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Fotografia: Felipe Salvego
Publicado a: 02/11/2021

Um grande salto para a realidade.

Bebé: “Eu sou muito a pessoa que só vai, de forma natural. Mas agora sei para onde quero ir e o que quero fazer”

Fotografia: Felipe Salvego
Publicado a: 02/11/2021

Bebé é de uma doçura e sagacidade impressionantes. Aos 17 anos, a cantora e compositora de Piracicaba ainda está a terminar o terceiro ano de escola (o pré-universidade) e diz que não está nada satisfeita com as aulas online. No meio disto, lançou o seu primeiro álbum em Julho deste ano. O projecto, que tem o seu nome, foi contemplado pelo edital ProAC, um programa criado pelo estado de São Paulo para apoiar a criação artística.

As camadas do álbum passeiam-se entre o r&b e o jazz despretensioso, como se tivesse sido feito para ouvi-lo ao ar livre, assumindo uma faceta indie-pop (ao estilo brasileiro) ao longo das faixas. A obra é o resultado das expressões artísticas de Bebé, que iniciou a sua carreira em criança e agora se redescobre como mulher, compositora e tudo o mais que quiser. A produção musical de Sérgio Machado, que tem trabalhado com nomes como Racionais MC’s, Milton Nascimento e Liniker, surge como a amarração de tudo o que a artista procura transmitir.

A somar às trocas de Bebé com Bruno Rocha, que também dirigiu o clipe de “Saltos de Realidade”, e às participações especiais de Ana Frango Elétrico, Fabríccio, Vitor Milagres e Lello Bezerra, a parceria entre os selos Bastet e Ori Records abre os caminhos do projecto. Em entrevista ao Rimas e Batidas, a artista conta de onde vêm as suas inspirações, o seu processo de auto-conhecimento, maturidade musical e muito mais.



Oi, Bebé, tô super animada de estar falando com você. Lembro de você pequenininha ainda no The Voice Kids. O tempo voa. Quem é a Bebé hoje? 

Bebé, na verdade, é uma menininha que acabou se tornando a Bebé [risos]. Quando eu era pequenininha, eu não sabia pronunciar meu nome, Isabela, então as pessoas me chamavam de Bebé e ela acabou se tornando uma cantora. Meu ambiente familiar é de músicos e ainda existem várias Bebés dentro de mim. Sou essa diversidade de mim mesma como cantora, como compositora, intérprete de mim mesma! 

Você iniciou sua carreira muito nova. A música te acompanhou em todas as transformações vividas até então e com certeza foram muitas. Como sua visão de mundo e da música mudaram durante esse processo? 

Eu sinto que o que eu vivenciei quando era menor me deu muita força pra suportar muita coisa, principalmente até antes da pandemia. Meu ambiente familiar é muito tranquilo, mesmo eu sendo eu pequena, a visibilidade que eu tive foi muito tranquila, do tipo, “é só um momento aqui, sem expectativas e ’tá tudo bem”, sabe? Sempre fui levando como brincadeira. Hoje em dia, não. Eu me vejo como uma profissional porque esse é mesmo meu trabalho. A vivência que eu tive de acompanhar a produção me ajudou muito, apesar de em casa ser todo mundo músico, essa vivência me fez perceber que realmente é um trabalho. A partir desse álbum ligou uma chavinha. Eu tinha me planejado para me lançar como compositora mas não numa pandemia, né? Também não tinha muitas expectativas. Estou fluindo, quero amadurecer cada vez mais… tô bem feliz com isso. Eu sou muito a pessoa que só vai, de forma natural. Mas agora consigo enxergar isso como um trampo e sei para onde quero ir, o que quero fazer.

E fica bem claro ao observar isso na construção do álbum. Como foi a decisão de lançar um álbum na pandemia? Como foi o processo criativo?

Na verdade era para ser um EP e surgiu antes da pandemia junto com o Sérgio Machado. A gente se juntou assim, sabe? Ele foi surgindo através dos encontros e foi um sopro. Aí veio a pandemia. Eu acabei ganhando o edital ProAC com uma música e pronto, agora eu vou lançar meu álbum [risos]! Como foi o meu primeiro contacto com a composição, tipo “agora é o meu primeiro disco autoral”, eu tive muito suporte de pessoas próximas que conseguiram me fazer crescer nesse ambiente. Meu irmão me ajudou muito com as letras, com o que eu queria falar, o próprio Sérgio Machado me trouxe muitas coisas, e tudo isso através do online. Tem o Bruno, director do clipe de “Saltos”, que também me ajudou com muitas letras. Foi uma parceria bem massa assim por WhatsApp mesmo. Foi esse sopro de experimentações. A gente não tinha nada concretizado e acabou indo. A pandemia me deu tempo, tipo “você não vai fazer nada mesmo, foca nisso”. Sem expectativas de fazer show, de sair em algum lugar e acabou que foi bem legal a repercussão.

