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Publicado a: 25/10/2017

Beautify Junkyards anunciam novo álbum na britânica Ghost Box

Publicado a: 25/10/2017

[ENTREVISTA] Rui Miguel Abreu [FOTO] Lois Gray

Em 2016, os Beautify Junkyards cumpriram um natural desígnio quando assinaram o volume 8 da série Other Voices da britânica Ghost Box  inscrevendo dessa forma o seu nome ao lado de o de outras notáveis entidades como Jon Brooks, Sean O’Hagan, Listening Center, Steve Moore, Pye Corner Audio ou Cavern of Anti Matter. A etiqueta de Julian House e Jim Jupp afirmou-se como principal farol da cena hauntológica, combinando de forma sempre desafiante electrónica, memória catódica, música concreta, folk e uma certa dose de psicadelismo em projectos com assinaturas como Belbury Poly, Focus Group ou Advisory Circles.

Os Beautify Junkyards, ideia que começou como uma deriva dos Hipnótica, mas que se afirmou logo com a estreia homónima em 2013 como tendo espaço para construir o seu próprio futuro, têm percorrido avenidas estéticas semelhantes, partindo do lado mais psicadélico da folk para se irem crescentemente aproximando da electrónica, das experiências com field recordings e da mesma memória presa ao passado televisivo que os leva a misturar ecos de bandas sonoras com as hábeis canções que sabem construir e que expuseram de forma assertiva em The Beast Shouted Love, o álbum de 2015 que já soava como uma possível entrada no catálogo da Ghost Box, incluindo até uma assumida influência de projectos como Stereolab ou Broadcast, bases estruturantes da estética erguida pela Ghost Box.

O convite para a participação na série de singles Other Voices evoluiu para um natural envolvimento com o catálogo da Ghost Box através da edição de um álbum, anunciado agora para o primeiro trimestre de 2018, pretexto mais do que suficiente para uma conversa com João Branco, líder e ideólogo do projecto a que agora se junta também Helena Espvall, a violoncelista dos Espers que já há alguns anos reside em Lisboa.

 


Acaba de ser anunciado novo álbum de Beautify Junkyards na Ghost Box. Já antes tinha saído um single: como nasceu esta associação?

Tudo se iniciou quando lhes enviámos uma cópia do nosso último álbum The Beast Shouted Love. Já tínhamos lido em algumas entrevistas que eles não seleccionam as bandas que editam através de demos que recebam, isso por terem um universo muito particular, acabando sempre por trabalhar com um núcleo de bandas/projectos muito próximos, mas mesmo assim achámos que havia uma relação forte e efectivamente pouco tempo depois recebemos uma resposta em que nos teciam grandes elogios ao álbum e indicando que havia interesse que lançássemos um single em Other Voices, série em que exploram outras abordagens com bandas e músicos convidados. O single correu muito bem, com boas críticas em revistas como a Shindig e a Wire e logo surgiu o convite para trabalharmos num novo álbum, o que temos estado a fazer desde Outubro do ano passado.

O que significa para vocês a estética muito particular da Ghost Box?

Tanto a componente estética com a musical, contém elementos que nos interessam muito explorar. Um pouco depois de lançarmos o nosso primeiro álbum, maioritariamente composto por versões de músicas folk, li o Electric Eden do Rob Young e fiquei fascinado com as pontes que estabelece entre as raízes da folk, as lendas, e as ideias da hauntologia de revisitar esse passado e reinterpretá-lo com as ferramentas que temos hoje disponíveis, adicionando a isso tudo memórias de da nossa infância, de séries televisivas e as suas bandas sonoras. No livro, há um capítulo inteiro dedicado a essas pontes quânticas com o passado e suas projecções para criar possíveis futuros, artistas como Burial, o Caretaker e sobretudo as bandas da Ghost Box (Belbury Poly, Advisory Circle, Focus Group, etc.). Acho que nesta vastidão de elementos multi-temporais se encontra energia criativa com imensas possibilidades, desde a música dos pioneiros da electrónica, passando pela Library Music, bandas sonoras do cinema europeu dos anos 60, 70 e 80 e claro, as raízes folk.

 



O que se pode esperar do novo álbum? De que forma se relaciona com a vossa discografia restante?

Acho que no novo álbum exploramos alguns caminhos que ainda não tínhamos desbravado, não no sentido de ruptura mas sim do aprofundar de algumas linguagens em que tínhamos somente “arranhado a superfície”. Será um álbum com maior amplitude rítmica e melódica e em que adicionamos novos instrumentos (violoncelo, cítara e uma variedade de novos “brinquedos” electrónicos) aos que tradicionalmente temos vindo a utilizar.

Vão ter artwork do Julian House? Como trabalharam em conjunto com ele?

Sim, o artwork está a cargo do Julian House, tem sido um processo bastante colectivo e progressivo. Enviámos ideias visuais e textos que nos tenham servido como fonte de inspiração e ele vai interpretando esses sinais e reagindo com ideias e conceitos que vai partilhando connosco. Ainda estamos num estágio embrionário, mas têm surgido ideias muito interessantes e estamos entusiasmados com o rumo que está a tomar.

A Ghost Box partiu de uma ideia de “assombração” pelos fantasmas do passado, sobretudo os que habitam a memória e se ligam a um património televisivo especifico. Que fantasmas assombram os Beautify Junkyards? Amigos de Gaspar?…

Sim, um dos elementos estruturantes da estética da Ghost Box são os filmes e as séries inglesas fantásticas a que eles tiveram a sorte de poder assistir na TV nos anos 70, tais como Owl Service, The Changes, Red Shift, The Stone Tapes, entre outros. Nós por cá tivemos uma realidade diferente e sendo a banda constituída por elementos de gerações diferentes, de certeza que há referências distintas em relação a esse passado, por exemplo, no meu caso, lembro-me do Espaço 1999, da misteriosa Pequenos Vagabundos e de uma série de agentes secretos chamada Pesquisa, mas não sei se não será fruto da imaginação, pois de todas as pessoas a quem falo nenhuma se lembra e não encontro referências em lugar nenhum.

 



Podem indicar-nos dois ou tres títulos da discografia da Ghost Box de que gostem particularmente?

Belbury Poly: Owl´s Map; Focus Group: Karousel; e Roj: The transactional dharma of Roj.

Esperam vir a tocar em Inglaterra por causa desta edição?

Sim, é um dos nossos objectivos apresentar o álbum em Inglaterra, é algo em que iremos trabalhar nos próximos tempos.

 


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