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Fotografia: pedropenha
Publicado a: 25/07/2022

Sopros de mudança.

Ben LaMar Gay na ZDB: de braços abertos

Fotografia: pedropenha
Publicado a: 25/07/2022

Em modo improviso ficaram os lisboetas quando se soube que a aguardada estreia de Ben LaMar Gay em Portugal seria antecipada para o aquário da Galeria Zé dos Bois. O momento aconteceu no passado dia 21 de Julho, um dia antes da sua passagem pelo gnration, em Braga.

A versatilidade de Ben LaMar Gay dificulta o processo de definição da sua musicalidade. É um artista de mão-cheia, que, para além de compositor, cantor e poeta é também um multi-instrumentista que “tem desafiado os limites das fronteiras da fusão que une jazz, hip-hop e música eletrónica”. A carreira de Gay é extensa e variada, grandes são os nomes com quem já colaborou e vários são os encantos que já convocou. E não será isto que faz de Ben LaMar Gay um feiticeiro?  

Ao lado de Will Faber (na guitarra e voz), de Matt Davis (na tuba e voz) e, ainda, Tommaso Moretti (na bateria), Gay pisou solo nacional pela primeira vez para a apresentação do seu disco Open Arms to Open Us, lançado em 2021 pela Internacional Anthem. Um disco místico que vive da memória e que encontra nas fundações rítmicas a identidade e a felicidade, procurando a liberdade enquanto se questiona sobre o futuro. Aquando do seu lançamento, em conversa com o Rimas e Batidas, Gay explicava: “Tu gravas alguma coisa e aquilo demora o seu tempo até sair cá para fora. Quando sai, já faz parte do passado. Tudo aquilo que possas encontrar num disco ou num livro… O mundo já deu uma quantas voltas entretanto [risos]. Por isso, podes dizer que um artista está constantemente a lidar tanto com o presente como com o futuro quando cria um disco.” 

Sentou-se e reorganizou os seus instrumentos de forma rítmica. Reordenou, tirou de um lado, meteu no outro, voltou a colocar no mesmo sítio. Lição nº1: tudo é som, tudo é ritmo. E assim começou a sua magia numa sala pequena e escura. Apesar da elevação do palco, não existem barreiras físicas entre os emissores e os receptores. O quarteto fundiu-se num só, levando o público a viajar com ele. Apesar da entrada em palco ter-se feito sem rodeios, Gay expressou a sua felicidade por estar presente, mesmo que o seu português não fosse perfeito — não havia muito para dizer, nós sabíamos o que ali estava a acontecer. Os cenários sonoros que Gay desenvolveu foram complexos, as suas camadas transportaram-nos para as profundezas dos nossos passados individuais, levaram-nos a explorar lugares que desconhecíamos estimulando a nossa criatividade para torná-los reais. Tal como ler um livro e imaginar o cenário a cada descrição do mesmo, a música de LaMar Gay permitiu-nos criar histórias sem vocabulário. Fossem os ritmos ancestrais que nos empurraram para o passado ou os fragmentos de um presente que inevitavelmente também fica para trás, foi ainda assim impossível não constatar que a esperança e a vontade de vincar a actualidade persistem em cada compasso. As suas fontes rítmicas são facilmente reconhecíveis e todas elas revelam partes da vida e percurso de Gay — algo que, sem sombra de dúvida, enriquece as suas composições com uma universalidade e uma compreensão do mundo e do espaço de forma particular.  

Ainda que a execução não tenha sido exímia, havendo também espaço para pequenas falhas que quebraram durante poucos segundos os encantos — bem recuperados pela entrega do quarteto –, a apresentação de Open Arms to Open Us deixou assente que Gay ainda tem muito para contar e que o seu jazz personalizado também resulta em salas pequenas e escuras.


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