braggadocio não tem pontos fracos. Depois de ter pedido licença para rimar nos beats de Sam The Kid, Here’s Johnny, Skunk ou TH, Blasph contou na sua mais recente obra com dedadas e Lhast, Slow J, dB, Keso, Stereossauro, NERVE ou John Miller na produção.

Embora apresente uma postura séria — nos vídeos ou entrevistas — é-nos impossível não esboçar um sorriso quando é Blasph o dono do microfone. Sobre Frankie Dilúvio, Vol.1, Francisco Noronha destacava — num texto originalmente publicado no Rua de Baixo (2013) e recuperado pelo Rimas e Batidas, três anos depois — a “mestria na punchline (há coisas que só mesmo Blasph sabe cuspir com obscenidade e classe em doses iguais)”. Uma habilidade que transitou para Stracciatella & Braggadocio — “Flow tem pele de pêssego / nova textura, baixa estatura/ palmo e meio de pila dura / o sistema disse-me ‘não serves nem pra varredura'”.

 


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