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Texto: ReB Team
Fotografia: Gil Rego
Publicado a: 24/01/2024

Os miúdos estão (mesmo) bem.

Bela Noia: “Fazemos musicas alegres para pessoas tristes”

Texto: ReB Team
Fotografia: Gil Rego
Publicado a: 24/01/2024

2023 ficou marcado pelo aparecimento de Bela Noia, uma nova banda a operar dentro dos amplos domínios do indie português. O grupo nasceu da necessidade do músico viseense Pedro Veira alcançar uma formação que lhe permitisse dar corpo às canções que tinha criado para um disco, juntando-se assim a Gonçalo Alegre, Miguel Rodrigues e Leonardo Outeiro para levar a cabo esta missão.

Em Abril passado, “Para Quê Voltar” foi o tema escolhido para servir de primeiro single do projecto, depois sucedido por “Paranóia” e “Canção da Lua” na lista de avanços de um disco de estreia, Os Miúdos Estão Bem, cuja edição aconteceu a 15 de Setembro. Entre temáticas como o amor ou a transição para a vida adulta, a Bela Noia faz-se socorrer de um rock alternativo e uma certa sensibilidade poética para erguer as 6 faixas contidas na entrada inaugural da sua discografia. “Já Não Tenho Chão”, “No Mesmo Lugar” e “Tu Foste o Sol” completam o leque desta primeira fornada de composições originais e também contam com o respectivo acompanhamento visual no canal YouTube da banda, reforçando a importância que o vídeo e a fotografia têm para Pedro Veira, conforme revelou numa troca de impressões com o Rimas e Batidas, que poderão ler já de seguida.

Depois de terem passado pelo Bang Venue, em Torres Vedras, Bela Noia continua na estrada neste arranque de 2024 para apresentar ao vivo o seu primeiro trabalho. As próximas paragens são nos Maus Hábitos do Porto e de Vila Real, dias 26 e 27 de Janeiro, respectivamente, seguindo-se Lisboa (10 de Fevereiro nas Honey Sessions) e Famalicão (22 de Março na Casa do Artista Amador).



Falem-me dos primeiros passos de Bela Noia. Como e quando é que surgiu a ideia de criar esta banda?

A Bela Noia nasce depois do disco estar pronto. No início havia apenas uma vontade de concretizar alguns versos e melodias que tinha escrito. Acabei por conhecer o Gonçalo Alegre e mostrei-lhe algumas canções/ ideias que tinha guardadas nuns caderninhos. Por algum motivo ele achou que as canções não eram horríveis e começámos a produzi-las. Não sabia muito bem o que estávamos a fazer, e na realidade não havia um compromisso para um projeto em específico. O objetivo era terminar as canções e ter um disco. Durante este processo juntou-se o Miguel Rodrigues que foi a  primeira opção para tocar as percussões do disco. Durante o processo de mistura e masterização, que ficou a cargo do fofo do Nuxo Espinheira, a gente começou a falar de tocar o disco ao vivo e como seria. O Gongon [Gonçalo Alegre] assumia o baixo e o Miguel era a escolha óbvia para a bateria. Faltava-nos um guitarrista… e através da circunstância conheci o Leo, começámos por estar juntos frequentemente em convívios e outras situações e o convite acabou por ser feito. Facto interessante: o Leo ainda não aceitou fazer parte da Bela Noia… simplesmente vai aparecendo nas fotos, nos ensaios, nos concertos… e até já faz arranjos para as canções novas. Espero que um dia ele aceite participar! Reunidas estas condições, faltava-nos o nome apenas. Foi um bocado obra do acaso, mas acho que foi a melhor maneira de nascer.

Este é o vosso primeiro projecto musical ou algum dos membros do grupo já tinha alguma experiência anterior nesta área? E em que circunstância acabaram por se conhecer uns aos outros?

O único forasteiro sou eu… Eles estudaram música e trabalham na área, o Miguel toca com vários artistas, o Gongon é produtor, tem os Estúdios da Paz e faz criação para peças de teatro entre outras coisas, e o mesmo se passa com o Leo, que faz composição para bandas sonoras, peças de teatro, arranjos. Eles são músicos muito experientes e eu sei tocar quatro acordes, a coisa funciona muito bem, diria. O Gongon conheci-o através de Galo Cant’às Duas pois passei uma temporada a fotografá-los. O Miguel já tinha falado comigo depois de um concerto que eu tinha dado com outro projeto que tinha, gostei imediatamente dele. O Leo foi a noite que nos uniu.

Tiveram em mente alguma referência na hora de criar este projecto? Em que consiste a dieta musical dos diferentes elementos da banda e quais os pontos em comum que conseguem detectar nas playlists uns dos outros?

