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Publicado a: 18/11/2017

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[TEXTO] Moisés Regalado 

Fazer um álbum duplo sem comprometer a consistência nunca foi fácil. Talvez agora seja mais difícil que nunca. No entanto, Big K.R.I.T. conseguiu, da melhor maneira, conciliar dinâmicas e conceitos nos dois discos (11 faixas cada).

4eva Is a Mighty Long Time trata-se de uma divisão entre Big K.R.I.T. e Justin Scott, o seu verdadeiro nome, que assume a segunda metade do projecto. Aí se ouvem pensamentos pouco positivos ou efusivos, como se o artista fosse uma personagem com problemas próprios e com os quais Justin tem que lidar. Em “Price of Fame”, por exemplo, atira: “Paparazzi after my shows asking me questions/God fed up with my soul so ain’t no blessing/Happiness can’t be bought or sold, I learned my lesson”.

 



Não será coincidência que o mote desse segundo CD seja uma intro soul (“In my house, I don’t just always listen to rap. So it made sense for the Justin Scott side to start off without me rapping”, disse em entrevista à NPR Music), à qual sucede um momento em que confessa, “I got a whole lotta mixed messages in my songs/Am I wrong to feel this way?/Revolutionary although I’m free/I got me a lover but I still wanna cheat/I wanna be safe but it’s fuck the police/Don’t wanna be here but I’m too scared to leave”. O tom mantém-se em temas como “Keep the devil Off” ou “Drinking Sessions”.

O primeiro disco é para fãs de Big K.R.I.T. que dispensam novas indicações. Aqui há espaço para explorar e mostrar a técnica, recorrer ao egotrip e, como não podia deixar de ser, comemorar o sucesso. A produção é menos discreta, menos orgânica mas também mais determinante que a de Justin Scott. Recupera (mantém?) a sonoridade do south/midwest, alternando entre samples e sintetizadores que remetem para o auge de Bone Thugs e Twista ou para os instrumentais das primeiras Trap House. E não podia ter melhores convidados para ajudá-lo nesta missão: Bun B, T.I. ou Cee Lo, pilares representativos destas estéticas e das suas evoluções.

Para um MC que sobressaiu na mesma geração de Kendrick e J. Cole, não será este o clássico que faltava. Mas, apesar de estar longe daquilo que Kendrick já conseguiu, e depois de algumas dúvidas, Big K.R.I.T. encontra-se em clara evolução. E a comparação com J. Cole, ou com qualquer outro peso da indústria, continua a não ser descabida. Não será de ignorar que tudo isso contribua para as dúvidas que construíram este 4eva Is a Mighty Long Time. Ultrapassadas as hesitações, espera-se que K.R.I.T. volte brevemente com o verdadeiro grito de afirmação.

 


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