Imagino que o fato de ser seu primeiro álbum, mesmo que durante uma pandemia, ajudou a acalmar os ânimos por não haver como ficar comparando os trabalhos.

Com certeza! Foi bem positivo por ser o meu primeiro contacto com o lançamento porque eu vi como é uma loucura, principalmente sendo artista independente. São vários os aprendizados. Várias coisas aconteceram assim e eu aprendi muito, ao mesmo tempo que estava ali só indo, estava sem expectativa e pude ver o corre que é um lançamento, sabe? Eu imagino para os artistas que já lançaram álbuns antes a dúvida gigantesca que foi, mas ainda bem que estão lançando, né? A Liniker, a Tássia Reis, a Duda Beat…



E a gente agradece, né? Como está sendo acompanhar a repercussão e o desenrolar do seu álbum?

Durante o processo, eu imaginava muita coisa, sim, vendo os fragmentos achava tudo muito legal, ficava pensando em como ia ser desconecta e aí, por exemplo, junto com a capa, com o que é a Bebé, isso foi junto com “Saltos”. Por ser essa coisa muito fluída e até por eu ter passado alguns perrengues, acabou trazendo para mim uma sensação de “não sei o que vai ser” e, agora que vejo, enxergo toda a história, sabe? Até para diferenciar ordem das músicas [risos] e ainda bem que eu tive pessoas muito legais do meu lado. 

Você fala com muito carinho da sua família e é nítido que ela foi fundamental na construção da sua identidade musical. Como é sua relação com eles? 

Minha relação com a família é bem tranquila, eu cresci dentro de teatros, minha mãe produzindo, meu pai é violonista clássico… Nem teve “o incentivo”, quando eu vi eu já ‘tava lá cantando! Eu comecei cantando música infantil brasileira. Minha mãe percebeu que a cena do infantil estava precisando de um alimento, sabe? Aí a gente acabou pegando uma composições de Gilberto Gil, Caetano… composições tranquilas, que remetem à infância. Montamos um repertório e aí foi assim, chamava “Minha Brincadeira Preferida é Cantar”, acabei fazendo até Virada Cultural com 8 anos! Chegou um momento em que eu falei pra eles: “olha, eu não quero mais cantar música infantil, eu quero cantar jazz”. Meu pai e meu irmão cantavam num clube e eu queria fazer isso. Agora eu já tô em outra [risos]. Tô mais no indie… A questão da família tem tudo a ver com isso, ter essa segurança pra testar, pra experimentar, sabe?

Essa segurança é muito importante. Especialmente para nós, mulheres, quando somos mais novas, existe muita pressão para acertarmos tudo de primeira, não tem muito espaço para se descobrir e errar. Isso te abalou em algum momento?

Isso me afectou em alguns momentos sim, de uma forma muito estrutural, mas sim. Dentro da construção do álbum não, porque o Sérgio inclusive me trouxe para a produção, uma área que eu nunca nem cheguei a acreditar que eu estaria. Pensei que ia ser só cantora e pronto. Tem essa ideia na música, que mulher não pode mexer nas máquinas, que isso é coisa de homem. A gente já cresce achando isso muito pela falta de referência, né? A gente se desacredita muito. É uma doideira. A gente percebe muita coisa nas entrelinhas, mudamos até o jeito de falar e tal. A gente fica muito presa na avaliação dos outros.

E quais são seus planos agora que a pandemia está mais controlada? 

Eu estou mais animada nesse final de ano, com um pouco de medo, mas mais feliz sabe? Estou ansiosa para apresentar o álbum ao vivo. Já estou trabalhando no segundo. Tenho alguns fragmentos, não parei de compor e quero me movimentar de forma segura, quando todo mundo estiver seguro, não importa o tempo que isso demore. Quero encontrar todo mundo que eu troquei ideia virtualmente, sabe, a internet me aproximou de muita gente legal e eu quero muito encontrar essas pessoas, sair das telas… 


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