Não nos quisemos amarrar a nada em específico. Sinto que Bela Noia vai buscar muita coisa a todo o lado. Tenho as minhas referências na composição e escrita de canções e talvez isso seja mais evidente. O Miguel e o Leo vêm do jazz, o que torna a coisa muito mais interessante. As ideias deles são muito boas sobre as canções que proponho e mesmo não partilhando do mesmo gosto, conseguimos encontrar pontes interessantes para os temas, especialmente quando os tocamos ao vivo. O Gongon é a pessoa que melhor me lê. Temos gostos mais parecidos e gosto de compor com ele, por conseguirmos chegar onde queremos com mais facilidade. 

Em 2023 apresentaram-se com Os Miúdos Estão Bem. A julgar pelo tom das diferentes canções, há alguma ironia na escolha do título para o disco? Que mensagem procuraram transmitir?

Na realidade os miúdos não estão assim tão bem. Escrevi este disco estava eu em plena fase de transição. De repente era um adulto com responsabilidades e coisas a fazer. Quis expor os meus medos e pensamentos sobre o assunto. A brincadeira com o nome reflete sobre a impreparação com que nos lançam ao mundo. Temos de encarar as coisas ironicamente. A verdade é que estamos todos no mesmo barco e as coisas tem tendência para oscilar imenso… enfim, os miúdos estão bem… pelo menos eu estou, e vocês?

Além desse primeiro trabalho como um todo, ainda elevaram todas as 6 faixa ao estatuto de single, com direito a videoclipes no YouTube. Foi fácil executar tudo isto ao longo de apenas um ano? E agora, olhando para trás, que balanço fazem?

Focamo-nos nos três primeiros singles para entregar um vídeo mais dinâmico. Os outros funcionam mais como suporte visual às canções. O vídeo e a fotografia são uma parte da minha vida e desde o início que queria dar a conhecer esse lado. Servi-me deste disco para o fazer. Gostava de ter tido mais tempo e separar a produção das canções dos vídeos, talvez a coisa tivesse fluido de maneira diferente. Acima de tudo estou super satisfeito, mas é a velha história do “e se…?”  Acho que os vídeos mostram uma parte importante daquilo que nós fomos durante Os Miúdos Estão Bem, e isso é o mais belo.

Falando da música propriamente dita, em que circunstâncias é que este disco foi criado?

O disco surgiu-me ao acaso. De repente apercebi-me que estava a escrever sobre um tema em específico. Surgiram imensas canções que não fizeram a playlist final que vocês conhecem e que provavelmente não irão ver a luz do dia. Faz parte do processo. Na altura tinha um conjunto de canções que queria ver feitas. Perceber o potencial destas e como poderiam soar. Eu e o Gongon fomos para estúdio e íamos produzindo e gravando todos os dias praticamente. Passado um mês ou dois tínhamos lapidado estas canções e daí surgiram Os Miúdos.

É fácil rotular-vos enquanto uma nova banda do indie português, mas é um conceito cada vez mais vago nos dias que correm. De que forma é que vocês definem a sonoridade que alcançaram com Os Miúdos Estão Bem?

Não sei bem em que caixa colocar Bela Noia, não é uma questão assim tão importante na realidade. Concordo com a ideia de sermos uma banda do indie portugûes e agrada-me, pois consumo imensa música do género. Gosto de dizer que fazemos musicas alegres para pessoas tristes… pode ser um género musical dentro do indie lusitano. Se por acaso nos quiserem pôr numa caixa, deixem-na aberta para podermos andar a visitar as outras. 

Arrancam 2024 com uma digressão nacional e já se apresentaram ao vivo no Bang Venue, em Torres Vedras. Como foi a recepção do público ao vosso espectáculo?

Sentimos calor, precisávamos de estar com o público e ouvi-los. A receção foi incrível, quer da equipa do Bang quer do público. A malta do Bang é muito querida e fez-nos sentir em casa tão longe de Viseu. Sentimos muito carinho por esse dia e queremos voltar. 

Vossa próxima paragem é o Maus Hábitos. O que é que nos podem antecipar dessa data?

Vai ser a nossa primeira vez no Porto. É uma cidade pela qual nutrimos imenso carinho. Eu, pessoalmente, tirei mestrado no Porto e é sem dúvida um privilégio enorme pisar os Maus e voltar ao Porto, especialmente depois de ter visto tantos concertos do outro lado. É uma sensação fantástica quando revertemos os papeis. Este concerto promete ser uma viagem pelos Miúdos com músicas novas à mistura. Queremos mostrar o que andamos a fazer e o que vai ser o nosso futuro. 


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